Espetáculo

Uma ópera rap para cantar um canto do mundo

Origem do loteamento Dunas inspira musical, escrito e dirigido por Clóvis Veronez, que estreia nesta quarta-feira (20)

Fotos Ítalo Santos - Especial DP - Jovens do Dunas integram o elenco

O surgimento do loteamento Dunas e os 50 anos do movimento hip hop inspiram a ópera de rua Dunas: O canto de um canto do mundo - HiPHoPera!, musical escrito e dirigido pelo ator, diretor e dramaturgo pelotense Clóvis Veronez e que estreia nesta quarta-feira (20). A proposta é uma curta temporada de quatro apresentações diárias até sábado, sempre às 20h30min, em uma arena montada junto à Ong Comitê de Desenvolvimento do Dunas (CDD), do Dunas. A entrada é um quilo de alimento não perecível.

A ópera rap totalmente inédita tem dramaturgia, direção, cenografia e iluminação de Veronez, que celebra 40 anos de atuação nas artes cênicas de Pelotas e 38 do grupo, criado por ele, o Usina de Teatro. O musical multidisciplinar, que une teatro, dança, música e audiovisual, leva à cena um corpo de baile formado por 25 pessoas, um grupo de solistas com mais de dez artistas e seis atores.

Alguns atores foram convidados, mas o espetáculo, basicamente, tem a participação de jovens moradores do Dunas, que se formaram durante a produção do espetáculo. Segundo Veronez, o trabalho está sendo desenvolvido desde 2 de janeiro, de lá para cá foram realizadas 40 oficinas de preparação, que abrangeram as áreas de atuação cênica, dança, composição de rimas, cenografia e iluminação.

Este processo arte/educativo foi que construiu a base do elenco que atua no espetáculo. "A gente acredita num projeto de arte total à margem da cidade e também num processo de economia criativa como fator de desenvolvimento local", diz Veronez.

As composições do espetáculo também são originais com letra do próprio Veronez e música do rapper Mano Rick e do percussionista David Batuka, que faz a produção fonográfica.

Sonho realizado

O desejo de realizar esse ousado projeto surgiu durante a pandemia, quando Veronez se candidatou ao prêmio Trajetórias, da Secretaria de Cultura do município (Secult). Na época ele disse ao produtor executivo da ópera, Herberto Mereb, o Betinho, que se fosse contemplado ele criaria uma ópera rap, para aproveitar todo o potencial do estúdio livre do CDD.

Sonho que está sendo realizado agora, a partir de outro projeto agora financiado por edital da Sedac-RS para montagem de espetáculos. "Surgiu a ideia de construir um espetáculo que relatasse a luz das compressões que deram origem ao surgimento do loteamento Dunas", explica Veronez.

O dramaturgo comenta que a história do surgimento do Dunas é comum ao de outras periferias brasileiras. "O êxodo rural e a preservação das áreas de melhor qualidade urbanística para especulação imobiliária. Então as populações mais carentes acabam, por diversos motivos, se alojando na periferia das grandes cidades", comenta.

Uma peculiaridade marcou o nascimento do Dunas, relembra o artista. "Essa era uma área alagadiça era de propriedade de um devedor de impostos do município e essa dívida foi negociada para construção do loteamento com moradias populares. Na origem se pensou no Núcleo Habitacional Dunas como um espaço para abrigar mulheres, especialmente mães solteiras, e se prometeu uma estrutura, que não aconteceu. Foi entregue um terreno sem as menores condições de habitação e o loteamento se transformou numa ocupação popular", relembra.

Ao remontar essa história o dramaturgo traça paralelamente a história do Movimento Hip Hop no Brasil. "Talvez, não por acaso o hip hop construiu um ninho aqui no Dunas que é muito forte, especialmente por esse trabalho do Dunas Rap", diz. A obra passa ainda por outras temáticas que afligem as periferias, como a violência e o direito a ter direitos. "E trabalhos com dois conceitos que são fundamentais, o direito à cidade, questionando qual cidade é essa, a do centro, que tem toda a sua infraestrutura definida, ou a da periferia, que é onde temos os maiores problemas, mas é onde de fato as pessoas desenvolvem seus afetos?", questiona.

Ópera em dois atos, o espetáculo começa abordando a origem do loteamento Dunas, os tipos sociais que ocuparam aquele espaço. A partir do final do primeiro ato e durante todo o segundo o texto aborda os conceitos citados pelo diretor.

Orgulho e autoestima

A escolha pela apresentação do espetáculo no próprio Dunas é para o autor um presente para essa comunidade que se orgulha do local onde vive. "O Dunas tem uma coisa que eu não conheço em outro bairro. As pessoas têm uma autoestima aqui, gostam de dizer: Eu sou do Dunas. Para essa juventude que frequenta as atividades culturais do CDD foi fantástico para eles enquanto seres humanos dentro da sua comunidade e apresentar no seu local de vida. A cidade que venha nos assistir aqui, onde a gente está."

Encantada com a obra que vai ser apresentada, a partir de hoje, a MC Visionária, estudante de Teatro e moradora do Fátima, tece elogios ao projeto. "É uma coisa fantástica essa junção do teatro clássico com a cultura negra periférica e essas coisas se integrando, criando novas possibilidades de acesso à cultura dentro da periferia é bem importante", diz a jovem, que está entre os seis MCs do elenco, que vão reproduzir o ambiente de uma batalha de rima dentro do espetáculo.

Serviço
O quê: Dunas: O canto de um canto do mundo - HiPHoPera!
Quando: a partir desta quarta-feira (20) até sábado (23), às 20h30min
Onde: CDD do Dunas
Ingresso: um quilo de alimento não perecível
Projeto Dunas: o canto de um canto do mundo foi acessado e é executado pelo Instituto Universidade da Periferia (Uniperiferia), tem realização da Usina de Teatro e Núcleo de Artes do Comitê de Desenvolvimento do Dunas (CDD) e está sendo realizado com recursos do Pró-Cultura RS FAC

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