Mobilidade urbana

Pelotas tem um carro para cada dois habitantes

Em dez anos, a frota de veículos aumentou 40,53%, sendo que no mesmo período, pela prévia do IBGE, a população pelotense encolheu 1,3%

Por Cíntia Piegas
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Em dez anos, a frota de veículos em Pelotas aumentou 34,51%, enquanto no mesmo período a população encolheu 1,3%. Só com a soma de automóveis e utilitários é possível estabelecer que há um carro para cada duas pessoas. Se o período analisado for dos últimos 15 anos, esse percentual aumenta para 92,51% (veja quadro). Os dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) são alarmantes e apontam para uma realidade de caos já constatada nas ruas da cidade, principalmente em horários de pico, quando engarrafamentos parecem tirar a paciência dos motoristas. Especialistas dizem que a tendência é o aumento do número de acidentes e a piora na fluidez do trânsito. Em contrapartida, a Prefeitura garante que vem acompanhando esse cenário e investe em mobilidade urbana.

Para a professora dos cursos de Transporte Terrestre e de Hotelaria da UFPel, Raquel Holz, um dos fatores que leva ao crescimento da frota dos veículos em Pelotas está na situação do transporte coletivo na cidade. “Hoje em dia, o transporte público não consegue atender plenamente a demanda e a maioria da frota não possui a qualidade que a população merece. E este é um meio de transporte importantíssimo, quando levamos em conta que os habitantes de Pelotas, principalmente os de baixa renda, necessitam do ônibus para seus deslocamentos diários, sendo quase impossível o uso de um uber ou táxi todos os dias”, comentou.

O diretor-superintendente da Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) do Rio Grande do Sul, Francisco Hörbe, lembra do grande cenário econômico mundial na década passada, em 2013, 2014 e 2015, quando, para ajudar no crescimento da frota, houve redução dos impostos automotores. Mas é enfático ao dizer que a principal causa está nos modelos de transporte coletivo em geral, que são ineficientes por não atenderem a real necessidade da população. “Faltam projetos estruturais para melhorar o desempenho e eficiência do sistema de transporte público. Isso leva, cada vez mais, os passageiros a desistirem do transporte, buscando outros modos, inclusive o carro ou aplicativos”, observou Hörbe ao lembrar que a chegada do transporte por aplicativos, nos anos 2015 e 2016, injetou milhares de carros nos sistemas viários. Nesse período, a média de crescimento foi de cinco mil veículos em Pelotas. “A consequência é que cada vez mais o Estado e municípios terão que subsidiar os sistemas de transporte, caso não seja invertida a lógica atual de transporte público.”

A professora da UFPel ainda cita um outro agravante: a pandemia. “A Covid-19 afastou mais ainda os usuários de ônibus, pelo receio do contágio. As pessoas ainda estão com medo do contato físico e da alta rotatividade de dentro dos veículos.” Raquel explica que até a década de 2000 as pessoas ainda tinham o grande sonho de ter seu próprio automóvel. Era uma questão de status e o governo federal facilitou bastante o crédito para a aquisição, tanto de automóveis como de motocicletas. “Mas percebe-se atualmente o aumento do uso de alternativas para deslocamento, como os aplicativos, o próprio táxi, o uso da bicicleta e até o mesmo o caminhar, quando a distância permite”, comentou.

Consequências
Os eventuais problemas causados por esse grande contingente de veículos na cidade, na avaliação da especialista em Transporte Terrestre, são os acidentes de trânsito, a poluição do meio ambiente e os congestionamentos. “Sobre estes fatores, são necessários estudos mais aprofundados para verificar a situação da cidade nos dias de hoje. A Prefeitura de Pelotas e as instituições de ensino superior têm um papel fundamental na realização destes estudos”, considerou. O secretário de Transporte e Trânsito (STT), Flávio Al-Alam, garante que a Prefeitura faz o seu papel.

O titular da pasta admite que o aumento da frota implica em locais com maior dificuldade de deslocamento, preferencialmente entre 17h e 19h, com alguns pontos mais congestionados. Al-Alam cita a rotatória da República do Líbano com Ildefonso Simões e Salgado Filho. Em breve, o local passará por requalificação e colocação de semáforos para agilizar e reduzir o tempo de passagem por este local. “A rotatória da Bento Gonçalves com Juscelino Kubitscheck de Oliveira deve melhorar a partir da obra que faremos da Ferreira Viana”, adiantou. Também está na lista do secretário modificações na rotatória da avenida Fernando Osório com a Salgado Filho. “Eu entendo que estes três pontos são hoje os de maiores gargalos no trânsito e são na maioria no horário da tardinha do dia”.

Das melhorias na mobilidade urbana já executadas, Flávio Al-Alam citou as duplicações e requalificações das principais avenidas de acesso aos bairros e a pavimentação de ruas para dar conforto e trafegabilidade. “Várias ruas importantes, como Osório e Deodoro foram requalificadas com corredores de ônibus. Reformulamos neste período 70% de nosso parque semafórico e investimos muito em segurança viária para pedestres e ciclistas, chegando a 70 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas”, exemplificou. A reportagem não obteve informações sobre o número de acidentes dos últimos anos em função do ponto facultativo desta sexta-feira.

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