Entrevista

“A Emater é o braço oficial da extensão rural no RS”

Nova presidente da entidade, Mara Saalfeld fala sobre a importância dos extensionistas rurais e cita prioridades como o enfrentamento às estiagens e o fortalecimento da cadeia leiteira

Foto: divulgação - Com 40 anos de atividade na empresa, Mara é referência em pesquisa sobre a cadeia do leite

Natural de São Lourenço do Sul, a médica veterinária Mara Helena Saalfeld, 63, assumiu na última quinta-feira a presidência da Emater RS/Ascar. Indicação do governador Eduardo Leite (PSDB) e do secretário estadual do Desenvolvimento Rural, Ronaldo Santini, foi referendada pelos conselheiros da instituição e teve grande receptividade entre os funcionários.

Com mestrado na área de Reprodução Assistida, Mara tem também duas especializações em Homeopatia e uma em Gestão de Pessoas, além de doutorado em Biotecnologia. Nesta entrevista ao DP, ela fala um pouco sobre a Emater e as prioridades nos próximos quatro anos.

Como iniciou tua trajetória na Emater? E como foi receber a nomeação como presidente?
São 40 anos de Emater e fiz toda a escalada, passei por tudo dentro da empresa, desde extensionista de campo, por vários anos em São Lourenço do Sul e Canguçu, depois chefe do escritório em Pelotas, coordenadora do Centro de Treinamento (Cetac) em Canguçu. Depois vim para o regional como assistente técnica, trabalhei na pesquisa também junto com a Embrapa e continuo pesquisando, tanto que tenho ganhado prêmios nacionais. Foi uma honra receber um convite para presidir uma empresa que faz parte da minha vida há 40 anos.

Qual o papel da Emater?
A Emater é o braço oficial da extensão rural no Rio Grande do Sul. Somos quem leva a política da extensão, alcançamos crédito, informação para todos os produtores. Já ouvi prefeito falar em discurso que antes do padre e do prefeito está o extensionista da Emater. Entramos em todos os municípios no Estado e vamos à propriedade não para vender, mas para alcançar o conhecimento. Entramos na casa do produtor pela porta dos fundos, vamos direto à cozinha, à sala de ordenha, para a lavoura. Muitas vezes eles esquecem de nos citar porque somos considerados da casa deles.

Tu és a primeira mulher a presidir a Emater? O que dizer sobre esta liderança das mulheres cada vez mais em todas as áreas da sociedade?
A primeira mulher a ser indicada pelo governador e pelo secretário do Desenvolvimento Rural e homologada pelo Conselho Técnico e Administrativo (CTA) fui eu. Anteriormente, houve uma extensionista que ficou por quatro meses na presidência em substituição ao presidente que saiu. Nosso governador tem dado este protagonismo para as mulheres com a escolha de várias em cargos chaves nas secretarias. Mas o papel da mulher na agricultura, onde eu trabalhei minha vida inteira, sempre foi muito importante. Quando entrei na Emater, fui uma das primeiras técnicas aqui na região, eu era a única veterinária. Quando fui iniciar meu trabalho em São Lourenço e Canguçu, sempre foi muito normal a dupla do agrônomo ou veterinário e da extensionista da área social. Entrei na Emater muito nova, me formei em Veterinária com 21 anos e com 23 já era extensionista. E quando ia nas propriedades, o produtor sempre dizia “a mulher tá lá na cozinha”, eu era encaminhada para falar com a mulher, pois para eles era normal que eu fosse da área social. E esta foi uma das grandes diferenças do meu trabalho como extensionista, porque me foi dada a incumbência de trabalhar com gado leiteiro. Quem cuida da ordenha, trata os animais, cuida da parte da criação da terneira sempre foi a mulher. Então consegui um trabalho maravilhoso, tanto que no primeiro ano eu tinha 29 unidades de observação de criação de terneiras, coisa que os outros não tinham. Inclusive fui chamada no regional da Emater para me perguntarem como conseguia aquilo. Trabalhava com a mulher, o jovem e, claro, com o homem, que sabia sobre alimentação, silagem, buscava o dinheiro na cooperativa. Cheguei a ter 24 grupos de inseminação artificial em Canguçu. Vi na inseminação uma forma de melhorar esse rebanho e, nesses grupos que eu trabalhava, sempre tinham mulheres e homens. A mulher é produtora, é agricultora, na verdade ela tem duas a três jornadas dentro da propriedade. Eu valorizava muito isso desde o início do meu trabalho.

Quais desafios agora e quais as primeiras providências?
A Emater tem um plano de trabalho que é construído com os produtores, prefeitos, conselhos de desenvolvimento rural. Vem lá da base, sobre o que é importante nos 497 municípios. Existe um plano de trabalho feito anualmente, em setembro/outubro. A gente faz este planejamento junto com os municipais e regionais da Emater, que tem as linhas de trabalho, onde são elencadas as cinco prioridades de cada município. Pelotas, por exemplo, entre as prioridades estão bovinos de leite, agroindústria, reservação de água. Em todos os municípios praticamente está a questão da segurança e soberania alimentar. Entre as prioridades do governo estão inovação tecnológica, combate à pobreza extrema, soberania e segurança alimentar e reservação de água, em açudes, tanques, cisternas. Chove, mas não sabemos guardar esta água. Temos municípios que não têm água para beber, água de qualidade. Esta é uma grande preocupação minha. A gente fornece várias linhas de crédito à disposição do produtor, muitas vezes para custeio, comprar sementes, adubo, implementos e daí o produtor faz a lavoura e não tem água.

Teu nome foi muito bem recebido entre os funcionários da Emater. Como pretendes trabalhar a valorização dos colaboradores e técnicos?
Uma das coisas que eu quero olhar e trabalhar muito é para dentro da Emater. O governo do Estado, o governador e o secretário, eles escolheram uma pessoa de formação técnica, um extensionista para presidir a Emater, justamente para olhar esta parte técnica. Quero muito valorizar o extensionista, nosso quadro funcional. A gente se preocupa muito em qualidade de vida para os agricultores, levar para eles tudo o que tem de melhor, mas nós precisamos qualificar, dar qualidade de vida para o nosso trabalhador/extensionista. Para que ele esteja cada vez melhor e com isso atender melhor, porque só estando muito bem para atender este público que temos de mais de 200 mil famílias que a Emater trabalha no RS.

A Emater abrange muitas áreas e entre as prioritárias está a pecuária leiteira. Pela tua ligação e experiência com a área, deve ter um olhar especial?
As áreas prioritárias são determinadas pelo plano da Emater em cada município. Dos 497 municípios do Estado, 411 têm a bovinocultura como prioridade. A atividade é de extrema importância porque todo o dinheiro recebido pelo produtor é investido no próprio município. Trabalhar na atividade leiteira é importante porque o produtor pode plantar a própria pastagem, milho, fazer a silagem. Em outras cadeias fica muito difícil o frete, trazer grãos do centro do País, o que acaba encarecendo a atividade. O leite tem esta prerrogativa. Nosso relatório socioeconômico da cadeia do leite mostra que, apesar de terem saído produtores, não diminuiu a produção, o rebanho foi qualificado e a produtividade aumentou. E esses produtores desistentes a Emater encaminhou para outras áreas, como hortaliças, agroindústria, uma série de outras atividades.

Qual rotina nos primeiros dias de mandato? Quando será a solenidade oficial de posse?
A solenidade de posse ainda não está marcada. Ganhei duas vezes a premiação da Fundação Banco do Brasil. Na última premiação, trouxe para a Emater mais de R$ 100 mil e um convite para visitar uma das maiores empresas de colostro no mundo. Fui eu que mudei a lei de consumo do colostro no Brasil, que foi proibido por 65 anos. Então, no dia 30 embarco para Salt Lake City, em Utah, nos Estados Unidos, onde vou conhecer uma indústria de colostro e uma fazenda de produção. Uma experiência que quero trazer para a Emater. ​

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