Reflexos
A cor da pele na pandemia
Pesquisa mostra que 70% dos negros do Brasil iniciaram o período de enfrentamento da crise sem reservas
Por: Daniel Mello, da Agência Brasil
Não tinham nenhuma reserva financeira no início da pandemia de coronavírus 71% dos negros no país, segundo estudo divulgado ontem pelo Instituto Locomotiva, a pedido da Central Única das Favelas. Entre os 29% que tinham dinheiro guardado, 12% já usou todo o recurso e 23% gastou a maior parte para se manter durante a crise.
A pesquisa mostra que a crise econômica afetou de forma desigual as famílias negras e brancas. Segundo o levantamento, 73% das pessoas pretas e pardas tiveram redução na renda devido à pandemia, índice que cai para 60% entre as brancas. Quase a metade das negras (49%) disse que deixou de pagar alguma conta no período, enquanto o percentual ficou em 32% para as brancas.
Mesmo as políticas governamentais impactam, segundo a pesquisa, de forma diferente a população negra. De acordo com o estudo, mais negros (43%) do que brancos (37%) pediram o auxílio emergencial do governo federal. Mas, entre os que pediram, o percentual de atendidos é menor entre a população negra (74%) do que entre a branca (81%).
O presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meireles, destaca que esse tipo de resultado está ligado a questões estruturais do racismo no Brasil. Ele lembra, por exemplo, que 49% dos brancos que acessam a internet têm computador. Enquanto, o percentual cai para 38% entre os pardos e para 34% entre os pretos, que muitas vezes vão acessar a rede apenas pelo celular. “Estudar ou ter acesso ao auxílio emergencial é diferente entre os negros e os brancos”, enfatiza sobre a diferença que faz ter um computador em casa.
Classe e renda
Segundo o estudo, as classes D e E são compostas majoritariamente por pessoas negras (76%). Por outro lado, As classes A e B são na maioria (63%) brancas. “Três quartos dos pobres são negros e dois terços dos ricos são brancos”, resumiu Meireles.
A renda média das pessoas negras é, segundo a pesquisa, de R$ 1.764,00 por mês e das brancas, de R$ 3.100,00. O estudo mostra que isso está ligado a uma menor proporção de negros em posições melhor remuneradas: 90% dos negros ganham até R$ 3.060,00 e a mesma proporção de brancos recebe até R$ 6.122,00. Quando o patamar é mais alto, a desigualdade é ainda maior, 95% dos negros têm rendimentos de até R$ 4.591,00 valor que chega a R$ 10.187,00 entre a população branca.
66% dos brasileiros têm chefes brancos, 21% pardos e 10% pretos.
Os homens negros com ensino superior recebem em média R$ 4.990,00 e as mulheres negras, R$ 3.067,00. Os homens brancos com diploma tem um salário médio de R$ 7.286,00 e as mulheres brancas, R$ 4.566,00.
Entre os homens negros com mais de 25 anos, apenas 9% têm ensino superior, índice que fica em 13% para as mulheres negras. Em relação aos homens brancos na mesma faixa de idade, 23% têm diploma, percentual que chega em 27% entre as mulheres brancas.
O estudo também mostra como o racismo ocorre nas relações sociais e interpessoais. Para 18% dos brasileiros não é um problema fazer piada sobre pessoas negras. “Nós temos 30 milhões de brasileiros que acham que não tem problema em fazer piada sobre pessoas negras”, ressalta o presidente do Instituto Locomotiva.
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