Restauração

Domingo será dia de festejar a entrega da Nave Central da Catedral

Restauro da cobertura, obra imprescindível para salvaguardar este patrimônio, da ocorreu durante os últimos dez meses; evento terá missa de Ação de Graças pela manhã e atividades culturais à tarde

Foto: QZ7 Filmes - DP - Orçada em R$ 2 milhões, restauração da cobertura teve projeto aprovado pelo Pró-cultura - Lei Estadual de Incentivo à Cultura

Neste domingo, Pelotas recebe de volta, oficialmente, a cobertura da Nave Central da Catedral Metropolitana São Francisco de Paula totalmente restaurada. “Esta é uma parte muito importante desse restauro, determinante, porque ela é quem salva as pinturas e todo este patrimônio. O telhado é estrutural”, celebra o padre Luiz Amarildo Boari, pároco da Catedral. Foram dez meses de trabalho envolvendo uma equipe multidisciplinar, com mais de 30 pessoas, que atuaram em diferentes frentes como o projeto de Educação Patrimonial, indo além da restauração propriamente dita.

Orçado em R$ 2 milhões, o projeto foi financiado via Pró-cultura - Lei Estadual de Incentivo à Cultura (LIC) e contou com o patrocínio da Josapar, apoio de Biscoitos Zezé, o projeto é da empresa Perene Patrimônio Cultural. A nave central é um telhado de duas águas com cobertura de telhas francesas, localizado entre as duas torres, que vai da fachada até a cúpula. A única exceção desta etapa foi a lateral que dá para a rua Senador Mendonça, que ainda aguarda o restauro.

A ideia inicial era fazer somente o centro do telhado, mas com o bom estado do madeiramento foi possível ampliar a área. “Quando conseguimos acessar o telhado, verificamos que as madeiras estavam bem melhores do que imaginávamos, então conseguimos ampliar, fazer essa outra nave (à esquerda de quem entra) e mais aquele telhado pequeno ao redor da cúpula. Aumentamos muito a área a ser restaurada com os mesmos recursos. Agora falta bem pouco”, conta a arquiteta Simone Neutzling, da Perene Patrimônio Cultural.

Como agora a área é menor para se recuperar todas as coberturas, a produtora vai fazer mais um projeto para a finalização, que deve ficar em torno de R$500 mil, estima a arquiteta.

O padre Luiz Boari relembra que o trabalho de preservação da Catedral começou em 2009, quando começaram a ser feitos os diagnósticos que envolviam diferentes áreas, como telhado, elétrica e estrutura. “Mediante esse diagnóstico nós fomos atacando”, comenta. “O projeto global foi finalizado em 2009, mas a comissão de obras já vinha trabalhando desde antes”, diz a arquiteta.

Para Simone, o diferencial neste processo foi o planejamento estratégico desse processo de restauração. “Desde 2009 estamos trabalhando de forma contínua, com reuniões semanais com a comissão de obra e a equipe, sempre planejando com muito zelo as próximas etapas. A gente vai desenhando esse plano e executando conforme a área que está em pior situação, a urgência maior e adequando o tamanho do projeto em função da disponibilidade de recursos que temos naquele momento. Esse ano já está planejado e agora estamos planejando o próximo”, comenta Simone.

“É importante percebermos o valor deste patrimônio e a necessidade do cuidado permanente. Como uma casa precisa de reparos, aqui também é assim”, fala Boari. Simone entende que quando se fala em 14 anos de trabalho dedicado aos cuidados com a Catedral e dez meses de obra no telhado parece muito. “O tempo do patrimônio é diferente, até porque os prédios não foram construídos em um ou dois anos, quando restauramos a gente trabalha com técnicas construtivas antigas, a gente tem que resgatar aquele material, aquela técnica”, diz.

No caso do telhado, seria mais simples se fossem tiradas as e substituídas por novas, mas não seria uma restauração. “Então a gente tira telha por telha de forma cuidadosa, lava todas, classifica as que estão ou não boas, impermeabiliza e recoloca. Esse é um processo muito demorado. Por isso as pessoas dizem que a Catedral está sempre em obras, é por este motivo e também porque temos os recursos parciais, vamos fazendo por projetos”, fala a arquiteta.

O pároco ainda lembra a importância das leis de incentivo nesse processo, sem elas seria muito mais difícil chegar a esse momento. “Foi determinante pra nós.” Boari também louva o engajamento da comunidade em iniciativas menores, como a campanha, lançada no ano passado, para a restauração do assoalho de madeira existente nas naves central e laterais da Catedral. “A comunidade tem um carinho grande por esse patrimônio e queremos ampliar esse afeto à Catedral, é isso que estamos tentando fazer com iniciativas como a Semana Cultural. Neste domingo vamos fazer essa entrega com o envolvimento da comunidade. Isso é sinal de que queremos estreitar essa relação.”

Trabalho material e imaterial
O restauro da nave central resguarda a estrutura e as famosas pinturas projetadas e realizadas pelos artistas italianos Emilio Sessa e Aldo Locatelli. Os murais estavam em risco, já apresentando pontos de mofo, por exemplo, porque com o passar do tempo algumas telhas desencaixaram e/ou trincaram, provocando infiltrações. A abóboda (parte curva do forro), feita de estuque, corria sério risco de se desfragmentar, caso as infiltrações não fossem sanadas.

Além desse trabalho de extrema importância e urgência, o projeto da Perene previu ações de educação patrimonial, sob responsabilidade da antropóloga Liza Bilhalva e da arqueóloga Marta Bonow, que envolveram escolas próximas à Catedral, por exemplo.

“Normalmente as pessoas imaginam que foi só uma obra, o que já seria uma coisa maravilhosa, além da obra tivemos todas as atividades de educação patrimonial, temos o tour virtual por dentro da igreja, fizemos a impressão de uma maquete em 3D e também uma exposição permanente, que conta a história da Catedral e todo processo de restauração, que vem acontecendo ao longo dos anos, ainda os eventos na praça José Bonifácio que envolveram a comunidade”, conta Simone.

Somente neste último ano foram feitas quatro ações: o de abertura; o Dia do Patrimônio, quando houve uma conversa mediada sobre as pinturas; e a Semana Cultural da Catedral, em novembro. Os eventos são festivos, avalia Simone, mas também propiciam que se traga um público diverso, não só aquele que costuma frequentar a Catedral. “O engajamento com as escolas daqui da volta tem sido precioso”, elogia o padre. “A gente procura ir além da obra, fazer coisas que realmente vão tocar a comunidade. Para isso contamos com uma equipe muito qualificada de comunicação como uma ferramenta de aproximação.”

“Ressaltamos, mais uma vez, a importância da variedade de atividades com os mesmos grupos com quem se tem trabalhado ao longo dos anos, pois essas ações marcam as crianças durante seu processo educacional como indivíduo na sociedade. As visitas guiadas são sempre profícuas, e esse estar na Catedral, em contato com os elementos materiais e imateriais (histórias, odores, sons) que a formam, proporciona maior adesão do patrimônio como aspecto de construção das crianças enquanto sujeitos, pois apenas com a aproximação entre pessoas e bens patrimoniais pode propiciar que ocorram identificação com os bens, e, assim, o desejo que eles sejam preservados e façam parte de suas vidas - como temos mencionado ao longo do projeto”, avalia Liza Bilhalva.

Pausa para festejar
Para celebrar esse momento especial será realizada uma missa de Ação de Graças, às 10h30min. A comunidade também poderá celebrar com as diferentes atividades que ocorrerão, como feira criativa e apresentações musicais, das 14h às 17h. Também haverá uma visita guiada com a arquiteta Simone Neutzling, das 16h às 17h. O encerramento do dia será com missa.

Sobre o projeto
Equipe multidisciplinar que participou do projeto: 37 pessoas
(entre arquitetos, administrativo, produção cultural, mkt, comunicação, historiador, mão de obra especializada, comissão de restauro da Catedral, etc.).

A execução técnica da obra conta com a experiência do arquiteto Edegar Bittencourt da Luz e equipe da Arquium Construções e Restauro, com mais de 50 anos de atuação no mercado e expertise em obras de cobertura de prédios históricos.

Educação Patrimonial
As atividades de EP ocorreram com 251 estudantes do ensino fundamental das escolas Instituto São Benedito e Colégio Gonzaga, e com 59 estudantes do ensino médio da E.E.E.M. Monsenhor Queiroz. Para as crianças do ensino fundamental foram propostas atividades lúdicas a partir de palestras dialogadas sobre Patrimônio Cultural, sobre a Catedral e sobre o restauro, além de uma visita guiada e de oficinas de pinturas em telhas, tendo como referência a arte e o telhado do templo.

Esses grupos visitaram, ainda, as capelas das respectivas escolas, como forma de conhecer esses locais e suas histórias, bem como a relação desses prédios e suas artes com a Catedral e com os pintores Aldo Locattelli e Emilio Sessa.

Com adolescentes do ensino médio foram realizadas palestras dialogadas e uma visita guiada à igreja. Para esse grupo, oficinas de Histórias em Quadrinhos foram a escolha de atividade, aproximando, assim, o universo do templo à construção criativa e contemporânea de cenários e personagens que poderiam habitar a cidade de Pelotas e se relacionar com a Catedral.

As atividades de EP contemplaram ainda funcionários e membros da Comissão de Obras da Catedral, que puderam acompanhar detalhes da história deste patrimônio no contexto de formação da cidade e compartilhar suas histórias e experiências com este bem tão significativo para Pelotas.

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