Saúde
A luta contra o Aedes aegypti
Os números assustam; ao todo, 4.783 casos suspeitos de microcefalia foram registrados até 30 de janeiro no Brasil
Pneus abandonados podem se transformar em depósito para o mosquito se desenvolver (Foto: Gustavo Mansur/DP)
O combate ao mosquito Aedes aegypti pode começar em casa, por ações simples. Equipes das secretarias de Saúde, Qualidade Ambiental e Mobilidade Urbana, Defesa Civil, Primeira Infância Melhor e do Exército estão percorrendo a cidade, por etapas, em ações preventivas. Em grande parte do mundo, demais governos também estão engajados à conscientização do problema. O mosquito é transmissor de dengue, febre chikungunya e do vírus zika, que pode causar microcefalia em bebês. A microcefalia é um distúrbio que resulta em um perímetro do crânio infantil mais baixo do que o normal, com consequências no desenvolvimento do bebê.
Nesta quarta-feira pela manhã, cerca de 150 pessoas participaram da ação preventiva na região da Balsa. De acordo com o diretor de Vigilância em Saúde da secretaria de Saúde de Pelotas, Franklin Souza Neto, a prefeitura está visitando regiões que no último ano foram afetadas por focos do mosquito. A primeira foi a região do Fragata, seguida por Porto/Balsa. O próximo local visitado deve ser o bairro Três Vendas. “Estamos trabalhando para a conscientização, mas a população também precisa fazer o seu trabalho”, atenta Neto.
Os números assustam. Ao todo, 4.783 casos suspeitos de microcefalia foram registrados até 30 de janeiro no Brasil. O Ministério da Saúde e os estados investigam 3.670 casos suspeitos em todo Brasil. O dado representa 76,7% dos casos notificados. O novo boletim divulgado nesta quarta, aponta, também, que 404 casos já tiveram confirmação de microcefalia e/ou outras alterações do sistema nervoso central, sendo que 17 com relação ao vírus zika. Outros 709 casos notificados já foram descartados. O crescimento dos casos investigados e classificados foi de 52%, com relação ao boletim do dia 23 de janeiro - eram 732 na semana anterior, passando para os atuais 1.113.
Nesta quarta, em pronunciamento, a presidente Dilma Rousseff (PT) citou como prioridade de 2016 as ações de combate ao mosquito. Em cerimônia de abertura do Ano Legislativo, a petista ainda afirmou que fará uma avaliação periódica dos programas do governo. Na data, foi publicado no Diário Oficial da União o decreto que determina a adoção de medidas rotineiras de prevenção e combate ao vetor, como campanhas educativas, vistoria e retirada de criadouros do mosquito, além da limpeza das áreas internas e externas e o entorno das instalações públicas.
Mobilização
A iniciativa intitulada “Semana da Limpeza” é desenvolvida pela Presidência da República, em parceria com os ministérios do Planejamento e da Saúde. A campanha prevê que dirigentes dos demais órgãos públicos do governo federal mobilizem seus funcionários para que seja feita uma vistoria completa. O Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE/UFPel) reuniu os setores diretamente envolvidos para discutir o assunto - equipes da Hotelaria Hospitalar e de Infraestrutura inspecionaram algumas unidades do HE, a procura de focos do mosquito.
O Comando do 5º Distrito Naval integrou as ações de combate ao mosquito Aedes aegypt e mobilizou mais de 800 militares no Estado, em Santa Catarina e Paraná, no último fim de semana. O trabalho ocorrerá em quatro fases: mutirão em organizações militares, esclarecimento à população, atuação direta no combate ao mosquito e trabalho de conscientização em unidades de ensino.
Encerrada a primeira etapa nesta quinta, a próxima está prevista para ocorrer a partir de sábado. Militares das Forças Armadas atuarão em todas as capitais e cidades consideradas endêmicas pelo Ministério da Saúde, distribuindo material impresso com orientações para a população sobre o Aedes aegypti.
Medida Provisória
A Medida Provisória publicada segunda-feira, no Diário Oficial da União (DOU), autoriza a entrada forçada de agentes públicos de combate ao mosquito Aedes aegypti em imóveis públicos ou particulares que estejam abandonados, ou no caso de ausência de pessoa que possa permitir o acesso ao local. A permissão facilita a execução das ações contra o mosquito e seus criadouros. De acordo com o texto do documento, a entrada forçada em imóveis somente pode ser feita por profissional identificado, e deve ocorrer apenas quando a ação se mostrar essencial à contenção das doenças provocadas pelo Aedes.
Permitir a entrada dos agentes da vigilância ambiental é imprescindível (Foto: Gustavo Mansur/DP)
Transmissão sexual
Mas o mosquito pode não ser mais o único agente transmissor. Os Estados Unidos confirmaram, nesta quarta, que o vírus zika se transmite sexualmente, aumentando o temor de uma propagação rápida da doença. No caso que aconteceu no estado do Texas, um paciente foi infectado pelo vírus através de relação sexual, e não pela picada do mosquito. Entre as medidas, as autoridades norte-americanas já anteciparam que o uso de preservativos para homens será uma das recomendações adotadas.
Um grupo de cientistas vai agora apurar o caso registrado nos Estados Unidos e tentar identificar como o vírus de fato trabalha. O registro foi confirmado pelo Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês), em Washington. A Organização Mundial da Saúde (OMS) está preocupada com a questão.
Organização Mundial da Saúde
O Departamento para a Europa da Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu nesta quarta aos países europeus que tomem medidas para impedir a propagação do vírus zika, considerando que o risco aumenta com o início da primavera e durante o verão. Segundo a OMS, não existe vacina ou tratamento para a doença, por isso a estratégia é proteger a região europeia do mosquito, por meio do controle e da eliminação dos locais de reprodução, da aplicação de inseticidas e da morte das larvas em caso de surtos.
É recomendado que as pessoas em risco, sobretudo as mulheres grávidas, sejam informadas sobre a prevenção, que seja reforçada a vigilância e garantida a detecção laboratorial do vírus e que se intensifique a investigação para compreender a doença e desenvolver testes e vacinas. A OMS lembra ainda que o aumento de casos de microcefalia e de desordens neurológicas na América Latina constitui emergência de saúde pública de alcance internacional, acrescentando que há forte suspeita de que o aumento dos casos seja causado pelo vírus Zika.
PREVENÇÃO
USAR REPELENTE
Usar repelente ajuda a manter o mosquito longe e, portanto, evita picadas. Porém, vale lembrar que o produto deve ser reaplicado a cada seis horas para que o efeito seja mantido, além disso, deve conter uma substância chamada Deet.
EVITAR ACÚMULO DE ÁGUA PARADA
É essencial evitar o acúmulo de água parada para prevenir a reprodução do mosquito da dengue e do zika vírus, pois ele precisa de água para colocar seu ovos e produzir as larvas. É necessário retirar entulhos do quintal ou de terrenos vizinhos abandonados, virar para baixo garrafas vazias e baldes, limpar calhas e canos pelo menos duas vezes por semana, cobrir caixas d’água e piscinas e varrer a água parada acumulada no quintal ou na rua. Outro cuidado importante é manter tudo sempre muito limpo, lavando com água e sabão - os ovos do Aedes podem resistir por um ano em local seco, somente à espera de uma quantidade mínima de água, como encontrada na tampinha de uma garrafa, para poder iniciar sua transformação em lava e mosquito.
COLOCAR AREIA NOS VASOS DAS PLANTAS
Vasos de plantas acumulam água e são ótimos locais para o mosquito se desenvolver. Assim, deve-se colocar terra nos pratos que ficam embaixo dos vasos, pois ela manterá a umidade para a planta e evitará a reprodução do mosquito. Além das plantas, também é preciso lavar diariamente os recipientes de comida de animais domésticos, que normalmente ficam no quintal e acumulam água.
CUIDADO COM O LIXO
O lixo de casa pode acumular água e favorecer o crescimento do Aedes aegypt, e por isso é importante fechar bem os sacos plásticos e colocar o lixo na rua apenas nos dias de coleta pelo caminhão do lixo. Além disso, deve-se evitar o acúmulo de material de construção, pneus ou outros objetos no quintal, pois eles também podem acumular água e abrigar as larvas do mosquito.
COLOCAR TELAS EM PORTAS E JANELAS
Colocar telas em portas e janelas impede a entrada do mosquito em casa, evitando que ele se multiplique no lixo da cozinha, em vasos de plantas ou em poças de água no banheiro, por exemplo. No entanto, é importante lembrar que essa medida apenas ajuda a lutar contra o mosquito, não servindo como única medida para prevenir o zika vírus.
Sintomas
Dengue
Febre alta (39°C, 40°C); dor atrás dos olhos; dor em todo o corpo; manchas avermelhadas, pelo corpo, que não coçam; fraqueza.
Chikunguya
Febre alta (39°C, 40°C); dor atrás dos olhos; dor em todo o corpo; manchas avermelhadas, pelo corpo, que não coçam; vermelhidão e dor aguda nas articulações (joelhos, tornozelos, mãos, cotovelos e ombros).
Zika
Febre baixa (37°C, 38°C); manchas avermelhadas, pelo corpo, que provocam coceira; dor leve pelo corpo. Importante: segundo especialistas, cerca de 80% das pessoas não sentem nenhum dos sintomas.
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