Atualização

Incêndio no Taim é controlado

Equipes vão manter monitoramento no local, mas último foco se aproximava da Lagoa Mangueira

Foto: Jô Folha - DP -

Por MicheleFerreira
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O incêndio na Estação Ecológica do Taim, uma das áreas de preservação mais importantes do país, está controlado. O clima ainda era de cautela no final da tarde desta sexta-feira (16) para dar as chamas como encerradas, mas o último foco já chegava à Lagoa Mangueira. Informações preliminares do ICMBio indicavam para um total de aproximadamente seis mil hectares consumidos. Confirmado o dado, este será o maior incêndio registrado na Reserva em 36 anos de história.

"O fogo diminui consideravelmente, tá confinado. Mas ainda temos a incidência dos ventos. Por isso vamos manter um grupo no local durante toda a madrugada", afirma o comandante da missão, capitão Silvano Oliveira Rodrigues. Um gerador de energia para garantir iluminação durante o monitoramento preventivo já estava assegurado.

A operação é dividida em duas frentes, por terra e por ar. Dois helicópteros da Brigada Militar e da Polícia Civil complementam o trabalho dos militares que atuam no chão, munidos de abafador, soprador e bombas costais. Em comunicação por rádio e atentos à previsão do tempo, as equipes trocam informações pra indicar onde as águas devem ser jogadas pelas aeronaves, inclusive para garantir que os profissionais possam avançar no percurso. Ao todo, 60 bombeiros estão envolvidos, mas em revezamento.

As características do local dificultaram o trabalho. Para chegar até lá, a 29 quilômetros da sede da Estação, são cerca de uma hora de deslocamento apenas em veículos tracionados. E, ironicamente, para apagar as chamas que se espalhavam pela vegetação do banhado, os bombeiros atuavam com água pela cintura; às vezes pelo peito.

Com o reforço do grupo na noite de quinta-feira e as condições climáticas favoráveis, o resultado positivo veio rápido. A linha de fogo que alcançou 11 quilômetros, no início da tarde desta sexta-feira, havia caído para três quilômetros. No meio da tarde veio, então, a boa notícia de que o incêndio estava, praticamente, debelado.

Foto: Jô Folha - DP



Vento levou para o lado sem 'combustível'
Enquanto uma grande operação se formou, com profissionais de diferentes regiões do Estado - alguns inclusive com experiência no combate ao terceiro maior incêndio já ocorrido no mundo, na Argentina, no ano passado -, o vento favoreceu. E estancou o que poderia ganhar proporções ainda maiores. Com as rajadas sul e sudeste, as ondas de calor e o fogo, a uma velocidade de dois quilômetros por hora, foram levados justamente para o lado que já estava queimado. Era, portanto, uma área sem 'combustível', explica o capitão, ao comentar as dificuldades em vencer as chamas em regiões abertas, de "mato".

Prejuízos ambientais ainda precisam ser avaliados
O fato de o incêndio ter ocorrido no final da primavera faz soar o sinal de alerta. Isso porque o período é de reprodução de aves. Portanto, vários filhotes em ninhos podem ter sido consumidos pelas chamas, sem conseguir fugir.

"Mas ainda estamos avaliando", pondera a chefe da Estação, a bióloga Ana Carolina Canary. E admite que é possível que o impacto possa ser confirmado com o tempo. Durante a semana, militares e técnicos do ICMBio agiram em parceria na observação e possível salvamento de animais. Como o fogo se espalhou de maneira esparsa, em vários pontos sobraram pequenas ilhas, para onde escaparam ou foram levados. "Ainda não tivemos relatos de animais encontrados mortos", destaca Carolina. Para facilitar a identificação em meio à fumaça, binóculos também usados.

"A natureza se recupera"
Três grupos de aves ficam na mira como os possivelmente mais afetados pela queimada. As de pequeno porte, popularmente, conhecidas como passarinhos e muitas delas exclusivas de ambiente de banhado. As que formam colônias para reproduzir, como a garça-branca, a garça-moura, o colhereiro e os maçaricões. Um terceiro grupo é o dos gaviões caramujeiros, espécies aquáticas que se alimentam de moluscos e fazem ninhos exatamente naquele tipo de vegetação (a palha), atingida pelo fogo.


Foto: Jô Folha - DP



Quem explica é o professor de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Leandro Bugoni. E embora admita que a situação preocupa, faz questão de ressaltar: "a natureza se recupera". Bugoni ainda lembra que cada espécie tem seu tempo. "A vegetação se recupera em poucos meses, já criando abrigo e alimento para os animais. As aves terão que esperar o próximo ciclo, final do ano que vem, para reproduzirem novamente".

Saiba também 
- Equipe de brigadistas estava abaixo do previsto para época: Ao contrário de 12 brigadistas, como é comum entre novembro e abril, a Estação Ecológica do Taim ainda estava com apenas dois profissionais na equipe, além de nove agentes temporários ambientais, que também podem atuar como brigadistas. As restrições do período eleitoral seriam a explicação para a demora na contratação. Um curso presencial de formação de prevenção e combate a incêndios florestais, inclusive, tinha sido ministrado para voluntários da comunidade na semana passada e o chamamento estava previsto para janeiro.
"Como tínhamos o prazo limite, em função do período eleitoral, e o valor é de um salário mínimo, se resolvêssemos contratá-los até junho, para adiantar ,e deixar para chamá-los só nesta época, muitos já poderiam ter buscado outros trabalhos", justifica a chefe da Esec.
- Refúgio e beleza: O Taim é reconhecido como abrigo e referência a 220 espécies de aves, 21 répteis, 8 anfíbios, 51 peixes, 28 mamíferos e diversos crustáceos, moluscos e insetos. Em 32 mil hectares de área, ainda há mais de 200 espécies de vegetais. É um cenário que une refúgio ambiental e beleza.
- O maior incêndio até então: Foi em abril de 2013, durou 11 dias e arrasou com 5,6 mil hectares de área.

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