Entrevista
Leocir Dall’Astra: “Eu queria deixar o clube pelo menos em uma Série C”
Em visita ao Diário Popular, técnico do Pelotas aborda diversos temas como a carreira, a escolha de treinar o Lobo, o objetivo dentro do clube, o momento do Áureo-Cerúleo e a pré-temporada
Foto: Jô Folha - Técnico admite que a equipe não vai figurar entre as favoritas para subir, mas diz estar no maior clube da competição
Faltando duas semanas para começar a Divisão de Acesso, o Pelotas segue diariamente os treinos de pré-temporada. Na quinta-feira (30) o técnico Leocir Dall’Astra visitou o Diário Popular.
O treinador do Lobo abordou o momento da carreira, o porquê quis tanto continuar no Pelotas mesmo com propostas superiores e o momento do clube, a montagem da equipe para disputar a Série A-2 e a preparação. A estreia do Lobo na Divisão de Acesso acontece no dia 15 ou 16 de abril contra o Santa Cruz, no estádio dos Plátanos. Confira a entrevista.
Diário Popular: O que te motivou a querer ser técnico do Pelotas em 2023?
Leocir Dall’Astra: Talvez pela experiência que eu tenha em outros clubes. O dinheiro é sempre importante, financeiramente a gente trabalha pra isso, porém tem outra coisa que eu acho hoje mais importante. Hoje penso apenas em fazer um bom trabalho. Se for analisar todos os times da Divisão de Acesso, o Pelotas é o melhor clube para se trabalhar, em termos de estrutura. Se tu me perguntar se é o melhor time, não é, talvez seja o sexto ou sétimo por investimento, por aquilo que está acontecendo no mercado. Mas eu sei, por outro lado, que trabalhar no Pelotas eleva teu status. Eu sei que se conquistar aquilo que o clube deseja vai valorizar muito o meu trabalho, muito mais que se tivesse dinheiro. Apesar de estar com a idade avançada, me sinto muito jovem e capaz. Eu penso também no futuro. Penso que subir aqui cria uma atmosfera totalmente diferente. Cabe ao nosso trabalho junto com a comissão técnica, com jogadores e torcedores, fazer esse trabalho em conjunto. Eu tinha proposta a 70 quilômetros de casa [Leocir reside em Erechim], salário bem maior, mas optei em vir aqui porque é diferente, a atmosfera quando está em uma situação agradável. Se tiver negativo tu já sabe como é a dificuldade. Porém eu acredito no meu trabalho, bom passar por dificuldade, sacrifícios, mas vamos atingir os objetivos. Primeiro é a classificação e depois o mata-mata, um campeonato à parte. Eu sei que nós podemos sim fazer um grande trabalho.
DP: Tu consegue projetar teu trabalho a longo prazo no Pelotas, ficando para um eventual Campeonato Gaúcho, tentando colocar a equipe em um cenário nacional?
LD: Eu só acredito nisso. Posso vir aqui e encher vocês de elogios, promessa, é fácil, é muito fácil falar. Eu trabalho muito com a realidade. Eu acho que trabalho pra marcar o nome na história. Eu quero marcar o nome na história. Eu queria deixar o clube pelo menos em uma Série C de Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil, lógico. Tudo depende de uma coisa só, que é subir. Se não subir tu não vai atingir nenhum dos objetivos. A prioridade é subir. Subiu, aí vamos priorizar outras coisas. […] Depois se eu sair tudo bem, mas meu sonho é esse. Dinheiro todos nós precisamos, mas não é questão de dinheiro, a questão é de fazer um trabalho. Eu quero é marcar, como marquei no Cerâmica, fiquei três anos e meio, no Cruzeiro, fiquei dois anos, os meus anos no Ypiranga. Quero marcar. Passar para aventurar e prometer coisa, para depois não dar certo e ir embora, não é esse o meu sonho. O meu sonho é passar por aqui e sair como um dos melhores treinadores que passou.
DP: Pensa em parar de trabalhar como técnico, ocupar algum cargo como dirigente?
LD: Estou pensando muito nisso. Queria deixar o Pelotas em uma Série C, pegar como peguei aqui, como o Rogério pegou o Brasil, como peguei o Ypiranga, o Tencati no Londrina. Esses caras ficam na história do clube. Queria deixar na Série C. Depois quero ser um executivo. Quero ser muito próximo do treinador. Entendendo toda a mecânica. O fortalecimento e organizar o Pelotas de uma maneira diferente. O mais profissional possível, que acho importante. Não é tanto o recurso financeiro maior. É direcionar bem os recursos, fazer uma gestão limpa, não que essa não seja. Tendo a parceria com empresários sim, mas muito pouco.
DP: O que o Pelotas precisa melhorar como clube?
LD: Administrativamente não posso falar, eu não estava aqui. Muitas coisas precisam mudar. Alguns paradigmas tem que se quebrar. Isso é uma coisa óbvia. Acho que tem que profissionalizar as coisas. Não é colocar um profissional em cada setor. É fazer com que as coisas tomem um rumo, um caminho programado. Por exemplo, na comissão técnica, escolher uma cara capaz, correto, leal, que não vai sair por uma proposta melhor. Acontece muito. Dou razão para os treinadores, mas eu não sou assim. Já me ofereceram o dobro e eu não saí. Só que do outro lado não tem essa cumplicidade. Em dois jogos ruins, primeira coisa mandam o treinador embora. Aimoré trocou o treinador e não aconteceu nada, caiu. Se não tiver jogadores com uma formação, disciplina... O Ypiranga nunca vai cair, só se mudar a estrutura. O São José não precisa gastar muito, mas tem uma estrutura e mercadoria para oferecer para os jogadores. Temporada de um ano, pode oferecer dois anos. Jogador gosta de ter estabilidade para trabalhar com tranquilidade.
DP: Qual está sendo o projeto apresentado para convencerem os jogadores a acertar com o Pelotas?
LD: Eu cito o meu exemplo. Muitos não vêm, muitos preferem o lado financeiro. É muito pouco que estamos oferecendo e a diferença é grande. A única coisa boa que estamos oferecendo é que é o melhor clube da Divisão de Acesso, mas disparado. O clube de futebol Pelotas não tem pra ninguém e eu sou suspeito para falar isso. O Passo Fundo também tem torcida, investimento, bem organizado, mas não tem ninguém perto do clube Pelotas. O Pelotas está acima como clube de futebol e camisa. Agora se é o melhor time, eu digo que não, está entre os dez. Posso citar seis, sete que são disparados os melhores. Talvez organizados, talvez no investimento. O Guarany de Bagé está na frente, perdemos jogador para eles financeiramente. Santa Cruz nem se fala. […] O Inter de Santa Maria financeiramente está melhor que nós. Esses três aí estão na frente. No outro lado o Passo Fundo tem investimento, Monsoon não tem torcida, mas tem investimento. Veranópolis sempre fala que não vai disputar, talvez seja igual a gente, mas sempre dá condições melhores. União Frederiquense é um time que investe muito, organizado e dá uma condição muito boa. Pra ti ver que tem uns cinco, seis times com muito mais investimento que a gente. Agora os resultados só vamos ver depois do fim do campeonato.
DP: O Pelotas precisou começar a montagem do elenco para esse ano do zero. O quanto a falta de continuidade dos jogadores atrapalha?
LD: Não ficou ninguém, o trabalho na verdade foi em vão. Serviu para conhecer o clube, alguns defeitos, algumas qualidades. Bom pra fazer a amizade e essa parceria com o torcedor, apesar que muitos ficaram chateados, como nós ficamos também, o objetivo não foi alcançado. Eu nunca vou falar que o objetivo era chegar na final. Internamente temos os nossos objetivos claros, mas não podemos ficar falando muito isso. Os outros times também usam isso contra nós. Eu tenho os objetivos muito claros aqui, mas temos que respeitar os outros também. Eu sempre falo para o torcedor que estamos trabalhando com humildade.
DP: No atual grupo de jogadores do Pelotas, vários ainda estão em fase de avaliação. Como está o desempenho deles na pré-temporada?
LD: Nossa dificuldade é tão grande que tinha mais jogador em teste do que jogadores contratados. Tem o Nicolas que é um guri do futsal, muito bom, gosto muito dele. O Cláudio Júnior foi um dos destaques no último jogo-treino. Tecnicamente peca um pouquinho. Na parte tática tem que corrigir muito. Pode jogar, mas tem que corrigir a parte das linhas, trabalhar mais para que possa cumprir taticamente algumas coisas. Ele não fica na linha, tem dificuldade taticamente. É um jogador que pra mim fica. Nicolas também. Ajudam muito o treino e podem jogar. O amadurecimento é no dia a dia. [...] O Paz [centroavante] é um cara que trabalha pra caramba. Ele pela parte técnica não fica, mas é um cara muito dedicado, aplicado. Não me atrapalha em nada, então acredito que fica. [...] Eu gosto de ter dois centroavantes, mas temos três. O Batata que chegou agora gosta de jogar no lado, de fora pra dentro. Robério já gosta de jogar mais centralizado. A gente pode compor o time um pouquinho diferente.
DP: Quais as maiores carências do elenco neste momento?
LD: Lateral-direito não temos. Estou usando o Paulo Lucas. Eu gosto do Paulo pela bola aérea, principalmente na estreia. Na estreia terá muita bola aérea. Em Santa Cruz o campo não é tão grande e eles jogam muito com bola aérea. Já estou preparando o time. Ainda falta um volante, ou dois, mas não vamos trazer dois. Talvez um nome de qualidade muito acima. Um cara diferenciado pra gente ter condições de brigar lá em cima. Eu queria também mais um extrema. Nós sabemos que Taiberson, Robério e Escobar vêm de inatividade de seis, sete meses ou mais. O histórico do Taiberson é de lesão. Eles vão sentir mais, pode sentir uma lesão também. Temos que ter o cuidado de ter jogador para suprir.
DP: Como o Germano pode ajudar, sendo um jogador identificado com o clube e que pode atuar em várias funções?
LD: O Germano é um coringa. Ele vai ser o segundo volante, um meia, um extrema talvez, um extrema falso para compor o meio. Vai ser estratégia, eu gosto de jogar com dois extremas de velocidade. Talvez na estreia a gente mude alguma coisa para ganhar o meio-campo, alguma coisa nesse sentido.
DP: Com os jogos-treino, a pré-temporada deste ano está mais proveitosa que a do ano passado?
LD: Se eu te falar que o time que começou o último jogo-treino vai ser totalmente diferente da estreia... O ano passado eu contava com todo o grupo, sabia que eram aqueles ali. Hoje não, na quarta-feira chegou um novo zagueiro. É um cara que vai jogar, então já não é o mesmo time. [...] O meio talvez mude, Escobar não treinou ainda, teoricamente vai ser o titular. Tem mais um chegando, aí pode ser que o time seja um pouco diferente da formação atual. Na frente o Batata joga. Chegando mais um extrema, aí vamos ver quem estiver bem. Vou dar prioridade para quem tiver condições de jogar 90 minutos. Se vai jogar os 90 minutos eu não sei, mas precisa estar apto para jogar todo o jogo. [...] Não posso mudar uma estratégia por necessidade. Vamos ver o que vai acontecer.
DP: Está sendo possível acompanhar os adversários?
LD: Agora tem mais amistosos. Vamos tentar conseguir os vídeos. Já temos informações de que maneira jogam. Eles [Santa Cruz, rival da estreia] têm uma estratégia de jogar, mas isso muda, nosso time mesmo ainda vai mudar muito. Os extremas podem mudar. O meio-campo pode mudar 75%. Isso a gente não sabe, como vão vir esses jogadores. Vão estar aptos, o Escobar vai estar ou não. Tudo isso é estratégia. Quem tiver bem vai jogar [...] Os primeiros jogos é para testar uma equipe, testar outra e ver como o jogador está, como responde. Eu particularmente gostei do que vi no último jogo-treino. Depois eu me irritei vendo o vídeo. Coisas que treinamos e não saíram por movimentos errados. Isso ainda tem que automatizar, e só com o tempo. O adversário também impõe dificuldades, não é só nós jogando. [...] Se encaixar vamos fazer um time bastante competitivo, não vai ter muita diferença para as outras equipes.
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