
Paula Mascarenhas
Paula Schild Mascarenhas (PSDB) é a primeira prefeita de Pelotas. Eleita e reeleita, ela esteve no Espeto Entrevista da última terça-feira e falou sobre o cenário da política nacional, o balanço de seu tempo à frente da Prefeitura e as perspectivas para o restante de seu mandato. Confira, abaixo, uma parte da conversa.
Prefeita, qual sua avaliação de 2022?
Um ano importante, mas de eleição. O grande assunto no ano foram as eleições, especialmente o momento de muito acirramento político, divisão entre pessoas na sociedade. Eram eleições muito aguardadas e foram muito difíceis por essa polarização, que faz tanto mal ao Brasil. Mas superamos, temos os eleitos. Gostemos ou não gostemos, nós somos eleitos. Aceitar o resultado é algo fundamental. É lamentável no Brasil uma parcela pequena, mas barulhenta, nessa posição de não aceitar resultado. Mas acho que isso está pouco a pouco sendo superado e será superado. A democracia brasileira demonstrou, neste ano tão difícil, de polarização, que ela é forte, ela está bem assentada, as instituições são fortes e a gente vai superar esse momento.
Para mim, pessoalmente, foi um ano de encontro com uma política pública que me toca, me tocou muito o coração e que vai me direcionar muito nos próximos dois anos que é a proteção e estímulo à criança, a importância da primeira infância, e o quanto isso é a primeira das responsabilidades de um governo municipal. Cuidar das suas crianças, preparar as próximas gerações…
Ainda na questão nacional, que tipo de lição a senhora, como liderança partidária, tira de tudo o que aconteceu?
Espero que sim, temo que não. Obviamente, essa polarização, essa política feita com ódio, não nasceu de repente e não foi uma pessoa a responsável por isso. Ela foi uma construção histórica, recente, do Brasil. E os partidos, sobretudo aqueles mais hegemônicos, que dominaram a cena política brasileira, têm uma responsabilidade nisso. O meu partido, o PSDB, tem uma responsabilidade nisso. Porque, o antagonismo PSDB e PT, e cito essas duas siglas, mas junto a elas há outras que apoiaram em momentos diversos, elas foram hegemônicas e que se contrapuseram, criaram uma relação de muito antagonismo, do ser anti. Isso foi criando um clima de hostilidade, de incapacidade de aceitar o pensamento divergente e isso é muito grave. Tenho falado inclusive nas minhas idas à Câmara de Vereadores que a gente precisa mudar as relações políticas, nós estamos todos no mesmo barco.
E sobre o governador Eduardo Leite. Qual a importância?
Muito importante. O primeiro governador reeleito é daqui. A gente esperou cem anos por um governador daqui, que compreenda, que conheça Pelotas e a Zona Sul, que saiba das suas carências, das suas necessidades e que tenha talento. Talento político, talento administrativo, que a gente sabe que ele tem de sobra. Eu fiquei muito feliz, ela polarização quase tirou ele do segundo turno, mas o Rio Grande do Sul teve essa maturidade de conseguir fugir dos polos e apostar no equilíbrio, em um governante que tem essa capacidade de se relacionar, dialogar, com essa serenidade necessária.
A senhora foi vice, eleita e reeleita. Durante sua gestão, Pelotas mudou, teve novas perspectivas, exigências… Qual sua visão?
Vou completar dez anos, agora no dia 1º, de prefeitura. Desde 2013 aqui. Foi uma experiência extraordinária, muito enriquecedora pessoalmente para mim, e que nos permitiu, acho que as pessoas reconhecem isso, transformar a cidade para melhor. Pelotas vem se transformando muito. Eu acredito nisso, que todos os governos têm as melhores intenções, querem fazer o máximo. Isso é uma construção permanente, coletiva. No tempo que nos foi dado a governar, acho que fizemos muita coisa boa, muita repercussão positiva. E a maior de todas as obras é o fato de nós termos mais orgulho e mais esperança para os pelotenses. Mais expectativa de futuro, mais otimismo, uma autoestima melhor, admirando a cidade que cresce e se desenvolve. Não só pelo governo, todo mundo está fazendo sua parte. As instituições, os cidadãos, os artistas…
E para 2023?
Vai ser um ano muito difícil. Os municípios, no Brasil, lamentavelmente são reféns dessa política centralizadora. Viemos sofrendo com algumas decisões que são tomadas em nível nacional e federal que são desastrosas. Nós precisamos mudar o federalismo brasileiro. Ele é muito injusto com os municípios. E sendo injusto com os municípios, é muito injusto com os cidadãos. As cidades têm que ter mais autonomia. Eu tenho muitos projetos, vontade de fazer tantas coisas e não tenho recursos. Preciso ir lá, pedir para os deputados federais, pedir para a União, bater na porta do governo do Estado, porque se não a gente não faz nada. Isso é muito injusto. Esse ano vai ser muito difícil porque nós perdemos recursos, vínhamos conseguindo aumentar as receitas, tivemos esse baque da queda do ICMS que foi uma decisão que diminuiu tributos que tinham impactos nas finanças estaduais e municipais.
Passa pela sua cabeça uma reforma administrativa, com redução de secretarias, enxugar a máquina?
Chego a pensar, mas ao mesmo tempo, eu tinha um projeto que estava pronto desde o primeiro ano, e meu governo talvez tenha sido o único governo que não tenha conseguido condições de fazer a sua reforma no início dos seus quatro anos. Mas não houve condições políticas, não quisemos dar murro em ponta de faca. Depois criamos uma relação com os vereadores e eu sou muito grata, porque nos ajudaram a aprovar projetos muito importantes e significativos, mas esse acabou ficando engavetado. Então, tenho dúvidas, agora faltando dois anos, na segunda metade do governo, não é uma coisa comum. Não descarto completamente, mas tenho que ver se isso vai ter um bom acolhimento. É algo que é possível, mas não é Plano A.
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