Durou 76 dias a passagem de Walter pelo Pelotas. Ao longo desse período, o atacante atraiu holofotes da imprensa nacional e viu sua imagem rodar o mundo pela internet. Concedeu entrevistas para diferentes tipos de mídia enquanto tentava, diariamente, emagrecer. Foram mais de dez quilos perdidos, algo que não bastou para ganhar protagonismo no elenco dirigido por Wiliam Campos.

A aposta no pernambucano que superou dificuldades na infância em Recife para se tornar campeão da Libertadores e defender grandes clubes era, também, uma estratégia de marketing. Por outro lado, a contratação não rendeu resultado esportivo. Walter participou de apenas cinco dos 13 jogos da equipe desde sua estreia, sempre entrando no segundo tempo, e ao total somou 58 minutos em campo, sem contar os acréscimos. Não marcou gols e não deu assistências.

O pênalti desperdiçado contra o Monsoon significou a gota d'água: alvo de ríspidas cobranças de alguns torcedores, o atleta solicitou a rescisão do contrato. Walter se disse chateado pelo fim do sonho do acesso e ressaltou a boa relação com o presidente Rodrigo Brito, agradecendo aos torcedores "de verdade". Porém, não tolerou o tom de parcela das críticas e, também por conta de problemas familiares, voltará a Pernambuco. Nesta quinta (3), o clube oficializou o rompimento do vínculo e agradeceu pelos serviços prestados.

> Em entrevista na quarta, jogador se manifestou sobre o contexto da saída. Leia aqui.

> Lobo volta a jogar neste domingo, às 15h, em visita ao São Borja, pelo grupo C do Troféu Rei Pelé.

Sem retorno em campo

O agora ex-camisa 18 do Áureo-Cerúleo acredita ter recebido poucas oportunidades de mostrar futebol, como disse em entrevista na quarta-feira à Rádio Universidade. Ele entrou nas partidas contra Guarani-VA (em casa), São Gabriel (fora), Novo Hamburgo (em casa), Bagé (fora) e Monsoon (fora). Seu maior período em um só jogo foi diante do Jalde-Negro: 25 minutos, fora o tempo extra.

Contra o Sanga, chegou a fazer um gol em lance anulado antes de a bola cruzar a linha. Quando o Pelotas recebeu o Anilado, pelo Troféu Rei Pelé, Walter conseguiu participar mais das ações ofensivas. Cobrou uma falta perigosa e exigiu defesa importante do goleiro. O último ato do atacante vestindo a camisa do Lobo foi a infelicidade na batida do pênalti em Bento Gonçalves, domingo passado.

O vice-presidente do clube, Vinícius Conrad, defende que um desfecho distinto nesse lance teria modificado a percepção de parte das pessoas a respeito da negociação. "A contratação do Walter virou notícia nacionalmente desde a sua chegada. Uma visibilidade que ajudou na aproximação de empresas. Ele conseguiu perder mais de dez quilos e estava focado em ajudar no acesso. Se fizesse o gol de pênalti, o final desta história seria outro", argumenta o dirigente, um dos responsáveis pelo acerto com o atleta.

Visibilidade para o clube

Fora das quatro linhas, Walter propagou a imagem do Pelotas. Entre as entrevistas concedidas, uma delas foi ao DP, publicada em 5 de junho. Naquela semana, uma equipe da Rede Globo veio do Rio de Janeiro para acompanhar a rotina do atacante na luta contra a balança. Uma reportagem foi veiculada no Esporte Espetacular, programa dominical da emissora, em rede nacional.

Na estreia de Walter pelo Lobo, um registro do fotojornalista Jô Folha, do DP, rodou o mundo na internet. Nele o jogador, ainda vivendo o início do processo de perda de peso, aparecia ao lado do hambúrguer de uma placa de publicidade de uma rede de fast-food. No Twitter, a página @nocontextfooty divulgou a imagem e alcançou 2,7 milhões de usuários. Outras contas em diversas redes sociais também repercutiram a foto.

Durante os pouco mais de dois meses na Boca do Lobo, o atleta revelado pelo Internacional também foi protagonista de um conteúdo que deve ser lançado oficialmente nesta sexta (4) no canal do jornalista Duda Garbi, com quem conversou no quadro "Um assado para...", no YouTube. Recentemente, Walter esteve no podcast DDD 53, de Pelotas. Além disso, o atacante chamou atenção de lancherias da cidade que usaram sua imagem.

Em campo

5 jogos
58 minutos (fora acréscimos)

Opiniões da imprensa

Marcelo Prestes,
da Rádio Universidade

"No quesito visibilidade e atrair os holofotes para a Boca do Lobo, a contratação midiática de Walter foi um acerto. O objetivo foi alcançado com êxito pelas várias matérias em cenário nacional. Mas o futebol ainda exige cada vez mais o atleta e não mais o jogador. Saúde, força, mental, dedicação e um físico em dia. E físico o Walter não tinha mais. Nas quatro linhas, a sua contratação foi um erro, e um erro calculado. A chance de dar errado era grande, e deu errado. A responsabilidade não é do Walter e sim de quem o contratou para ser um acréscimo que ele não podia ser. Foi um projeto ufanista e com um fim óbvio, mesmo que o marketing quisesse mostrar o contrário. O campo fala e ele falou que a contratação de Walter não passou de um erro dentro de um esporte cada vez mais exigente, seja numa segunda divisão estadual ou numa Copa do Mundo".

Marrone Silva,
da Rádio Pelotense

"Na questão do marketing, a contratação deu retorno. É inquestionável. O nome da instituição passou a ser veiculado nos principais canais de esporte do país. O Pelotas ficou em evidência. Sobre o retorno em campo, esse ponto ficou devendo, e não é nenhuma surpresa, pois todo mundo sabia dos riscos que o clube corria. Ele veio muito acima do peso, a luta contra a balança sempre foi o principal desafio e ele já não vem rendendo em alto nível faz bastante tempo. Fica o elogio ao Walter por ter perdido 14 quilos, segundo ele. Poderia receber mais oportunidades? Talvez, mas eu colocaria ele nos jogos da Copa FGF que o nível técnico é mais baixo. O problema é que o Pelotas agora ficou apenas na Copinha, ou seja, as chances em tese diminuiriam. O pênalti perdido no domingo e as discussões fortes com os torcedores fizeram com que a situação ficasse insustentável".