História

Pesquisador rio-grandino aponta erros na história da Seleção contada pela CBF

Analisando dados e notícias desde o surgimento da Canarinho, Junior do Vale vem reescrevendo o passado do Brasil em campo e aguarda o reconhecimento da entidade máxima do futebol brasileiro

Foto: Carlos Queiroz - DP - Do Vale com o livro oficial da CBF de 2004 e a revista Placar de 1986 com dados desde 1914 da Seleção

Pesquisador esportivo por hobby, Junior do Vale hoje é uma das principais referências do País quando o assunto é a história da Seleção Brasileira. O rio-grandino, que mora em Pelotas, se dedica desde janeiro do ano passado a reescrever os mais de cem anos do Brasil.

Do Vale é pesquisador desde 1989, quando tinha apenas 13 anos. Durante todo esse período, focou nos times da região Sul e na dupla Gre-Nal. O norte de seu trabalho mudou quando optou por ler sobre a Seleção Brasileira e percebeu a ausência de algumas informações que recordava. Ali iniciou um novo projeto: reescrever a história completa da Seleção, incluindo jogos-treinos, amistosos, base etc.

“Vou voltar desde o início e vou conferir tudo. Vou trazer o que eu quero e vou trazer outras divergências. Aí não parei mais. Desde janeiro do ano passado eu pesquiso sobre a Seleção Brasileira todos os dias”, disse Junior do Vale ao Diário Popular.

Ao aprofundar a pesquisar, Junior do Vale percebeu que a história contada no livro oficial da CBF lançado em 2004 e depois com uma atualização em 2006 pelos autores Roberto Assaf e Antônio Carlos Napoleão estava com vários erros de informações e omissões de jogos.

“Eu fui acrescentando na história jogos-treinos e treinos. Nunca ninguém contou antes. Eu comecei a comparar o que achava nos jornais com o que o livro oficial da CBF conta e está cheio de erros, só que não deveriam ocorrer. Se os camaradas [autores do livro] que são bons, ficaram dez anos dentro dos arquivos da CBF pra fazer isso. Não era pra ter erro, não desta forma”, contesta o pesquisador.

Alguns erros apontados

Junior do Vale citou alguns dos erros que encontrou durante sua extensa pesquisa. Por exemplo, no terceiro jogo da história da Seleção, ainda em 1914, o livro da CBF diz que o Brasil enfrentou um clube, mas do Vale conta a verdade na sua visão.

“Eu reconto a história corrigindo os erros que existem, erros de lançamento de dados. A CBF diz que o Brasil enfrentou o Columbia FC, mas nem existia na época. A Seleção enfrentou um combinado de universitários argentinos que a maioria provavelmente fosse da Universidade de Columbia da Argentina. São coisas diferentes atribuir teu adversário a um combinado de universitários ou ser um clube”, explica.

O rio-grandino destaca que na história a CBF atribui alguns jogos à Seleção, mas na verdade foram disputados comprovadamente por um combinado Rio-São Paulo. Do Vale cita o ano de 1929 como outro exemplo com erros na história. No livro, a CBF diz que o Brasil disputou apenas três partidas naquela temporada, mas o pesquisador diz que tem provas de que as três partidas foram disputas pelo combinado de Rio-São Paulo.

“Nenhuma delas foi solicitada pela CBD [CBF de hoje] na época. No livro da CBF tá como jogo da Seleção. O jornal O Globo da época cita que a CBD não fez nenhuma convocação pra essa partida. Que era um combinado e não uma seleção representativa do Brasil e foi colocado no livro da CBF”, argumenta o pesquisador.

Além de erros, a CBF nunca registrou jogos-treinos, algo que do Vale faz questão de pesquisar, até mesmo como uma forma de ressaltar a importância de vários times que ajudaram na preparação do Brasil em diversas competições.

“O jogo-treino era um pouco mais que um treino pra Seleção, mas eles enfrentaram o Farroupilha, o Guarany de Bagé, o Rio Grande. Para os clubes que serviram de adversários pra Seleção isso é muito significativo, mas isso foi perdido na história. As pessoas não tiveram o zelo de registrar”, afirma.

A CBF diz que em 1954 o Brasil disputou apenas nove partidas, sendo quatro pelas Eliminatórias, dois jogos amistosos e três pela Copa do Mundo. Já do Vale registrou 62 ocorrências no mesmo ano: quatro jogos pelas Eliminatórias, três jogos amistosos, três jogos pela Copa do Mundo, 27 jogos-treinos e 25 treinos.

Contato com a CBF

Após um erro ou uma nova informação ser identificada e comprovada em sua pesquisa, do Vale conta que sempre envia um e-mail para a CBF para informar, mas até hoje só recebeu resposta uma vez, sendo informado que o e-mail seria repassado para o setor responsável.

O pesquisador planeja no futuro conseguir ir pessoalmente na sede da entidade, no Rio de Janeiro. “Só que eles [CBF] são extremamente fechados, pra tudo né”, brinca o pesquisador.

Sem conseguir ser ouvido pela CBF, Junior do Vale resolveu deixar publicamente sua pesquisa para que as pessoas saibam dos erros e que uma pessoa vem tentando reescrever a história da Seleção de forma certa e completa.

“Isso que eu quero, contar a história bem contada. Eu quero que a CBF seja parte disso. Isso não é pra mim, não é um sonho, um projeto pessoal, é algo que vai ficar preservado pra sempre”, disse.

Motivo pelos erros da CBF

Mesmo com a CBF tendo contratado dois autores de renome, o livro foi publicado com os erros já citados e omissões. Questionado sobre o porquê o pesquisador acredita que a obra foi lançada desta forma, do Vale diz que costumava conversar com um dos escritores, que sempre justificava como critério da CBF, mas acredita que a decisão foi dos próprios autores.

“Pra mim houve um erro de critério. Acho que os autores que estabeleceram os critérios e não a CBF. O peso da Copa do Mundo não é o peso de um Torneio de Toulon, mas na estatística oficial os dois entram no mesmo lugar. Ou tu é categoria de base ou tu não é e isso que eles fizeram. Foram suprimindo tudo que não era relevante”, exemplifica.

Contato

Quem quiser acompanhar o trabalho de Junior do Vale pode acessar o Instagram @pesquisaselecaobrasileira.

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