Saúde

3,39% dos exames de pré-câncer têm alterações

Laudos de agosto de 2018 a abril de 2019 são de outros laboratórios, pós-suspeita de fraude

Carlos Queiroz -

Exatamente 10.184 exames de pré-câncer de colo de útero de pacientes de Pelotas foram encaminhados para análise desde agosto de 2018, quando outros laboratórios passaram a responder pelo serviço. Em um intervalo de nove meses, até abril de 2019, 346 laudos apresentaram alterações; não necessariamente tumores malignos. O número, que equivale a 3,39% do total, fica dentro de índices aceitáveis pela Qualificação Nacional em Citopatologia (Qualicito). Ainda não foram divulgados os dados de maio e de junho. O resultado difere das médias do Serviço Especializado de Ginecologia (SEG) Ltda, de Pelotas - com alterações que oscilavam de 0,20% a 0,74%, de 2014 a 2017 -, que teve o contrato rescindido em julho do ano passado, quando estourou a denúncia de suspeita de fraude.

Os números, que o Diário Popular foi atrás nesta quinta-feira, faziam parte das reivindicações apresentadas pela Frente Mobilização Pela Vida das Mulheres Pelotenses (MOB), na noite de quarta, durante a audiência pública A precariedade da saúde da mulher em Pelotas. A demora de aproximadamente dois meses para a entrega dos citopatológicos - que desde o começo do ano são realizados pelo SEG S/S, de Porto Alegre - também ficou no centro da pauta.

A urgência de as atividades serem fiscalizadas por um laboratório tipo II - como prevê a legislação - e um esforço concentrado da prefeitura para que as moradoras de Pelotas procurem a rede básica para fazer o pré-câncer despontaram entre as cobranças levantadas ao longo das mais de três horas de debate e de desabafo, na Câmara de Vereadores. “A Secretaria de Saúde tem que promover um mutirão para que todas as mulheres em idade preventiva possam fazer o exame e a gente acabe com essa sombra de que muitas delas estão doentes e não sabem”, defendeu uma das líderes da MOB, Niara de Oliveira.

Em pronunciamentos contundentes, Niara voltou a sustentar que o governo teria desconsiderado o alerta de possíveis falsos negativos. “A prefeitura ignorou solenemente os avisos de que os resultados eram padronizados”, reiterou, ao referir-se a documento entregue pela equipe da Unidade Básica de Saúde (UBS) Bom Jesus, em janeiro de 2016, com a preocupação de que há dois anos os exames não indicavam alterações nem ressalvas de problemas nas coletas.

Um apanhado geral de todas as manifestações feitas durante a audiência deverá chegar às Comissões de Saúde da Assembleia Legislativa e da Câmara Federal, nos próximos dias, já que um dos temas principais da noite foi, justamente, a suspeita de fraude. O assunto ganhou repercussão nacional, mas um ano depois praticamente todas as perguntas seguem sem resposta; como o Diário Popular apresentou na série Dossiê lilás, na última semana.

A palavra da Secretaria de Saúde
Em resposta via assessoria de imprensa, a Secretaria de Saúde garantiu que a entrega dos laudos às pacientes será normalizada até o final deste mês. Ontem, a prefeitura voltou a destacar que a demora teria sido causada por problemas na liberação do acesso ao Sistema de Informação do Câncer (Siscan), onde os dados são cadastrados. O edital que definiu as regras do contrato assinado com o SEG da capital, entretanto, é claro: o prazo para entrega dos resultados é de sete a dez dias.

O Diário Popular ficou sem uma interpretação do Executivo sobre os dados das análises de agosto de 2018 a abril de 2019. Ao serem questionados durante a série Dossiê lilás, o secretário de Saúde Leandro Thurow, a diretora de Ações em Saúde, Eliedes Ribeiro, e as duas ex-secretárias Arita Bergmann e Ana Costa foram unânimes em afirmar: o baixo nível de alteração nos últimos anos se justificaria porque, em geral, são as mulheres saudáveis as que mais realizam o exame regularmente. Não raro, uma vez por ano.

Participação parlamentar reduzida
A audiência pública chamada pela vereadora Fernanda Miranda (PSOL) não foi diferente da maioria das que historicamente são realizadas no Legislativo de Pelotas: é baixíssima a adesão de parlamentares. Apesar da relevância dos temas, só outros dois vereadores participaram das discussões: Marcus Cunha (PDT) e Cristina Oliveira (PDT). Ivan Duarte (PT) e Marcos Ferreira, o Marcola (PT), justificaram as ausências. Os demais nem compareceram nem explicaram as razões para ficar fora dos debates, que passaram por inúmeros dados, reflexões e queixas.

Saúde mental, planejamento familiar, violência obstétrica, falta de médicos, dificuldade de acesso a exames básicos durante o pré-natal foram alguns dos pontos que justificaram as falas só encerrarem às 22h38min.

Relembre
Em agosto de 2018, em contratação emergencial, a análise dos exames de pré-câncer ficou a cargo do Hospital de Caridade Nossa Senhora da Conceição, de Piratini.

De 10 de setembro a 28 de dezembro, o Laboratório Labsul, de Canguçu, assumiu a tarefa.

Em janeiro de 2019, as análises passaram a ser responsabilidade do SEG SS, de Porto Alegre, que responderá pelo trabalho por, pelo menos, um ano.

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