Morte violenta

Contradições em depoimento apontam companheiro de Gabrielle Guma como autor do feminicídio

Versão do suspeito, preso na noite de segunda-feira, ia de encontro às informações obtidas na investigação

Atualizada às 19h05

Na noite de segunda-feira, foi preso o suspeito da morte de Gabriele Guma, de 24 anos. Ela faleceu na quinta-feira (19), quando foi levada - já sem vida - até a UPA do balneário Cassino pelo próprio, que era seu companheiro.

Ele se apresentou com seus advogados por volta das 21h na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), de Rio Grande, após ser procurado por vários locais. A prisão temporária foi solicitada pela delegada Alexandra Sosa, na sexta-feira (20) e deferida pela justiça no sábado (21).

Até a prisão do suspeito, foram horas de investigação e perícia, inclusive na casa onde os dois moravam. A comunidade, enquanto isso, pressionava a polícia por resultados. No entanto, a delegada Alexandra ressaltou que não havia como prendê-lo na quinta-feira, pois não havia elementos suficientes que comprovassem a autoria do feminicídio.

“Na quinta-feira nos ligaram da UPA, relatando que o companheiro de Gabrielle, chegou com ela já sem vida, colocada no banco traseiro do carro, em razão de já apresentar estado de rigidez”, declarou a policial. Imediatamente após o fato, ele estava custodiado pela Brigada Militar após levar o corpo até a UPA. O suspeito foi chamado para um depoimento, mas a princípio, apenas como testemunha e não como suspeito. “Ele deu a entender que havia sido morte natural, que ela teria passado mal, caído da cama e batido com o rosto no chão.”

Quando a testemunha se transforma em suspeito

A delegada Alexandra Sosa salientou que o ponto de partida foi verificar com a perita a informação preliminar do tempo da morte. Conforme o depoimento do companheiro da vítima, ele estava com ela na noite de quarta-feira (18), até à 1h20min da madrugada de quinta, quando saiu para trabalhar, o que foi confirmado pelas câmeras de monitoramento. Disse ainda que voltou perto das 8h e às 9h a levou para a UPA, tendo a encontrado de bruços no chão.

Mas conforme a informação da perita, quando Gabrielle foi levada até a UPA já fazia mais de 12 horas que estava morta, pois os livores (mancha esbranquiçada ou escura num cadáver correspondendo à falta ou à acumulação de sangue na parte inferior do corpo) estavam fixos na parte de trás do corpo, ou seja, e ela estava de costas e não de bruços como ele disse que tinha encontrado ela.

“Foram as contradições nas declarações dele que nos levaram a apurar que ele era o autor, pois ela não poderia estar de bruços e sim de costas. A outra contradição foi o tempo da morte. Em princípio, a única pessoas a estar com ela era o companheiro, fato comprovado pelas câmeras de monitoramento, onde ninguém mais entrou na casa ou esteve nas proximidades, o que nos levou a representar pela prisão temporária”, ressaltou a policial.

O instrumento usado no golpe

O instrumento com que ela foi atingida ainda não foi localizado. A delegada também frisou que, ao contrário do que foi comentado amplamente em redes sociais, ela não foi espancada. “Ela morreu em razão de um único golpe, porém muito forte, de alguém com uma força muito superior a dela. O golpe atingiu a face, no lado esquerdo, causando uma fratura na base do crânio, quebrando inclusive os dentes e causando a morte”, revelou Alexandra Sosa.

Havia também rumores de que ele havia dado banho em Gabrielle antes de levá-la até a UPA, o que foi confirmado pela responsável pelas investigações. “Ela chegou muito molhada, principalmente na parte superior do corpo. Também deu para perceber que alguém limpou o sangue no rosto dela. A médica que a atendeu garantiu que o banho era recente”, complementou.

Com todos esses indícios, por que não foi realizado o flagrante? A delegada Alexandra observa que não é tão simples. “É muito complexo, principalmente porque não havia nenhuma ocorrência de violência registrada e não havia nenhuma testemunha que pudesse afirmar que eles viviam brigando ou que ela reclamava de agressões”, disse ela.

Para tanto, a polícia ouviu uma amiga de Gabrielle. Ela afirmou que eles estavam enfrentando problemas no relacionamento, mas que a vítima nunca havia se queixado de agressões. “Então não tínhamos este histórico e precisávamos apurar as declarações de que ele havia saído para o trabalho de madrugada e alguém poderia ter realmente entrado na casa, o que foi descartado”, apontou.

Feminicídio

Segundo a policial, a tranquilidade apresentada pelo suspeito e a tentativa de convencer os investigadores de que a morte teria sido de forma natural fez com que o crime não fosse tratado como feminicídio no começo. “Sabíamos que não. Mas se disséssemos que havia sido feminicídio, o crime se resumiria a uma única pessoa, no caso o suspeito, e ele poderia tentar fugir de forma que não conseguiríamos encontrar facilmente”, resumiu a delegada.

“Mesmo sabendo que a morte havia ocorrido antes da saída dele para o trabalho à 1h20min, o que a perita já havia afirmado, eu sabia que teríamos que esgotar todas as possibilidades. Olhamos as imagens e não havia movimento nenhum a não ser a saída dele no horário para o trabalho. A ideia era descartar que não tivesse entrado ninguém na casa. E conseguimos reunir todos os elementos de prova em 24 horas”, complementou.


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