Exclusiva

Rogério Zimmermann: "E o Brasil daqui dois, cinco, dez anos? Está se programando?"

Em visita ao DP, técnico xavante propõe reflexão sobre o futuro do clube e fala de temas como imediatismo, renovações, duelo contra o Atlético Mineiro e Série D

Foto: Jô Folha - DP - Segundo RZ, os salários estão em dia neste início de temporada e, em geral, os atletas cujo vínculo se encerra no dia 15 querem permanecer

Prestes a comandar o Brasil em dois jogos de peso contra o Atlético Mineiro, Rogério Zimmermann faz questão de falar da projeção do futuro do clube que tanto conhece. Em entrevista exclusiva ao Diário Popular, concedida durante visita de quase uma hora ao Jornal na manhã desta segunda-feira (3), o treinador do Xavante mencionou esse e diversos outros temas. 

Ao longo da conversa com a reportagem, RZ mencionou os quase seis meses passados desde o retorno e enfatizou a necessidade de planejar os próximos passos de forma menos imediatista. Segundo Zimmermann, os salários estão em dia e, em geral, os atletas cujo contrato se encerra no dia 15 querem permanecer no Bento Freitas.

O técnico também abordou temas mais voltados ao presente, como a preparação para encarar o Galo, pela terceira fase da Copa do Brasil, e a realidade da Série D do Campeonato Brasileiro. Confira a entrevista.

DIÁRIO POPULAR: Estão se fechando seis meses do anúncio da tua volta. Claro que durante a negociação tu fez algumas demandas. Qual é a avaliação do clube estruturalmente, administrativamente, de tudo que envolve o Brasil nesse tempo?

ROGÉRIO ZIMMERMANN: A ideia de eu voltar é justamente tentar dar um fôlego em termos de tranquilidade de resultados pro pessoal pensar um pouquinho pra futuro. Não sei se essa questão financeira atrapalha. Dar um fôlego é o clube poder se planejar, o que quer nos próximos dois, três anos. Entrou uma nova direção. É uma coisa que a gente sempre ficou batendo: precisamos garantir calendário brasileiro pro ano que vem. Se o Brasil vai jogar uma competição nacional depois do Gauchão, seja a Série D ou a Série C. Mas vai jogar. Tu tem calendário. É ter tranquilidade de ter resultado de campo. Tinha uma tendência de, depois de dois rebaixamentos, sofrer mais no Gauchão. E se conseguiu [permanecer], mas é difícil. O Brasil ainda está muito preocupado com o resultado imediato. A gente fala: “ah, o Brasil não classificou pra Copa do Brasil do ano que vem”. Parece que a Copa do Brasil é o máximo. Tipo assim: o Brasil não classificou ano passado, com o Glória. “Ah, a não classificação deu todos os problemas no clube”. A gente sabe que não. Agora o Brasil conseguiu passar duas fases. Então nós temos que cuidar que o planejamento de um clube é estar ou não na Copa do Brasil. Eu vejo futebol como muito mais do que isso. Vejo futebol como você se organizar, se planejar, independente do resultado de campo. Porque o resultado uma hora tu tem e na outra não. O clube tem que se planejar de uma maneira que ele sustente quando não está bem e, quando está bem, aproveite. Eu ainda preciso entender o que o Brasil está planejando pra futuro. Ainda vejo muito a mesma coisa que ocorria. Em uma semana, o futebol, o campo, colocou R$ 3 milhões. De quarta-feira lá no Maranhão pra terça-feira. E o clube tem dificuldade ainda. Ou seja, tu imagina se não consegue classificar pro Gauchão do ano que vem. Agora, o clube tem dois anos. Minha ideia era começar esse trabalho e outras pessoas terminarem. Tento fazer com que o resultado de campo dê um pouquinho de fôlego pro clube se programar. Acho que mais uma vez a gente conseguiu ajudar. Se pensa muito sobre renovação, Série D. Mas é mais do que isso. Vejo o futebol muito maior do que isso. A Copa do Brasil agora, e a Série D, é o imediatismo. Mas e o Brasil daqui dois anos, cinco anos, dez anos? Está se programando? É isso.

DP: Tu te vê nesse futuro?
RZ: Essa pergunta não vai ter que ser feita pra mim (risos). Eu tenho que me preocupar com o resultado. Eu tenho que dar fôlego pra esses caras.

DP: Teu pensamento de curto prazo é ficar no clube?
RZ
: Eu nunca penso quanto tempo vou ficar. Não tenho essa preocupação. Tenho a preocupação de estar sempre fazendo o melhor pra aquele momento. O melhor pra esse momento do Brasil era fazer um campeonato seguro, ter conseguido trazer jogadores que normalmente, pela situação do Brasil, não viriam. E mais do que isso, agora eles querem ficar. Se você conversar com todos os jogadores, evidentemente se aparecer uma proposta melhor, aí, né, a gente sai. Mas se conversa com todos, eles vão dizer “puxa, gostei do Brasil”. Porque está pagando em dia até agora. Ofereceu uma boa estrutura. A gente treinou no Marini, fez as viagens como tinha que fazer, um dia antes, dois dias antes. Teve uma boa alimentação. Os jogadores com relação à torcida também teve uma coisa legal. O pessoal não queria vir, alguns até que a gente queria trazer num primeiro momento agora se oferecem. Mas isso precisa ser sempre pensado assim: “eu consigo continuar oferecendo essas condições que ofereci no Gauchão — e que dão certo?”.

DP: Tu conversa com a direção sobre isso — a importância do longo prazo? É tema de conversas?
RZ
: Por mais que as pessoas falem que às vezes eu vou pra tudo que é área, eu só faço o futebol. Só quando as pessoas me perguntam, me consultam. Aí eu posso dar minha opinião. Às vezes até indiretamente. Eu dou entrevistas, e às vezes as ideias ficam ali. Quem quer aproveitar, aproveita.

DP: Na tua carreira a longo prazo, dentro ou fora do Brasil, tu pensa em treinar até que momento? Pensa em daqui a pouco virar executivo?
RZ
: Conhecimento pra atuar em outra área é óbvio que eu tenho. Eu poderia. Às vezes já aconteceu comigo de pensar até em parar com o futebol. Por que não um gerente? Acho que ainda o treinador tem mais influência naquilo que ocorre no campo. Está errado, devia ser ao contrário. Se falou muito em gerente, diretor executivo. Se imaginava que os diretores executivos iam ficar e ia se trocar poucos treinadores. Hoje está tendo alta rotatividade também dos executivos. Às vezes eu penso em dar uma parada porque já estou há bastante tempo. Mas aí tu percebe, sem falsa modéstia, que tu tem muito conhecimento. Se tu tem esse conhecimento, que adquiriu ao longo dos anos, e vai chegar agora como cheguei, em um clube com dificuldade… O Gauchão foi super tranquilo. Tu sabe que se vem uma outra pessoa, vai ter dificuldade. É normal. […] É cansativo, porque envolve muito tempo. Naquela vez jogamos [entre o fim de fevereiro e o começo de março] três partidas em uma semana. Tu não dorme. Tem um sacrifício muito grande. É só por isso que às vezes a gente pensa em parar. Claro que eu poderia estar no futebol e não me envolver tanto, mas aí é melhor não estar. É muito cansativo e ao mesmo tempo tu tem um conhecimento que seria um desperdício tu não continuar usando. Quando se vai pra uma outra área, obviamente é futebol, mas teria que passar um tempo até ter o conhecimento. Cada clube dá autonomia ou não dá. Tu não tem garantia nenhuma. Como técnico, tem mais chance do resultado dar certo do que como diretor executivo.

DP: Aqui tu te enxerga com uma estabilidade maior do que teria em outros clubes?
RZ
: Não, não. Se a gente tivesse caído no Gauchão, eu teria sido mandado embora. É resultado. O que eu tenho aqui é um conhecimento maior do clube, que gera resultado. Aí entra aquela coisa: naquele tempo que eu fiquei, o Brasil teve resultado porque manteve a comissão técnica por bastante tempo ou manteve a comissão técnica por bastante tempo porque teve resultado? Em 2014, se a gente não sobe na Série D, eu ficaria? Não se sabe. Em 2013, quando a gente jogou a segunda divisão [estadual], se a gente não sobe, eu ficaria? Tu não vai encontrar essa resposta. Talvez, por já ter trabalhado aqui outras vezes, te dá uma credibilidade maior. O próprio jogador vem por já conhecer teu trabalho. A gente trouxe muito jogador que já trabalhou aqui. Um Amaral, um Rennan [Siqueira], que trabalharam comigo [em outros clubes]. Que sabem mais ou menos a tua linha. Se tivesse algum resultado ruim, o torcedor teria um pouquinho mais de paciência. Mas no final, se tu não tem resultado, tu sai.

DP: Recentemente surgiu o assunto da recuperação judicial. Isso envolve a parte financeira. Afetou o dia a dia do futebol de alguma forma? Tu precisou blindar o grupo dessa questão?
RZ
: Não. Não chega nada no vestiário. A única coisa que o jogador quer é o salário em dia. […] A não ser que ele tenha uma relação muito boa com determinado dirigente… Só quando tem mais intimidade, mas não é o caso desse pessoal, que chegou agora. A preocupação sempre é trabalhar 30 dias e receber. Qualquer direção que faça isso vai ter sempre o vestiário tranquilo. Eu não me envolvi em nada. São decisões que têm que ser da direção, eles que têm que pensar no futuro do clube. Amanhã ou depois os jogadores e o treinador não estão aí.

DP: A situação da necessidade de tantas renovações no elenco estava nos planos?
RZ
: A maioria não fez contrato até o final do ano justamente pra ver se o clube, nesse período até abril, cumpria as suas contas. Hoje está um pouco mais tranquilo. Futebol em 15 dias muda tudo. Mas na época que estávamos contratando jogadores, e aí estamos falando de outubro, início de novembro, tu ligava pro jogador e ele, até com razão, ficava totalmente desconfiado. Ninguém perguntava como vai ser nossa maneira de atuar, nossa parte tática. Então nós mesmos sugerimos fazer um contrato até o fim do Gauchão. Se o clube cumprir com tudo, você renova. Em um clube do interior, como o Brasil, não é o contrato que segura. Se todos esses jogadores tivessem feito contrato até o final do ano, e nós jogássemos o Gauchão com salário atrasado, eles sairiam. O clube não teria moral suficiente. E o contrário foi o que aconteceu: eles querem ficar. Não é o contrato que prende. Eu quero que o jogador fique por ele gostar do clube, não porque ele tem contrato. São ideias, pensamentos de futebol, que tu sempre tenta implantar. Claro que corre o risco de perder algum jogador. Mas se o jogador tem um contrato, e os salários não são altos… Se vier uma proposta boa em agosto, pra jogar uma Série B, com o jogador ganhando quatro ou cinco vezes mais, tu fica com o jogador descontente? Os clubes do interior de uma maneira geral têm que oferecer condições pra que o jogador se sinta bem. Que ele tenha um contrato aqui no Brasil, na quarta divisão, ganhando X, e que um time de Série C ofereça um pouquinho mais e ele diga: “não vou trocar o Brasil. Estou aqui, me desenvolvendo como jogador, minha família se adaptou à cidade, os caras me tratam bem. Vou ganhar um pouquinho mais pra uma divisão em que o Brasil pode estar no ano que vem?”. Quando tu trata bem um jogador, pra ele sair tem que ser uma coisa muito boa. E ele sairia igual se tivesse contrato.

DP: O Atlético vai ter um mês de abril com 11 jogos. Essa possível “falta de foco” do adversário pode ser um fator para o Brasil ter maiores chances de passar?
RZ: Não vejo. Existe uma diferença grande, até pelas competições que ele [Atlético] disputa. Ele joga Libertadores, campeonato de Série A. Quanto tempo faz que não tem Brasil x Atlético? [44 anos]. O Atlético está numa outra turma. Por que já não é o 30º, 20º jogo entre Brasil e Atlético? Tá entendendo? Essa é a primeira coisa que a gente tem que entender. Se fosse Brasil x Ypiranga, Brasil x Caxias, Brasil x Juventude, equipes parecidas, se uma está tendo um processo de mais jogos, mais desgaste e tal... mas a diferença é muito grande. Se os caras botarem o segundo time... se olhar o plantel dos caras... Aí entram duas coisas: quando você está jogando em ritmo, toda hora, isso te dá uma condição boa. E se puder rodar um pouco os jogadores, o que nós não fizemos... Aquelas três partidas [Avenida, Cordino e São Luiz], uma atrás da outra, nos desgastam. Mas a gente chega contra a Ponte Preta num alto nível de competitividade. Os caras [Atlético] estão jogando final do Mineiro, Libertadores. Vamos trazer pra nossa realidade: tu vai jogar com o Caxias hoje. O Caxias está num nível. Daqui 15, 20 dias, vai... [cair]. Mas está muito bem. O Atlético está em alto nível de competição. Nós ao contrário: nosso último jogo foi dia 11 de março. Vai dar um mês sem um jogo oficial. São os extremos que atrapalham: muito jogo e pouco jogo. O Atlético, pra ele já é diferente, porque pode rodar. No primeiro jogo da semifinal [do Estadual], contra o Athletic, botou time misto, reserva. Isso é uma rotina dele, do Grêmio, do Inter, todo ano. Então não afeta tanto. Afetaria o Brasil. Então é indiferente o número de jogos deles. Poderia ter alguma coisa se eles fizessem uma viagem muito longa dois ou três dias antes de jogar com a gente. Mas os jogos deles são todos em Minas.


DP: Tu falou sobre usar esses jogos para a Série D, que é o principal objetivo do ano. Em 2015, o Brasil jogou contra o Flamengo. Como tu pretende aproveitar esses dois jogos diante do Atlético nesse sentido?
RZ: Lógico que a gente vai tentar fazer de tudo pra ter sucesso nesse enfrentamento. O Brasil já vai ganhar independentemente do resultado. Pelo confronto contra equipes melhores, que é o que faz crescer. Se a gente for ver esse passado recente, o Brasil começou a crescer, a ter uma outra visão, justamente quando começou a Copa do Brasil, que foi a primeira vez em 2013 contra o Athletico Paranaense. Nós em 2013 jogamos a Copa do Brasil estando na segunda divisão do Estadual. Havia uma distância grande. E depois [2015] contra o Flamengo. Depois a Primeira Liga [2017], contra Fluminense... Mas aí já estávamos numa Série B. O confronto contra equipes melhores, quando você vai jogar lá contra o Fortaleza, e aí temos que pensar o Fortaleza na Série C, e não o de agora, você já tinha jogado com o Flamengo aqui, com o estádio cheio. No Maracanã... Jogos contra o Athletico. Bom, mas um foi em 2013 - mas era o mesmo grupo. Leandro Leite, Gustavo Papa, todo mundo. Isso vai fazendo com que o pessoal comece a ficar mais experiente, mais cascudo. Foi um processo de transformação. Claro que tu joga o regional, tu tem enfrentamento contra Grêmio, Internacional. Mas quando enfrenta eles várias vezes, é diferente. Atlético e Cruzeiro equivalem a Grêmio e Internacional. Se vier um time de Minas jogar contra o Grêmio na Arena, com o Suárez, vai ser um acontecimento, porque não estão acostumados. Então quando tu vai jogar com o Atlético, vai ser um acontecimento. Penso que pro Brasil subir de nível, tem que jogar com equipes melhores. Felizmente a gente conseguiu trazer o Atlético, e pra isso tu tem que passar duas fases de Copa do Brasil. Tem que passar pela Ponte Preta. Estamos iniciando de novo um trabalho. Faz um calendário de dois anos. A Ponte Preta é um bom jogo, é de Série B. Traz o Atlético. Tudo isso pode ter resultado agora, mas tu vai criando de novo algumas situações que o Brasil aproveitou nesse passado recente. Então tu trazer o Atlético é manter o Brasil vivo, porque o Brasil caiu duas divisões nacionais. A turma que o Brasil estava jogando é uma turma... Ponte Preta, Guarani. Sem falar do ano passado, quando estavam na Série B um Vasco, um Bahia, um Cruzeiro, um Grêmio. O Brasil foi pra outra turma, e tu jogando com essa outra turma teus parâmetros mudam. Nosso gramado na Série B em determinado momento era um tapete. Você coloca o melhor azevém, melhorou os vestiários, o [vestiário] visitante ficou bom. No banco de reserva são poltronas. Quando tu joga com esses clubes, te obriga a tentar te aproximar desses caras. E o contrário, quando tu te afasta desses caras, tu vai treinar num campo ruim e os caras acham que tá bom. O teu campo não tá bom mas tu compara com outros times. Aí começa, tu nivela por baixo. "Aquele vestiário é pequeno, aquele campo é ruim". Aí tu começa a justificar teu gramado, teu vestiário, tuas condições de trabalho, com os clubes também com pouca estrutura. E eu sempre, quando venho aqui no Brasil, digo que o parâmetro tem que mudar. Se comparar com os estádios aqui da região Sul, o nosso gramado é muito bom. Talvez seja o melhor. Mas comparado a um time de Série B, talvez fosse o pior. São parâmetros, e os dirigentes têm que enxergar isso. Tem que enxergar o que é um jogo contra o Atlético. A dimensão. O Brasil jogou uma vez contra o Atlético, faz 40 e poucos anos. Agora em 15 dias vai jogar duas vezes. Espero que as pessoas entendam isso.


DP: Tu já conseguiu dar uma olhada na situação dos clubes da Série D? Pelo menos os da mesma chave, já que é difícil falar sobre o macro, são tantas equipes...
RZ
: Muda [em relação aos estaduais]. A Série D é a quarta divisão. Os jogadores que se destacam em alguns clubes, saem. Estadual é uma coisa. Os principais jogadores têm mercado em Série B, Série C. Precisamos primeiro ver qual é o nível do grupo de atletas que tu vai ter. Não é que o time foi bem no Estadual então vai bem na D. Tudo tem mudança. Tu não pega campanha do Estadual e coloca na Série D como se fosse a mesma coisa. É um outro campeonato. Uma coisa é o time que está jogando em março, outra coisa é o time que está jogando em agosto. O Inter ano passado não foi bem no Estadual, não chegou nem na final. E aí vai jogar uma Série A. Foi vice-campeão. A Série D é um campeonato com nível obviamente abaixo das outras divisões, lógico, então a diferença da outra vez não é nem pelos grupos, porque eram cinco e se classificavam dois. Agora são oito e se classificam quatro. O que muda é que eram dois mata-matas. Agora são três. E tem uma coisa que às vezes atrapalha um pouco esse grupo é que tentam regionalizar, inclusive a segunda fase. Por exemplo, eu estava no Esportivo [em 2021], passei na primeira fase e peguei o Santo André. Aí passamos e vem a Ferroviária (SP). Pô... Então é um campeonato diferente.

DP: Tu acha que dessa vez o Brasil entra na D talvez com uma responsabilidade um pouco maior? Ou pelo fato de ter voltado aonde estava antes não dá pra dizer isso?
RZ
: Tem responsabilidade, mas não a mais. É mais um clube no meio de 64. Às vezes a gente confunde o clube, sua camisa, sua torcida, sua tradição, com o time. São coisas diferentes. O que vai jogar ali é o time, aí tu tem que ver se está com time bom, se está pagando em dia. O desafio do Brasil é manter o pagamento em dia. Qual foi uma das dificuldades da Série C? Acho que o grande problema às vezes de qualquer clube é não entender o momento. No caso do Gauchão, entendeu. O momento do Brasil não era de ser candidato, de fazer uma grande campanha, de ficar entre os quatro. Pela circunstância de montar um time todo novo, inclusive comissão técnica... Caxias e Ypiranga mantiveram o treinador do ano anterior. O treinador do Caxias jogou a Série D, manteve bons jogadores. É diferente. É um clube sanado financeiramente. Há muito tempo nem funcionário, nem comissão técnica nem jogador entra na Justiça contra o Caxias, porque está pagando. No Ranking [da CBF] o Brasil está melhor, mas não por agora. É pelo momento anterior da Série B. Talvez, e aí eu não estava aqui, no ano passado, se tivesse um pouquinho "vem cá gente, nós caímos de divisão, a gente está com problemas, vamos projetar pra se manter na C, ajeitar as coisas". Quem está na C, daqui a pouco melhora e sobe de novo. Eu não estava aqui, mas tenho certeza de que o pessoal falou "vamos subir". Tá errado? Não, desde que esteja preparado pra subir. Que esteja com as contas em dia, que tenha mantido o time. Se não, é só jogar pra torcida. Isso de "pensar grande" é uma das maiores bobagens que tem. Isso é autoajuda. É só palavra. E palavra não tem força, o que tem força é o que tu faz. A prática. Todos os times quando vão iniciar uma competição pensam que vão fazer grande campanha, e sempre dois vão cair. Não é questão de falar ou não: tem que ser prático. Às vezes tu cai e continua bem. Com as finanças em dia, boa estrutura. O Criciúma, por exemplo. Caiu pra segunda divisão do Estado. Ano passado jogou a segunda divisão do Estado e a Série B ao mesmo tempo, mas tinha caído pra Série C. Mas caiu não devendo nada pra ninguém. Caiu tendo um p* de um centro de treinamento. Então esse é candidato a subir, esse pode jogar a C dizendo "nós temos que subir". Aí foi e subiu, fácil. Subiu do Estadual e no primeiro ano da Série B foi candidato a subir. E agora tá na final da primeira divisão. Com 17 mil sócios e tem que parar, porque a capacidade do estádio é 19 mil, e tem que ter um X número pra visitantes. Então às vezes tu não precisa ir na Europa, São Paulo, Rio, Minas. Tem clubes bem pertinho, vai lá e pergunta. Por que os caras têm 17 mil sócios? "Ah, porque é um real". Mas pergunta porque estão bem financeiramente. "Ah deixa eu ver como é o São Paulo, o Palmeiras, o Grêmio..." É legal. Eu também faço contato com todo mundo, faço contato com todos os treinadores, acompanho todos os clubes. Mas tenta entender onde tu está, quais são os clubes mais parecidos contigo. Vai olhar e perguntar porque o Figueirense está mal. Tem que perguntar porque deu errado. E aí vamos voltar à primeira resposta. Sabe qual é o grande problema do futebol do interior? Os caras estão só pensando no jogo do Atlético. Só. Todo mundo está pensando no centroavante que eu vou colocar, qual é o goleiro, qual é o meia. Quem é que renovou... É só o imediato. Tem alguém pensando no Brasil pros próximos anos? Pensando. O cara que pensa isso não pode ser o cara que está pensando no valor do ingresso. Isso é o imediato. Tem que ter um grupo de pessoas pensando. Mas aí não sou eu. Eu tenho que pensar no imediato, porque eu estou aqui, daqui a pouco eu não estou mais. Tenho que fazer resultado pra que entre dinheiro. Eu sempre mexo que quando a gente subiu o Brasil [para a Série B], o Brasil começou a ganhar seis, sete milhões na Série B. Todo mundo ganhava um milhão no Campeonato Gaúcho e o Brasil ganhava um milhão e meio porque estava na Série B. Aí em 2018 o Brasil estava caindo, eu não estava mais, aí eu vim aqui e a gente fez aquela campanha que até agora não sei como a gente conseguiu, de oito partidas fora, ganhar seis. Não existe. Eu brinquei. Eu disse olha, eu estava em Porto Alegre e falei: "vou ali, recuperar o Brasil, pra ano que vem ter 7, 8 milhões da Série B, e aí eu volto". Foi isso que eu fiz. Quando eu falo isso é comissão técnica, jogadores, a direção que entendeu. É uma brincadeira, mas a minha função é ajudar o Brasil financeiramente (risos). Por isso que eu digo. Tudo ajuda, e aí é mérito da direção. Chegamos e os funcionários estavam há três meses [com salários] atrasados. O futebol vai tendo resultado e isso faz com que venham mais sócios. Ah, entrou três milhões e a metade é pra pagar dívida. Mas se está endividado e tem um milhão e 500 mil pra pagar tua dívida, tu está melhor agora. O resultado de campo ajuda o clube a se planejar. Tu vai jogar contra a Ponte Preta e tem mais gente, contra o Atlético tem mais gente. Por isso quando tu dá alimentação pro jogador, quando bota o jogador a treinar no Marini, centro de treinamento e tal, isso é investimento. É difícil às vezes o dirigente entender isso. Porque na cabeça às vezes do dirigente ele pensa assim: "puxa, estamos gastando no Marini, então não vamos treinar lá. Estamos gastando lá no Cidadela, no restaurante, então não vamos comer mais". Eles querem economizar onde não tem que economizar. Quem faz o clube se mover é o campo. Às vezes tu pega um dirigente, e estou falando de modo geral, e que acha que investir em comida, bom lugar pra morar, bom centro de treinamento, é... Quando eu encontro esses caras eu fujo. Quer dizer, eu tento explicar uma vez. Aí se o cara não entender... Tu encontra esses caras... eles estão aí, eles surgem, de uma hora pra outra eles estão ali. Com o maior respeito, os caras falam em marketing de clube do interior. O maior marketing do Brasil é ganhar. "Pô, fiz uma campanha lá de sócios, botei uma campanha no site lá, uma chamada, e aumentou o número de sócios". Filho, aumentou o número de sócios porque a gente ganhou da Ponte Preta. É isso.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Pelotas anuncia a contratação do zagueiro Heverton Anterior

Pelotas anuncia a contratação do zagueiro Heverton

Pelotas vence jogo-treino contra o time sub-20 do Grêmio: 1 a 0 Próximo

Pelotas vence jogo-treino contra o time sub-20 do Grêmio: 1 a 0

Deixe seu comentário