Reflexão
A quem estamos homenageando?
A maioria das 1.360 ruas, praças, travessas, passeios e avenidas de Pelotas destacam civis
Gabriel Huth -
Ele foi responsável por diversas mortes durante a Guerra de Canudos, tirando a vida, à faca, inclusive de prisioneiros já rendidos e resguardados por proteção em nome da República. Entre eles, mulheres e crianças. Seu nome, Marechal Bittencourt, também batiza rua em Pelotas, na Cohab Tablada. Você, que mora nela, provavelmente não sabia. E esse não é caso isolado: é de desconhecimento da população a grande maioria dos homenageados nas vias da cidade.
A maior parte das 1.360 ruas, praças, travessas, passeios e avenidas do município homenageiam civis. Pessoas que foram importantes para determinada região – ou vereador que porventura tenha proposto a troca de nome, tendo em vista que é pela Câmara que o procedimento é feito. Na sequência estão políticos, militares, homenagens religiosas e artistas, além de revolucionários e desportistas, em menor número – isso, claro, deixando de lado as tantas ruas que levam nomes de cidades, estados ou países. Também são maioria os patronos pelotenses, seguido pelos oriundos de outros estados, gaúchos de diferentes cidades e poucos estrangeiros.
Polêmicos
A aposentada Léa Pasqualini mora na rua Marechal Bittencourt. Ela não sabia que o brasileiro que dá nome ao local tinha biografia tão conturbada – nem mesmo sabia de quem se tratava. Mas, ao saber, posicionou-se: “Não deveria. Por mim, teria que trocar.”
E o militar não é o único. Estão entre os homenageados em ruas importantes de Pelotas personalidades como o General Argolo, oficial na Guerra do Paraguai, histórica batalha em que, conta a história, Brasil, Argentina e Uruguai se juntaram contra o país vizinho e dizimaram 75% da população paraguaia. Argolo teve papel importante também no combate à Balaiada, revolta popular encabeçada por homens pobres reivindicando o fim da opressão no Maranhão.
O bandeirante Fernão Dias também é homenageado com rua em Pelotas – mais precisamente no Areal. Mas, em sua biografia, está a escravização de mais de quatro mil índios.
Merecidos
Há, por outro lado, homenagens bastante merecidas. Uma delas é a feita ao médico André Dreyfus, que batiza rua de chão batido próxima ao Passo do Salso. De família francesa, mas pelotense de nascimento e criação, ele é considerado um dos pais do estudo da genética no Brasil. Nela mora a empresária Luciane Pereira. Ela não sabe quem é o patrono da rua. “Era para as escolas ensinarem isso, principalmente para as crianças. Mas acaba que conhecemos somente os de sempre: Bento Gonçalves, Marechal Deodoro, General Neto…”, comenta.
Também dá nome a uma rua, essa na Cohab Fragata, a aviadora Marilda Zaiden Mesquita. Pelotense, ela foi a primeira mulher a pilotar um avião comercial no Brasil. Ela faleceu também am viagem aérea, aos 34 anos de idade, em 1981.
Mudanças
Ao longo de dois séculos, as ruas de Pelotas sofreram alterações nas nomenclaturas. É o caso, por exemplo, da avenida Bento Gonçalves. Ela só passou a homenagear o protagonista da Revolução Farroupilha em 1909 – antes, se chamou Passeio e 25 de março. Já a Major Cícero, que hoje tem o nome do militar integrante do 9º Regimento de Infantaria de Pelotas em 1967, após se chamar Portugal, Rua das Torres e 3 de fevereiro.
Personalidades que merecem e ainda aguardam homenagem
►Judith Bacci - escultora negra pelotense. Encarregada da limpeza da Escola de Belas Artes, aprendeu a esculpir vendo Antonio Caringi trabalhar.
►João Antônio Mascarenhas - radicado no Rio de Janeiro, mas pelotense de origem e criação, foi um dos principais nomes do princípio da causa LGBT no Brasil. É o responsável pela retirada do homossexualismo da lista de doenças no país.
►Manuel Padeiro - escravo e posteriormente líder quilombola do século 19 na região da Serra dos Tapes.
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