Na estrada
A vida ao volante de um caminhão
Profissionais demonstraram, mais uma vez, a força de parar o Brasil
Eles conhecem cada palmo das estradas do país. Por causa do trabalho, chegam a passar meses longe de casa. Viajam, de Norte a Sul, transportando itens essenciais, como alimentos e medicamentos. Desde que iniciaram a greve, os caminhoneiros pararam o Brasil. Eles também deixaram clara a importância da classe, responsável por transportar 60% das cargas brasileiras. Mas, além da luta pelos direitos da categoria, eles enfrentam, todos os dias, um desafio ainda maior: o de conciliar a rotina nas estradas com a vida em família.
Passar aniversários, finais de ano e outros momentos importantes longe da família é parte da rotina de quem escolhe pela vida nas estradas. A dona de casa Cátia Passos Schumann, 48, sabe bem o que é isso: ela é casada com o caminhoneiro autônomo Marcos Schumann, de 55 anos de idade e 34 de profissão. Ele vai para casa de 15 em 15 dias, mas já chegou a ficar até dois meses na estrada. “Ele é muito sério com o trabalho. É de dar orgulho”, diz Cátia. A filha, Natália Schumann, 18, concorda com a mãe. “Quando eu era mais nova, ficava chateada em ver minhas amigas com o pai em casa sempre. Mas agora entendo. É o que ele gosta e o que sempre quis fazer desde pequeno”, destaca.
A dona de casa Paola Notti, 24, casada há oito anos com o caminhoneiro Christian Notti passa pela mesma situação. Enquanto cuida da filha Aurora, de dez meses, ela aguarda por notícias do marido, quase sempre em viagem. “Quando falo com ele tento passar tranquilidade para que ele possa concluir a viagem da melhor forma.” Apesar da distância, ela apoia a profissão do companheiro. “Tenho muito orgulho do meu marido pelo motorista responsável e dedicado que ele é, mesmo que seu serviço não seja valorizado o suficiente”, conta.
Brasil adentro
Assim que se casou, Cátia passou dois anos viajando com Marcos. Nesse tempo, ela conheceu boa parte dos estados do país. “O Brasil é de uma diversidade espantosa”, recorda. A filha, Natália, também já está acostumada com as aventuras e desventuras da estrada. Desde os seis meses de idade, ela acompanha o pai em algumas viagens. Entre as recordações de sua infância, estão as brincadeiras na cabine e as amizades que foram feitas nos mais variados locais. “Fiz amigos até no Uruguai”, lembra. Já para Paola, conhecer novos lugares é a melhor parte da profissão do marido, Christian. “Passei a gostar do trabalho dele quando tive a oportunidade de viajar junto”.
Dificuldades da profissão
Quando Cátia e Marcos se conheceram, há quase 30 anos, a maior dificuldade era a comunicação. Eles marcavam dia e horário para se falar, já que ela usava o telefone fixo e ele dependia de orelhões encontrados pelo caminho. Uma outra forma de contato utilizada por Cátia era o hábito de deixar recados na mala do marido. “No começo, eu escrevia bilhetes de amor, ou até com alguma recomendação ou bronca, e colocava entre as roupas pra ele encontrar na viagem”, relembra.
Hoje, com o celular, a comunicação é facilitada. Mas, segundo ela, a apreensão de ter o marido longe é a mesma. “Hoje em dia tudo é mais inseguro”, desabafa. Outra dificuldade, segundo a dona de casa, está em administrar a casa sozinha. “Acaba que tu tem que ser pai e mãe ao mesmo tempo. Tenho que tomar decisões e ele não está ali para ajudar. Também não quero ligar e preocupar ele”, conta.
Já Paola, esposa de Christian, ressalta as difíceis condições de viagem entre as maiores dificuldades. “A gente encara lugares sem nenhum conforto, por vezes os lugares onde descarregamos são gelados e até sujos, com banheiros precários” lembra. Além do medo de assalto e das serras perigosas, Paola destaca a apreensão de passar por lugares isolados, onde não há sinal de celular. “Tu tem que torcer pro caminhão não estragar e tu não precisar de nada”, relata.
Apoio à classe
Cátia concorda com a adesão do marido à greve dos caminhoneiros. “Eles estão lutando por um ideal válido. Do jeito que estava não dava mais. O dinheiro que ganhávamos com o frete era todo gasto com pedágio e diesel”, diz. Segundo ela, a situação piorou nos últimos anos. “As coisas encareceram e o valor que ganhamos com os fretes não acompanhou”, desabafa. Paola também apoia o marido. “A greve foi mais que necessária. O valor cobrado de combustível não era justo”, opina.
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