Inclusão

Mulekada do Navega representa a Zona Sul nos mata-matas da Taça das Favelas

Campeão regional, time pelotense do Navegantes se prepara de olho nas quartas de final, marcadas para sábado, no CT do Grêmio, em Eldorado do Sul

Foto: Pedro Lopes - Especial - DP - Time venceu o SER Zodíaco, de Rio Grande, por 2 a 1, na última quinta-feira, na Boca do Lobo

Campeão da etapa da Zona Sul da categoria masculina da Taça das Favelas RS na última quinta (2), o Mulekada do Navega, do Pelotas, vive um sonho. A gurizada do projeto fundado há nove anos pelo presidente Tiago Barbosa está classificada para disputar os mata-matas da competição. No próximo sábado o palco dos jogos será o CT Hélio Dourado, do Grêmio, em Eldorado do Sul.

“Meu filho hoje tem 20 anos. Na época com 11, levei ele pra jogar futsal. Eu estava desempregado, não consegui pagar e a escolinha não deixou ele treinar. Ficou abatido, pedindo pra treinar. Vi que ele gostava e falei: ‘o pai vai fazer uma escolinha pra tu jogar, tu e os guris’”, diz Barbosa, se referindo ao tradicional campo do São Jorge.

O que começou como um esforço de pai para filho foi atraindo atenções. A quantidade de crianças chegou a cerca de 80, conta Tiago. O Mulekada então deixou o campo do São Jorge e passou a operar em uma quadra alugada, mas a falta de recursos financeiros forçou uma parada. Sempre gratuito, o projeto funciona atualmente com treinos no ginásio da Libanesa.

Custeio do deslocamento à região Metropolitana é bancado pela Cufa. Foto: Pedro Lopes - Especial - DP

Resultados positivos

A vitória por 2 a 1 de virada sobre o SER Zodíaco, de Rio Grande, na Boca do Lobo, semana passada, foi só mais uma da trajetória do Mulekada do Navega. Em agosto, a equipe conquistou a etapa de Pelotas da Taça das Favelas. Há algum tempo disputando torneios de futsal pela cidade, o time do Navegantes coleciona triunfos. O que gerou, segundo o presidente, olhares preconceituosos de alguns oponentes.

“Veio o primeiro campeonato de futsal e a gente foi vice-campeão. Depois veio o primeiro convite pra jogar o Citadino da LPF [Liga Pelotense de Futsal]. Na oportunidade a gente foi pra semifinal, entre os quatro, e perdemos pra Agremiação. Parei um ano por causa das dificuldades financeiras. Quando a Mulekada ficou mais conhecida, o pessoal começou a procurar”, conta Tiago Barbosa, citando o vereador Marcos Ferreira (UB) como incentivador do projeto.

A chance de disputar a Taça das Favelas, no futebol de campo, acabou aceita porque vários garotos jogam competições nos gramados em outros times locais – há representantes inclusive no Progresso, potência estadual na base. Nas quadras, o Mulekada alcançou títulos municipais sub-11, sub-13 e sub-15. “Veio mais gente procurando. Um guri saiu pro Grêmio, outro pro Inter. O pessoal começou a me procurar pra tirar os melhores. Diziam que eu não era um professor formado, que eu era um ‘curioso’, e às vezes alguns pais caíam na lábia”, desabafa o presidente.

Exigências e dificuldades

Para integrar a equipe, a coordenação cobra bom rendimento escolar, caso o jovem esteja em idade de frequentar o colégio. “Se não estiver bem na escola, não participa. É bom o futebol, mas eles têm que ter um plano B também. Se não der no futebol, tu fica sem estudo, sem nada”, diz Barbosa. Há atletas já no mercado de trabalho, por exemplo.

“O menino que fez gol na final [da etapa regional da Taça das Favelas], Luis Antônio, tem 16 anos e está comigo desde os nove. É um menino que não tinha nem condições de vir, morava lá na Terezinha. A mãe e o pai não tinham condições de pagar, eu ia buscar ele de carro e levava pra treinos e jogos. No início do ano foi aprovado no Grêmio”, diz o fundador do projeto.

O Mulekada jogou a Taça das Favelas com uniformes emprestados, já que o fardamento principal fica pequeno nos maiores – o projeto atende crianças desde os cinco anos. Durante a preparação para o torneio estadual, os treinos aconteceram em uma quadra society, com pagamento dividido. Nessas atividades, Tiago tem o apoio do irmão Daniel e do amigo Roger.

“A gente tem pouca ajuda. Ajuda zero, na realidade. É um projeto que vem há nove anos dando oportunidade de graça, sem cobrar mensalidade, sem cobrar nada dessas crianças, e a gente não tem o Ginásio Municipal pra treinar. Hoje a gente treina no Libanesa. O vereador ajuda e o restante peço pros pais, cada um ajuda com o que pode”, fala o responsável.

Satisfação

Coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) Pelotas, que organiza o campeonato em conjunto com o governo do Estado, Sandro Mesquita exalta a mobilização de equipes e projetos sociais que permitem a transformação por meio do esporte. A Cufa custeará o deslocamento do Mulekada até Eldorado do Sul.

“Tenho primeiro o sentimento de alegria por poder desenvolver as etapas municipal e regional do maior campeonato de futebol de favelas aqui na cidade e utilizando através da parceria os dois estádios [Bento Freitas e Boca do Lobo], ou seja, proporcionando pro jovem que sonha em ser jogador a possibilidade de pisar nos gramados onde jogaram vários ídolos”, exalta.

Competição

Na categoria masculina, além do time do Navegantes já estão garantidos entre os oito melhores o Sport Club Americano, de Novo Hamburgo, o River da Estalagem, de Viamão, o Grêmio Esportivo Municipal, de Montenegro, e o Esporte Clube Recreativo Vitória, de Santa Maria. Três times ainda se classificarão às quartas de final antes do sábado, em outras regiões. No feminino, sem a presença da Zona Sul, há também cinco projetos classificados para os mata-matas.

Ao total, 25 cidades do Estado contaram com representantes na Taça das Favelas RS. Este sábado terá quartas e semifinais do torneio. As finais masculina e feminina estão agendadas para o dia 18, no Sesc Protásio Alves, em Porto Alegre, às 14h.

Time do Mulekada

Luis (goleiro)
Erick (goleiro)
Eduardo Mattos (goleiro)
Jeck
Prietsch
Bispo
Bruno
Maurício
Totonho
Wesley
Bryan
Sabino
João
Micael
Gustavo
Alector
Tony
Kauã
Guilherme
Kauê

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