Insegurança

À procura de uma solução para os assaltos

Durante mais de três horas, todos os ônibus da cidade deixaram de circular

Carlos Queiroz -

Em um plenário lotado com 120 motoristas e cobradores de ônibus, foi possível contar nos dedos aqueles que não ergueram o braço quando perguntados se já haviam sido assaltados. A sensação de medo e impotência já foi sentida pelo menos uma vez por quase todos os que estiveram nesta quinta-feira (25) à tarde em audiência pública na Câmara de Vereadores. Durante mais de três horas, todos os ônibus da cidade deixaram de circular e os trabalhadores foram protestar e cobrar das autoridades saídas para a crescente criminalidade dentro dos coletivos. Até esta quinta foram registrados oficialmente pela Polícia Civil 22 ataques em 2018. Praticamente um por dia.

Para o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Pelotas (STTRP), no entanto, o número de crimes é bem maior. “Estes números são os registrados, mas já se criou um desprestígio entre os trabalhadores, que muitas vezes nem fazem o Boletim de Ocorrência e preferem seguir viagem”, afirma o presidente da entidade, José Inácio de Jesus. O motivo é simples: medo. Rodando diariamente pela cidade, motoristas e cobradores dizem que os bandidos são conhecidos e, mesmo quando identificados e presos, em poucos dias estão de volta às ruas.

Há 28 anos trabalhando no ramo, o cobrador João Carlos Duarte, 62, se diz um sortudo. “Só fui assaltado duas vezes, quase nada”, ironiza. Em ambas as vezes, homens armados entraram no veículo e levaram o dinheiro do caixa e pertences dos passageiros. Porém, uma delas foi ainda pior. “Encostaram a arma na minha orelha. O sujeito tremia, nervoso. Depois que ele foi embora ficou passando de tudo na cabeça.”

Além da insegurança, os trabalhadores criticam a inexistência de suporte psicológico das empresas que formam o Consórcio do Transporte Coletivo de Pelotas (CTCP). Segundo eles, mesmo após ataques violentos aos ônibus precisam continuar trabalhando. Além disso, apontam, as imagens geradas pelas câmeras de segurança não estariam sendo usadas para identificar os bandidos. “É só para vigiar e punir os trabalhadores. Não é para proteger a nós ou aos usuários”, protesta um rodoviário.

Presente apenas no começo da audiência, o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário saiu sem se pronunciar, alegando compromisso pessoal. Nenhum representante do CTCP compareceu. A expectativa é que ambos participem de uma nova reunião de trabalho com Brigada Militar, Polícia Civil e secretarias municipais no próximo dia 15, no plenarinho da Câmara.

Fragata: sete em cada dez assaltos
Conforme o levantamento da Polícia Civil e do Observatório da Segurança Pública criado pela prefeitura, 16 dos 22 ataques a ônibus ocorridos até o momento em 2018 foram no Fragata. O local é apontado como o principal foco dos assaltantes que, conforme o secretário Aldo Bruno Ferreira, já estariam identificados. “É um grupo pequeno. Alguns estão identificados e um foi preso no domingo. Com isso acreditamos que deverá diminuir esse ritmo de crimes.”

O responsável pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) reconhece que o acesso ao conteúdo do circuito interno dos coletivos não é o ideal, o que dificulta o trabalho da Guarda Municipal e da Brigada Militar. Ferreira diz que em alguns casos há demora na cedência das imagens. Contudo, assumiu o compromisso de resolver a questão com a criação de um grupo de trabalho envolvendo agentes de segurança e representantes dos sindicatos de trabalhadores e empresários do transporte.

Botão de pânico
Sancionada pela prefeita Paula Mascarenhas (PSDB), a lei 6.543 obriga que o CTCP instale em todos os ônibus nos próximos 60 dias um “botão de pânico”. O objetivo do mecanismo, acionado pelos motoristas, é alertar silenciosamente a Guarda Municipal quando um veículo estiver sendo assaltado. Para o autor do projeto, vereador Éder Blank (PDT), a medida é mais uma alternativa de segurança aos rodoviários, pois permitirá uma reação imediata dos agentes, sabendo da ocorrência e da localização em tempo real.

Entre os trabalhadores, no entanto, a medida ainda é vista com desconfiança. Enquanto alguns aprovam a iniciativa, outros têm dúvidas se o uso não aumentará os riscos. “E se o bandido ver eu apertar? Ou se a polícia chegar e os caras armados resolverem reagir? Não sei se é uma boa”, avalia o motorista Vili Francisco da Silva, 46.

DESAVISADOS
Enquanto o protesto ocorria na Câmara de Vereadores, houve quem ficasse nas paradas à espera dos ônibus, sem saber da mobilização. Como a professora aposentada Marlene Pinheiro da Silva, 72, que saiu das Três Vendas cedo para pagar as contas sem saber da paralisação.

“Vou pedir carona. Não vou reclamar. A causa deles é justa. Não gostaria de ver um filho meu passando por essa insegurança nos ônibus. Não tem preço que pague uma vida”, aponta.
A circulação dos coletivos voltou ao normal logo após o fim da audiência pública, às 17h30min.

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