Profissão
A luta de quem escolheu a vida de chapa
Homens que auxiliam caminhoneiros sentem o impacto da crise na prestação do serviço
Gustavo Mansur -
À beira das rodovias, sob qualquer tempo, pessoas esperam durante horas, ou até mesmo dias, uma oportunidade de trabalho. O serviço prestado pelos chapas, como são chamados, consiste em auxiliar caminhoneiros no itinerário dentro da cidade e também fazer carga e descarga das mercadorias. Segundo alguns homens que desempenham esta função, a crise financeira que atinge o país e o avanço de aparelhos tecnológicos, como GPS e empilhadeiras, diminuem a procura por estes auxílios e acabam - por ironia - aumentando o fardo carregado por eles.
Éverton Luís trabalha como chapa há cerca de 15 anos e no final do mês é possível arrecadar um salário mínimo (R$ 880,00), mesmo cobrando cerca de R$ 150,00 por diária. "Agora decaiu muito. Antes dava até para construir uma casinha. Tenho que suar para conseguir vestir as crianças e botar comida na mesa", comenta. O ponto onde ele fica com mais cinco colegas é um canteiro do viaduto na BR-116 com a avenida Fernando Osório. A recente obra na via possibilita que as carretas passem sobre a rótula onde os chapas se encontram, por isso, a solução é a persistência. A rotina deles é chegar ao local por volta das 5h30min e esperar um contato dos caminhoneiros até o entardecer. Na maioria dos dias, são horas em vão. "É complicado. Tinha muita empresa onde a gente fazia entrega que fechou", diz Éverton.
O chapa Paulinho faz plantão próximo ao Centro de Eventos e trabalha no ramo há 20 anos. Para ele, a atividade é uma incógnita. "Varia muito. Trabalhamos duas vezes numa semana, depois na outra conseguimos serviço todos os dias", fala. Segundo ele, a falta de segurança e a desmoralização da classe são os fatores que mais o desmotivam. "Meu filho tem 23 anos e está machucado há sete meses, de muleta em casa. Ele foi descarregar e acabou rompendo vários ligamentos do joelho. Quem paga? Entrei em contato com um advogado que disse que ocorreu um contrato verbal, por isso o caminhoneiro teria que ressarcir por acidente de trabalho, mas até hoje nada", reclama. Um motorista que ajudou recentemente foi vítima de golpe ao utilizar o serviço em outro estado. "Ele marcou com um chapa em um local e quando chegou lá tinham quatro pessoas, que roubaram o caminhão, inclusive o cara (condutor). Graças ao rastreamento, conseguiram recuperar o veículo. Mas isso aí queima todo mundo, né? Quem vai confiar em nós?", questiona. Ao contrário do experiente Paulinho, Tiago, 19, está começando a descarregar entregas sozinho. "É mania mesmo. Depois que começa a descarregar não para mais", diz.
O caminhoneiro Jamilson Oliveira trabalha no transporte de cargas há mais de 15 anos e costuma utilizar o serviço dos chapas. Para ele, o que acontece na profissão existe em vários empregos. "Têm os bons e os ruins." Segundo ele, muitos recusam as oportunidades em função do tipo de carga transportada. "Tenho que ficar monitorando, porque já presenciei o cara metendo a mão na mercadoria", conta. Apesar dos contratempos, Oliveira fala sobre a importância das atividades desenvolvidas por eles. É fundamental o serviço de carga e descarga que eles fazem. Mesmo quando a mercadoria vem em palets, é necessário separá-la, então os "chapas" ajudam muito.
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