Pelotas possui hoje 167 interessados à adoção e 21 menores - uma criança e 20 adolescentes - à espera de uma família. Contudo, o perfil idealizado pelas pessoas dificulta o processo, já que a maioria busca bebês e apenas um dos abrigados tem menos de 12 anos. Mesmo com os esforços do Judiciário e do Poder Público para promover a adoção tardia, a maioria chega aos 18 anos sem encontrar um novo lar e acaba tendo que deixar os abrigos de acolhimento. Uma dura e chocante realidade.

Esse é o caso de A.R.P., que em em seis meses (abril) irá completar a maioridade e terá seu caso arquivado junto ao Ministério Público. A adolescente que estuda pelas manhãs e trabalha à tarde já fez uma série de cursos profissionalizantes oferecidos pela Secretaria de Justiça Social e Segurança (SJSS), em preparação à vida adulta que se aproxima, e ao terminar o Ensino Médio pretende cursar Química. Entre idas e voltas, ela já está há mais de quatro anos sob custódia do governo, desde que perdeu os pais, e nunca vislumbrou a possibilidade de uma adoção. "As pessoas não querem alguém da minha idade", afirma a adolescente, com uma certeza que impressiona.

Por sorte, ela tem para onde ir. A mãe de uma colega de escola se sensibilizou com a história e agora é madrinha por aproximação de A.R.P.. A jovem vai à casa da madrinha aos finais de semana e ambas já planejam a mudança em 2017. "Ela me incentiva muito, especialmente nos estudos", diz.

Preparação para o desligamento
O apadrinhamento é uma novidade, conta a juíza da Infância e Juventude, Alessandra Couto de Oliveira. Os habilitados para adoção também podem apadrinhar, basta procurar a equipe técnica do Juizado da Infância e se inscrever junto à SJSS. Eles passam por oficinas, avaliação psicossocial e precisam de autorização judicial. "É preciso muita responsabilidade", acrescenta a assistente social Ângela Neutzling Meggiato, pois essas pessoas se tornam os adultos de referência aos jovens.

Em relação aos cursos de preparação para o mercado de trabalho, os jovens têm preferência dentro do projeto Capacitar, enfatiza o secretário de Justiça Social, Luiz Eduardo Longaray. São ofertadas oficinas de culinária, cabeleireiro, informática, garçom, atendente de farmácia, entre outras. Para o próximo ano, é estudada a possibilidade de aplicação do projeto Família Acolhedora, que propõe a famílias cadastradas e avaliadas que sejam pagas para receberem essas crianças em suas casas. "Ainda dependemos de orçamento", ressalta o secretário.

O Juizado oferece cursos de preparação para adoção, com orientação jurídica e técnica, e encontros dos habilitados com os jovens, explica a juíza Alessandra Couto de Oliveira. Só no final do processo as famílias definem o perfil que procuram, pois assim há maior contato entre as partes e há quebra de conceitos preestabelecidos. A ação vem mostrando resultados. Em setembro dois adolescentes ganharam uma nova família, segundo a promotora Luciara Robe da Silveira.
No último ano, o Juizado da Infância e da Juventude conseguiu efetivar 22 adoções, entre elas destaque para a tardia, inter-raciais e de crianças com necessidades especiais.

Projeto Entrega Protegida
Ocorre nesta quinta-feira (20), às 14h, no Salão do Júri do Foro de Pelotas, o lançamento do projeto Entrega Protegida, com a participação do Juizado Regional da Infância e Juventude, do Ministério Público, da Defensoria Pública, de hospitais, da rede de proteção e do Conselho Tutelar.

O projeto busca informar os profissionais envolvidos sobre o procedimento a ser empregado em casos de mães que queiram entregar o filho em adoção, a fim de evitar o abandono de crianças e a entrega para pessoas que não estão no Cadastro Nacional de Adoção. Durante o lançamento, haverá a assinatura de um Termo de Integração Operacional entre as entidades participantes, para estabelecer os procedimentos a serem observados por todos quando a situação acontecer.