Polêmica

Fala de diretor do Simers ao DP gera indignação

Representante dos médicos criticou abertura de vagas para assentados

Foto: Divulgação - Luiz Alberto Grossi (E) questionou qualificação de pessoas vindas do campo

A entrevista do diretor do Interior do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Luiz Alberto Grossi, ao repórter Lucas Kurz, publicada no último final de semana no Diário Popular, gerou reação de entidades e políticos. Grossi criticou a possibilidade de abertura de vagas em Medicina na UFPel para assentados da reforma agrária através do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) e questionou a qualificação dos alunos para o ingresso à universidade.

Na entrevista, o médico disse que “essas pessoas que vêm do campo, vêm não muito qualificadas para fazer Medicina”, que “certamente nós vamos desqualificar a profissão concordando com isso” e que “não demora, os índios vão querer também fazer”. O representante do Simers ainda considerou a iniciativa oportunista e que o MST “nada acrescenta no País”.

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFPel foi o primeiro grupo a se manifestar, através de uma nota de repúdio. Na publicação feita nas redes sociais, o DCE considerou que Grossi “foi extremamente infeliz e racista ao dizer que pessoas do campo e indígenas são desqualificados para estudar Medicina”. A representação dos estudantes salientou ainda que 139 profissionais já foram formados pela UFPel através do Pronera.

O deputado estadual Adão Pretto Filho (PT), que é ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), entrou com uma representação junto à Procuradoria de Justiça do Estado e ao Ministério Público pedindo ação sobre o caso. “As pessoas podem divergir, podem ter outras opiniões, mas o que não pode ocorrer é uma fala criminosa, que foi o que ele fez”, disse.

Pretto defende que as vagas são necessárias para formar profissionais para atuar em regiões onde não há interesse dos médicos. “Nós temos que ter quem veio do campo formado em medicina para que tenhamos médicos para atender o povo do campo, que é outra realidade”, afirmou.

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa oficiou o sindicato médico para esclarecer a fala do diretor. “Ele ainda, gratuitamente, fez uma fala racista em relação à população indígena”, diz a deputada Laura Sito (PT), presidente da comissão. “Uma coisa é o sindicato ter uma posição contra a abertura de cursos de Medicina em grande proporção, outra coisa é creditarem que as pessoas por origem sócio-econômica não teriam condições desenvolver um curso de Medicina. É um discurso elitista e completamente perdido no tempo e no espaço”, afirma.

Em meio à repercussão, o Simers emitiu uma nota de esclarecimento na quarta-feira em que diz não concordar com a interpretação dada à fala de seu diretor e reitera a crítica contra a “flexibilização de critérios do processo seletivo para ingressar em cursos de Medicina”. O sindicato diz, ainda que é “veementemente contra qualquer forma de discriminação a qualquer grupo ou estrato da sociedade”.

Procurado pela reportagem, Luiz Grossi disse que não poderia atender.

Entenda
A possibilidade de abertura de uma turma especial para assentados da reforma agrária no curso de Medicina da UFPel surgiu após uma reunião, no dia 23 de junho, em que representantes do MST e da universidade discutiram a possibilidade de abertura de vagas nos moldes do que já é ofertado no curso de Medicina Veterinária. Essas vagas seriam financiadas através do Pronera, um programa do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que é vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, ou seja, os recursos não seriam do Ministério da Educação, que financia a maior parte das atividades da UFPel.

A discussão gerou reação da classe médica. Após a reunião, o Simers emitiu uma nota pública repudiando a iniciativa. A Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs) manifestou “perplexidade” com a possibilidade de “direcionamento da formação médica para castas sociais.”
Ao DP, a reitora Isabela Andrade defendeu que o “propósito é fomentar a inclusão social e garantir o acesso à formação médica para pessoas que enfrentam grandes desafios socioeconômicos e historicamente foram marginalizadas do sistema tradicional de educação superior pública”. Ela afirma, ainda, que a experiência com as turmas de Medicina Veterinária é bem sucedida e que “são alunos dedicados, aplicados e conscientes de seu papel”.

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