Cultura

Integração Lavoura-Pecuária dá agilidade ao plantio de soja

Manejo ajuda a drenar o terreno mais rápido após as chuvas intensas, entre outros benefícios para o sistema

Foto: Mateus Porto - Anos com chuvas acima da média é desafiador entrar nas áreas

Uma aparente contradição tem sido percebida nos campos gaúchos. Por anos, técnicos propagam as vantagens de se manter o solo coberto com uma boa palhada para evitar compactação e erosão, o que é frequentemente associado à pecuária em áreas de lavoura. Agora, muitos produtores relatam que só conseguiram aproveitar as primeiras janelas de clima seco cultivando em áreas onde havia pastagem.

"Nessa parte onde estava o gado foi mais fácil de plantar, porque enxugou primeiro. Os animais deram uma apertada superficial na terra que permitiu alcançar uma condição de plantio uns dias antes que nas demais áreas da propriedade", relata o produtor Jonas Coradini, associado da Cotrisul que cultiva soja em Piratini.

Segundo o pesquisador da Rede Técnica Cooperativa (RTC), Pedro Albuquerque, aquilo que é um desafio em anos secos, acaba trazendo esta vantagem em anos chuvosos. "A palha traz inúmeros benefícios ao sistema, como controle de plantas indesejáveis, redução da erosão e manutenção da umidade do solo por longos períodos. No entanto, em anos com precipitação acima da média, como este, torna-se desafiador entrar nas áreas com muita palhada".

Ainda segundo o pesquisador, a palha, muitas vezes associada a altos rendimentos no sistema de plantio direto (SPD), não tem trazido respostas diretas em produtividade nos sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) _ o que parece desafiar anos de experiência em SPD. A chave para entender esta realidade está em olhar para o sistema como um todo, explica o pesquisador.

"A quantidade de palha sobre o solo não revela toda a dinâmica que está acontecendo no sistema a partir da inserção do animal". E ressalta: "Não é dizer que a palha não é importante, definitivamente, pois ela segue exercendo um papel fundamental no sistema, mas não podemos esquecer que os animais em pastejo estimulam o crescimento de raízes, a ciclagem de nutrientes e a atividade biológica, trazendo outros benefícios para o sistema ILP quando bem manejado.

Além disso, o bom manejo das pastagens possibilita conciliar produção animal e vegetal, pois as mesmas alturas que maximizam os ganhos, promovem uma boa cobertura do solo e ainda estimulam a produção de biomassa para além do que seria produzido sem pastejo, pois as plantas permanecem vegetativas por mais tempo, captando energia solar e isto significa mais carbono sendo aportado no sistema. A diferença é que toda essa biomassa produzida é colhida pelos animais e retorna ao sistema de outra forma, o que às vezes passa despercebido".

Ele acrescenta que onde há convergência entre a produção animal e a vegetal, há uma série de insetos e micro-organismos que, junto com as raízes das forrageiras, criam canais que facilitam a correção do solo em camadas mais profundas. Além disso, estas galerias biológicas, chamadas bioporos, ajudam as culturas como a soja na busca por água e nutrientes em camadas mais profundas do solo.

"O efeito da pecuária sobre o sistema, positivo ou negativo, depende de fatores como a intensidade de pastejo (a quantidade de animais por hectare, controlada pela altura do pasto, que varia de acordo com a espécie de forrageira utilizada) e a correção da fertilidade do solo. Quando isto está bem controlado, podemos dizer que a pastagem está sendo tratada como uma lavoura de carne.

Porém, se o produtor imagina que sobram nutrientes da soja e que isso é suficiente, engana-se e acaba com uma pastagem deficiente, que não alcança os resultados desejados, nem em produção animal, nem em termos de benefícios para o sistema e as culturas que vêm na sequência", observa ele.

A implantação da lavoura de soja tem sido um desafio. Na região de abrangência da Cotrisul (centro-sul do Rio Grande do Sul), o percentual das áreas já cultivadas é mais baixo que a média do estado. Enquanto a Emater-RS apontava que, até início de dezembro, a média estadual era de 76% das áreas cultivadas, os sócios da cooperativa tinham alcançado 50% de semeadura. Ainda segundo o levantamento estadual, a média geral do estado no ano anterior era de 80% da área plantada no mesmo período.

Para Coradini, que pretende plantar mais de mil hectares de soja, a topografia da região tem sido outro desafio. Ele conta que as áreas mais baixas retêm umidade por mais tempo e só podem ser cultivadas depois de sequências maiores de dias secos. Isso irá tornar a colheita um pouco mais complicada. Ainda assim, a expectativa de produtividade é positiva: pelo menos 60 sacos por hectare.

Para entender melhor a Integração Lavoura-Pecuária

A Cotrisul tem trabalhado pela divulgação, entre seus associados, deste sistema de manejo que alterna agricultura e pecuária nas mesmas áreas. Neste sentido, a cooperativa é co-realizadora do Universo Pecuária _ um evento focado na sustentabilidade da produção.

A segunda edição do Universo Pecuária está marcada para maio de 2024, em Lavras do Sul. O Sindicato Rural de Lavras do Sul, a Prefeitura Municipal, o Sebrae, o Senar e a Farsul também participam da promoção deste evento, que reúne o que há de mais avançado em termos de conhecimento aplicado na agricultura e na pecuária.


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