Pandemia

A demora que custou vidas na Espanha

Pelotense Pedro Eduardo Almeida conta que a falta de agilidade do governo espanhol em agir tornou o país um dos epicentros da pandemia

Divulgação -

Oito. Exatas oito ambulâncias puderam ser ouvidas durante a entrevista com o professor de Medicina Pedro Eduardo Almeida, que reside em Zaragoza, no norte da Espanha. Passavam das 20h da noite espanhola quando o barulho ensurdecedor ecoava pelas ruas da cidade e se fazia ouvir através da ligação. As ambulâncias de um sistema de saúde já em colapso, a caminho de buscar mais pacientes da pandemia da Covid-19 na Europa. Vivos ou mortos? Só será possível saber nas estatísticas confirmadas pelo governo espanhol. Números que trazem tristeza. Em terras hispânicas, netos nunca mais verão os avós, filhos não puderam se despedir dos pais e mães nunca darão o último beijo em seus filhos. 18.150 pessoas já foram vitimadas pelo Coronavírus. Enterradas na solidão de sepulturas, sem direito a um último olhar. Entraram para a história como vítimas da maior pandemia do século XXI.

O cenário de terror é o ambiente no qual vive o pelotense Pedro Eduardo Almeida. A Espanha registra 172.655 casos de coronavírus. O contexto de tantos infectados poderia ter sido evitado caso o governo espanhol tivesse sido mais ágil. Ele conta que, mesmo com a união política entre o rei, primeiro-ministro e o parlamento, as ações foram tomadas tarde demais. “Os epidemiologistas mostram que questão de uma semana, duas, poderia ter evitado milhares de mortes. O governo demorou a reagir, um erro de duas semanas que custou vidas. As medidas foram implantadas em um momento que a curva já estava em crescimento exponencial, em uma crescente muito grande. Quando chega a esse ponto, é muito difícil de controlar os infectados” explica.

Professor de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Pedro mora há cinco meses no norte do país junto com a esposa, a professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Adriane Borda Almeida da Silva. Eles têm uma filha, Isadora, e ainda reside com mais uma amiga em solo espanhol. O casal foi se qualificar na Europa dentro da docência. Ambos realizam estágio sênior através da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) na Universidade de Zaragoza.

A pandemia impactou na rotina do casal. Com a universidade fechada há um mês, quando iniciaram os decretos restritivos, ambos têm trabalhado em regime de home-office com jornada dupla, no exercício de atividades relativas aos estágios na Espanha e atendimentos para alunos no Brasil. “Eu trabalho no horário daqui e no horário brasileiro. Estamos construindo um Centro de Combate ao Covid-19 na Furg e a minha esposa segue também orientando os trabalhos dos alunos aí no Brasil” destaca Pedro. A filha dos professores está com as aulas suspensas e sem previsão de retorno. Uma possível volta das atividades escolares é vista com muita cautela pelo governo espanhol, cujo receio é de que o reinício aumente as taxas de contaminação.

Com um quadro que, em seu auge, chegou a quase mil mortes por dia, o decreto espanhol foi rígido. Apenas farmácias e supermercados permaneceram abertos. A queda das taxas de mortalidade diárias trouxe uma leve flexibilização, com a liberação de setores da construção civil para retornarem às atividades. Demais estabelecimentos seguem fechados. As fronteiras nacionais do país e as internas estão totalmente interditadas, assim como praças públicas e parques das regiões espanholas. “Com exceção do período da manhã, quando os espanhóis saem para comprar comida, não se vê movimento nas ruas. É muito difícil ver as pessoas andando em duplas, no máximo um pai com uma criança, mas em situações muito raras. Há um respeito total com relação às medidas do governo” destaca o professor.

O sistema de saúde espanhol já está em colapso. A economia do país também se encaminha para o mesmo destino. O brasileiro conta que os espanhóis já projetam efeitos tão devastadores quanto os da crise econômica mundial, de 2008. “A Espanha já solicitou apoio financeiro da União Europeia, assim como a Itália. Os dois países se sentem abandonados pela comunidade europeia, que ainda sente os efeitos do Brexit [saída do Reino Unido do bloco] e que não se mobiliza para prestar este apoio financeiro. Alemanha e Holanda são dois estados que têm se posicionado contra este auxílio em virtude das dívidas que podem implodir o bloco” explica.

Aniversário diferente

Nesta quarta-feira (15), a mãe de Pedro, completa 92 anos. A dona Norma Almeida da Silva mora em Pelotas, assim como a irmã Olga da Silva. O irmão do professor mora em Canela, no Rio Grande do Sul. “Converso muito com eles pelas redes sociais. Minha mãe é muito conectada na internet e este ano iremos mandar novamente os parabéns pelo WhatsApp com vídeos e, como vamos estar cada um em um local, vai ser um coletivo maior para dar os parabéns para ela”, conta.

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