Oportunidade

Jovens ganham novas perspectivas de vida com a música

Cerca de uma centena de alunos dos projetos do Sesc pelo Brasil vivem novas experiências em Pelotas

Foto: Carlos Queiroz - DP - Jovens instrumentistas são oriundos dos projetos sociais que compõem as Orquestras Jovens do Sesc pelo Brasil

O objetivo do Festival Internacional Sesc de Música é proporcionar aprimoramento técnico por meio de masterclasses e práticas em conjunto orientadas por profissionais renomados de diferentes continentes. Uma oportunidade que profissionais ou em vias de profissionalização disputam em seletivas acirradas. No meio desses grandes a organização guarda um espaço especial para quem está começando e, por vezes, não tem certeza se vai se profissionalizar ou não. São os jovens instrumentistas oriundos dos projetos sociais que compõem as Orquestras Jovens do Sesc pelo Brasil, que estão em Pelotas para uma imersão de 12 dias. Mais do que um aprimoramento no seu método de trabalho, daqui vão levar experiências e vivências para uma vida.

A 12ª edição do Festival, que começou na segunda-feira, dia 15, e vai até a próxima sexta-feira, em Pelotas está reunindo mais de uma centena de instrumentistas dos Sescs Pantanal, Minas Gerais, Roraima, Pará, Maranhão, Sergipe, Paraná, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Piauí e Pernambuco, além dos jovens das orquestras locais, a Municipal e a do Ginásio do Areal. "O que eles estão fazendo aqui é uma viagem formativa. Quem vem não volta da mesma forma, porque é uma imersão muito grande", comenta a analista de Música do Sesc Cajuína, no Piauí, Joeline Rodrigues, que está acompanhando seis alunos, com idades entre 17 e 20 anos, do Programa de Comprometimento e Gratuidade (PCG) do Sesc.

O núcleo representa a Orquestra Jovem do Sesc Piauí, formada pelos grupos das Unidades Cajuína e Caixeiral, que fica em Parnaíba. Essa não é a primeira vez que os estudantes deste estado participam do Festival, mas a cada edição o grupo de alunos se renova. Desta vez vieram: Andrey Cades (clarinete e clarone), Bianca Barbosa (cello), Anny Gabriele Amaro (cello), Ronald Gustavo Pereira Lima (trombone tenor), Ana Raíza Silva Pires (contrabaixo) e Francivanio Gomes dos Santos (percussão). Nenhum deles tinha saído do Piauí, nem sequer viajado de avião. "São formas bem sensíveis de você ver o potencial da música e dos projetos sociais, o que eles fazem na vida das pessoas", diz Joeline.

Os alunos começam desde pequenos no PCG e vão crescendo no meio musical. "Muitos alunos saem de lá e vão pra universidade. Muitos dos alunos da Orquestra do Piauí tocam em bandas, na orquestra da universidade. A devolutiva para a comunidade já está acontecendo", conta. Os alunos começam na prática de orquestra com uma média de idade de 17 anos, mas no Programa, entram ainda pequenos.

Formação e pertencimento

Estreante no Festival, o Sesc Paraná enviou um grupo de cinco jovens do Projeto Social Educação Musical. Participam: Kelvyn Silva Muniz (violino); Graziela Coelho de Figueiredo Voi Xavier, a única mulher com saxofone tenor no evento; Érica Cristina Carvalho Silva, trombone; Mariane Silva de Oliveira (flauta) e Rafael Lima Santana de Jesus (cello).

O coordenador Ricardo César Agostini conta que a proposta principal do projeto não é a formação de uma orquestra e sim oportunizar a musicalização para jovens. Desta forma, pré-adolescentes, com idades de 11 a 14 anos, que chegam por lá passam pelo módulo inicial de dois anos, chamado Orientação Musical. "Educação Musical Humanizadora é o viés que a gente defende e o que mais busca é o pertencimento, porque o principal motivo é fazer a criança se sentir útil de alguma forma", comenta Agostini.

O perfil de adolescente que entra no projeto é aquele que acha que não serve para nada, que vive à margem da sociedade e que acredita que não tem nada a contribuir. "A gente busca que eles se sintam pertencentes, não só na hora em que estão tocando, mas que eles sintam que pertencem à sociedade."

Neste sentido o gosto musical dos alunos é levado em consideração, sem preconceitos ou doutrinações musicais. "Nós perguntamos, qual é a música que você escuta. Tudo o que eles escutam a gente acha maravilhoso, é válido."

Ainda neste primeiro módulo os alunos escolhem um instrumento musical para aprofundar conhecimentos e depois de dois anos eles são conduzidos à orquestra. "Aí sim a filosofia é mais performance." O padrão é uma permanência de quatro anos, mas a maioria vai ficando mais um pouco. "Têm alunos que estão há sete, oito anos. Mas não é uma coisa que a gente cobra deles, é uma sequência natural ir para a Orquestra", comenta Agostini.

O projeto se desenvolve em Maringá, onde alguns desses alunos têm chegada à graduação nos cursos de Música, oferecidos pela universidade pública deste município. "Alguns não seguem a profissão de músico, mas fazem casamentos, ganham um cachê ou outro. A nossa proposta não é que eles virem músicos, mas cidadãos melhores usando a música. Queremos que eles pensem sobre, tenham a consciência do que ouvem do que lêem. É um combo que a arte traz pra gente", diz o coordenador.

vieram com cinco alunos, um sax tenor Os alunos estão maravilhados, eles estão aproveitando, indo aos concertos. "Eles estão maravilhados

Para abrir portas

O tubista Luís Felipe Souza da Silva, 19, da Orquestra de Sopros do Sesc Musicar, do Maranhão, iniciou o projeto em 2018. O jovem já tinha tocado trombone e bombardino, quando um amigo lhe falou sobre o Sesc Musicar e sobre o Festival em Pelotas. "O projeto abriu várias portas para mim. Antigamente eu não tinha confiança em tocar só, hoje eu toco sozinho. Hoje eu consigo estudar só. O projeto também me tirou da rua, porque eu andava muito na rua, em más companhias", comenta.

Silva, que terminou o Ensino Médio, conseguiu comprar o próprio instrumento com os cachês. "No momento eu estou na Escola de Música do Maranhão, na Orquestra do Sesc e na sala de aula, como professor", orgulha-se. A ideia do jovem é seguir na profissão. Estreante no Festival, diz que desde o primeiro dia obteve muito aprendizado. "Aqui mesmo estou pondo em prática as dicas que recebi do professor", conta.

Andrey Cadis, 17, do Piauí, começou a tocar na Orquestra Caixeiral Jovem, em 2022, com 16 anos. "A partir daí eu fui me desenvolvendo mais musicalmente. Tocar com um grupo acrescentou muito na minha formação musical", conta.

O adolescente ainda não sabe se vai se tornar músico profissional, caso isso aconteça ele quer atuar em orquestras. "Essa coisa do erudito, da orquestra combina mais comigo", fala ao lembrar que a família dele é de músicos de sopro da cultura popular. "Eles (tios e primos) têm banda, ganham dinheiro com isso.", conta.

Apesar dessa ascendência familiar, o clarinetista diz que não se sente pressionado a seguir tocando, ele o faz por prazer mesmo. "A música se tornou uma peça fundamental na minha vida, não só para me divertir. Mas até como uma forma de terapia, porque eu não consigo me imaginar sem música. Penso que sem música a vida não teria cor", diz.

Regente com experiência

Além das aulas próprias para os seus instrumentos, os jovens músicos participam dos ensaios práticos de orquestra, ou seja, o estudo em conjunto do repertório. Na quarta-feira, às 20h30min, eles vão mostrar ao público tudo que aprenderam ao longo destes dias. O concerto será no Theatro Guarany, às 20h30min, sob a regência do maestro Geovane Marquetti.

Marquetti, que atua como violinista na Orquestra Theatro São Pedro, na capital, Sphaera Mundi Orquestra e Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, conta que é oriundo de projetos sociais em Volta Redondo, no Rio de Janeiro, onde nasceu. O músico começou aos cinco anos e aos 14 anos era monitor do projeto, essa experiência o colocou em 2020, na sua estreia no Festival, trabalhando com as orquestras do Areal e Municipal de Pelotas.

No ano passado, Marquetti fez o mesmo trabalho que está fazendo atualmente, quando pela primeira vez o evento teve uma orquestra com formação sinfônica formada por jovens alunos dos projetos do Sesc. "Foi uma experiência incrível porque cada um traz um tipo de vivência, de história. Alguns alunos que vieram do norte ou nordeste do país, nunca tinham ido a uma sala de concerto e nem conheciam alguns instrumentos, como a harpa e o fagote, então é uma experiência muito enriquecedora", conta.

O músico se identifica muito com seus alunos, porque se lembra que um dia também foi um jovem carente, no seu caso a carência era cultural. "Aqui, nessa imersão, eles têm a oportunidade de vislumbrar em outros músicos, que vêm de todo mundo, a possibilidade de viver da música", diz o regente.

Para Marquetti a exigência de muita dedicação ao estudo musical é positiva, porque ela ocupa a mente com a busca pelo aprimoramento. "A música exige muito, então é uma forma de vida mesmo, pode mudar a vida não só do aluno, mas da sua família."

Nestes dias Marquetti tem lidado com alunos de níveis diferentes de conhecimento, mas isso não é um problema porque todos são muito dedicados. "Todos estão querendo fazer o seu melhor, eles não deixam de mostrar interesse o tempo todo, eles tentam fazer aulas a mais.

Sábado

13h - Recital de Alunos (Conservatório de Música da UFPel - rua Félix Xavier da Cunha, 651)
17h - Big Band Democrata - Palco Móvel Sesc (Parque da Baronesa)
19h - Recital de Metais, Percussão e Piano - Flavio Gabriel (BRA), Eric Aubier (FRA), Alma Liebrecht (EUA), Bernardo Silva (PRT), José Milton Vieira (BRA) Rodrigo da Rocha (BRA), Luiz Ricardo Serralheiro (BRA), Fernando Deddos (BRA), Douglas Gutjahr (BRA), Rubén Zúñiga (CHI), Paulo Bergmann (BRA), André Carrara (BRA) (Clube Caixeiral - Praça Cel. Pedro Osório, 106)
19h30min - Gafieira do Festival - Festival na Comunidade (Nave - Rua Antônio dos Anjos, 98)
20h - Especial Queen | Orquestra da Ulbra e Vocal Takt - Praia do Laranjal (Palco do Festival) - Espetáculo com serviço de tradução em Libras

Domingo

17h - Autocine Brazilian Blend - Palco Móvel Sesc (Parque da Baronesa)
18h - Recital Classe de Piano (Conservatório de Música da UFPel)
18h - Grupo de Metais do Festival (Casa da Praia Sesc Laranjal)
19h30min - Big Band Democrata (Nave, rua Antônio dos Anjos, 98)
20h30min - Orquestra Sinfônica Acadêmica | Regente Tadeusz Wojciechowski (POL) (Theatro Guarany, rua Lobo da Costa, 849) - Espetáculo com transmissão ao vivo pelo site do Festival e com serviço de tradução em Libras
21h - Sexteto Gaúcho (Food Hall Quartier, rua Joal Teitelbaum, 730)


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