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"Já conheci pessoas lindas e saudáveis com Aids”
Relato é de um travesti há três anos em tratamento contra a doença, contraída por sexo sem preservativo com cliente
Paulo Rossi -
Comigo nunca. Esse era o pensamento de uma dona de casa que, aos 36 anos, se descobriu com Aids em Pelotas, município que registrou quase 300 novos casos da doença e de HIV esse ano.
Dedicada ao lar, ao marido e à filha, não passava por sua cabeça que a doença pudesse estar tão perto. E foi só após a morte do companheiro que a verdade veio à tona. Em um período de 15 dias, a dona de casa descobriu que ele tinha muitas amantes e se encontrou lendo um exame que confirmava ser ela soropositiva.
O apoio de familiares e o auxílio de Organizações Não Governamentais (ONGs) a encorajaram a viver. “Me aceito como sou”, afirma ela, que há sete anos toma o coquetel antiaids diariamente. Na luta, já passou por mudanças bruscas de peso e pela depressão, além de diariamente conviver com o preconceito, pois é comum que as pessoas pensem que só mulheres solteiras contraem a doença, ou que todo soropositivo tem pouco peso, o que está longe da verdade. “Aids não tem cara” enfatiza ela.
A opinião é compartilhada pela travesti S.L. Em tratamento contra a doença há três anos, ela contraiu o vírus na prostituição, através do sexo sem o uso de preservativos. Entre homens casados e solteiros, das mais distintas classes, até hoje não sabe distinguir com quem ocorreu a infecção. “Não há perfil. Já conheci pessoas lindas e saudáveis com Aids”, conta.
Através do tratamento, tenta melhorar a autoestima e agradece pelo carinho que recebe dos profissionais da saúde, para quem não existe distinção entre os pacientes. Gesto que não se repete no dia a dia. “Muitos olham os soropositivos com nojo e espalham informações erradas” reclama S.L. O preconceito se repete também na procura de emprego, pois quando revela ser portadora do vírus, as entrevistas costumam terminar mais cedo. A travesti admite que contraiu a Aids por irresponsabilidade, e por isso deixa um alerta: “se protejam e aos outros também”.
Programação
No Dia Mundial de Luta Contra a Aids, nesta quinta-feira (1º), ONGs e a Secretaria de Saúde (SMS) promovem atividades de conscientização e testes gratuitos em alguns pontos da cidade. Confira:
# A ONG Vale a Vida fará testagens fluído-orais no Barro Duro durante todo o dia, além da distribuição de material informativo e preservativos em vários pontos da cidade. Já no período da tarde, a partir das 14h, será mediada uma conversa sobre o assunto no Cine UFPel - rua Lobo da Costa, 447 - junto com a exibição do filme americano The normal heart, que trata sobre a Aids no início dos anos 1980.
# Durante a semana a ONG Gesto realizou encontros com profissionais da saúde para discutir e melhor informar sobre o assunto, e nesta quinta vai estar com uma blitz informativa no calçadão da Andrade Neves, a partir das 9h.
# A equipe da SMS estará no Mercado Central realizando testes rápidos de HIV, das 9h às 17h. A coleta de sangue é através de uma picada no dedo, e no estande haverá também atendimento e orientação à população. Nesta sexta, das 13h30 às 17h, os moradores do Fragata poderão ir até o Ginásio Princesinha - na avenida Dom Pedro I,1.928 - realizar os testes, que já foram aplicados durante a semana nas comunidades da Sanga Funda, Getúlio Vargas e Navegantes II pelas equipes dos departamentos DST/Aids e Hepatites Virais da SMS.
Casos em Pelotas
De acordo com o Serviço de Assistência Especializada (SAE), 290 novos casos de Aids e HIV foram diagnosticados neste ano em Pelotas, e a grande maioria dos pacientes têm entre 20 e 49 anos. O número não leva em conta os pacientes que faltaram à primeira consulta, seja por medo da doença ou pelos tabus que a circundam. Só no primeiro semestre de 2016, segundo dados da Vigilância Epidemiológica da SMS, 141 casos de Aids foram computados e 108 pacientes com o vírus HIV.
Aids
0 a 13 anos - 3
15 a 19 anos - 7
20 a 29 anos - 38
30 a 39 anos - 46
40 a 49 anos - 24
50 a 59 anos - 13
60 a 69 anos - 8
70 a 79 anos - 2
HIV
10 a 14 anos - 2
15 a 19 anos - 3
20 a 29 anos - 33
30 a 39 anos - 36
40 a 49 anos - 18
50 a 59 anos - 9
60 a 69 anos - 5
70 a 79 anos - 2
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