Literatura

Pesquisador rio-grandino lança livro sobre o "crime dos banhados"

Na obra, Cledenir Mendonça aborda as narrativas que surgiram sobre a chacina e os mistérios a que envolveram

Foto: Divulgação - DP - Sessão de autógrafos será nesta sexta-feira

A chacina que aconteceu no início do século 20, na fazenda do Passo da Estiva, na região do Banhado do Taim, em Rio Grande, é tema do recente livro do pesquisador e historiador rio-grandino Cledenir Vergara Mendonça. Em O crime dos banhados - Versões, construções discursivas acerca de um crime o autor procura ir além da tragédia ao retratar as implicações sociais e políticas daquele período e as diferentes narrativas que surgiram sobre o ocorrido. A publicação, que resulta do projeto Lei do Livro, tem sessão de autógrafos nesta sexta-feira (1º), às 20h, na Sociedade Instrução e Recreio da Vila da Quinta, distrito do município.

Conhecida como o Crime dos Banhados, a chacina vitimou a família Silveira de Azevedo, mãe (Clementina) e seus filhos, com idades entre 13 meses e 9 anos, em abril de 1912. Na época, o corpo do marido de Clementina, pai das crianças, não foi encontrado. "Anos depois um lindeiro fazendo uma linha de arame no meio do banhado achou um corpo. Seria do Manuel Silveira de Azevedo? Bem provável. Mas tudo era silêncio", comenta o autor.

Segundo Mendonça, o "crime dos banhados" se constitui em um fenômeno histórico, que anunciou uma série de movimentos heterogêneos, quanto a sua amplitude de ação na sociedade rio-grandense com seu envolvimento direto ou indireto no campo político, social, cultural e econômico. "Eu estou falando de 1912. As primeiras décadas de um novo século, com as suas múltiplas invenções que significaram transformações no modo de viver das pessoas. A luz elétrica, o cinema compõem um dos cenários que eu chamo de alegria e de ilusão", fala.

Essa modernidade também se explicita na obra da Barra em Rio Grande, finalizada em 1915. Na obra o pesquisador levanta que, naquele momento, havia uma necessidade, expressa no governo Republicano de Borges de Medeiros, de inserção da economia gaúcha nos moldes capitalistas. "A abertura da Barra era urgente para o desenvolvimento do Estado, mas quem tinha o poder político e econômico da cidade eram as velhas oligarquias rurais, representadas pelo intendente Trajano Augusto Lopes."

Na boataria que se espalhou pela cidade, na época, Lopes, representante da oligarquia rural, seria o mandante do tal crime, uma lenda que o próprio autor chegou a acreditar um dia. "Mas ele já estava morto quando ocorreu o crime".

Pesquisa de graduação

A pesquisa sobre o crime que chocou os cidadãos da região e do país começou durante a graduação de Mendonça em História, pela Furg, e se completou durante a especialização. Um trabalho de mais de dois anos, feito basicamente em jornais.

"Procurei nos jornais, no processo crime, que está no arquivo público de Porto Alegre, tive de entender todas as falas, as posições de cada jornal, porque cada um puxava para um lado", fala ao lembrar que o propósito era entender como se deu a construção dessa espécie de lenda urbana que apontava para Trajano Lopes a autoria intelectual da matança.

Naquele período em que Rio Grande vivia extremamente convulsionada, com greves, paralisações e ações dos sindicatos, um contraponto ao ambiente rural de antes. Oficialmente o crime ficou sem solução, o Supremo Tribunal do Estado alegou que as provas apresentadas não eram suficientes.

Filme em Pelotas

A trágica história foi tema do longa-metragem de 1914, considerado um dos primeiros do país, produzido pela Guarany Filmes, de Pelotas. "Foram feitas cenas na chácara da Baronesa e em Rio Grande", lembra o autor.

O filme, dirigido por Francisco Santos, fez muito sucesso na época, mas com o tempo desapareceu, restando apenas a imagem de um único frame. A falta de informações sobre o fim do longa também foi motivo para levantar suspeitas de uma tentativa de apagamento histórico.

Lei do Livro

O projeto Lei do Livro, instituído em 2014, é promovido pela Câmara Municipal do Rio Grande, juntamente à Secretaria de Município da Cultura, Esporte e Lazer (SCEL) e viabiliza a publicação e distribuição gratuita de exemplares a instituições educacionais e culturais de Rio Grande, com uma porcentagem de 20% para a autora da obra selecionada.


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