Futebol
A primeira Loba
Beatriz Borges, a defensora que abriu o caminho da Seleção Feminina na Boca do Lobo tendo apenas 16 anos
Divulgação -
Imagine um garoto de 14 anos jogando em meio aos atletas do elenco principal de um time tradicional. Pense nesse mesmo menino com 16 anos sendo convocado para treinar com a Seleção Brasileira sub-20. Agora, onde você imaginaria que ele estaria com 31 anos? Em um grande clube? Na Seleção? Convenhamos que certamente ele seria um atleta profissional. Agora, pegue essa história e troque o garoto pela garota.
A trajetória de Beatriz Borges é de dar orgulho para qualquer torcedor e admirador do futebol. Bia fez o primeiro teste com 11 anos. Detalhe: foi participar de uma peneira na idade adulta, em 2001, e esse foi o primeiro contato com o futebol de campo. Antes, Bia jogava bola no Colégio Pelotense. Pela qualidade que viu em Beatriz, e em outra menina da mesma idade que esteve no teste no Parque do Sesi, o técnico e coordenador das Lobas, Marcos Planela, decidiu criar uma categoria chamada renovação qualificada.
Foram três anos até Beatriz subir para o elenco adulto. A menina treinava com a equipe principal e ficava no banco de reservas. Ficou bastante tempo no banco. Período que Bia considera fundamental na sua formação como atleta. Observando as companheiras pôde adquirir experiências que a ajudaram a ser titular das Lobas logo aos 16 anos.
Na classificação do futebol atual, Beatriz Borges é zagueira moderna. Começou como volante, mas recuou para a defensa pela qualidade no passe e a força na marcação. Beatriz era responsável pela saída de bola das Lobas. Foram essas características que o técnico da Seleção Brasileira Sub-20 viu nela em 2005. O profissional veio observar confrontos na região, e ao final de uma partida entre Pelotas e Rio Grande convidou Bia para vestir a amarelinha. Porém, havia um empecilho. A defensora era pequena em comparação as outras atletas da seleção. Afinal tinha apenas 16 anos. Quatro a menos que as meninas da categoria sub-20. Por isso precisou de seis meses para se preparar.
Treinos físicos e técnicos intensos até agosto de 2005. O dia que recebeu a ligação sobre a convocação, Bia teve medo. Pensou em não ir, já que nunca havia ficado longe de casa. Mas como uma defensora acostumada a marcar adversárias muito maiores, superou mais esse medo e se apresentou na Granja Comary, no Rio de Janeiro.
Foram 15 dias vestindo a camisa verde amarela. A mesma que a Rainha Marta, que é sua maior referência, tanto brilha. Beatriz abriu os caminhos da Seleção para as Lobas. Depois vieram outras companheiras, com maior destaque para Andressinha.
Beatriz não seguiu na Seleção, mas se manteve em campo na Boca do Lobo. Era titular do time que fez história em 2008 ao conquistar o Campeonato Gaúcho. A temporada na qual as Lobas conseguiram ter melhores condições para treinar. Viajou a Santa Catarina e Paraná disputando a Copa do Brasil em 2009. Seguiu vestindo o azul e ouro até 2015. Quando nasceu a filha Luiza.
O futebol Beatriz não deixa. Atualmente joga na colônia. Inclusive estaria nas Lobas se o clube possuísse o time adulto. Quem deixou a Bia, na verdade, foi o futebol. Ou melhor, a desigualdade. A garota de 16 anos que chegou à Seleção não teve o mesmo caminho que a maioria dos garotos que veste a amarelinha. Apesar de a bola ser a mesma, o campo ser o mesmo e terem a mesma regra, o futebol feminino é tratado como outro esporte. Sem investimento e estrutura, Beatriz precisou escolher o caminho do trabalho e não das quatro linhas. De família humilde, não conseguiu se dedicar o suficiente para ser uma atleta de Seleção.
Na memória fica a certeza que o destino poderia ser outro se o olhar pelas mulheres fosse diferente. Permanece também o sentimento de saudade de vestir a camisa das Lobas, mas principalmente o orgulho de ser uma eterna áureo-cerúlea.
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