Empatia

A vida que continua no outro

Enquanto Leandro aguarda na fila, João recebeu um transplante de pulmão

Jô Folha -

Quando a vida endurece, a resistência para sobreviver nos fortalece. Nisso acredita Leandro Goulart, 28 anos, que está desde janeiro na fila de espera para receber um transplante de rim. Quando se vence a doença, próximo do que parecia o fim dos dias, o sujeito encontra-se em dívida com a vida e cria-se empatia com outros seres humanos em situação parecida. Dessa forma sente-se hoje João Campello, 39, há quatro anos com um novo pulmão. A importância de doar e de receber é tema da décima edição do Fórum de Discussão do Processo de Doação e Transplante de Órgãos, nesta quarta e quinta-feira em Pelotas.

O encontro reúne especialistas de todo o Brasil é organizado pela Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (ADOTE) e por quatro hospitais da cidade: São Francisco de Paula, Beneficência Portuguesa, Santa Casa de Misericórdia e Hospital Escola Ebserh.

Entre os assuntos a serem debatidos a partir das 14h de hoje, estão um panorama de doações no Estado, a morte encefálica, a comunicação de más notícias para familiares.O momento alto do encontro deve ser a mesa redonda que reunirá um transplantado, uma família doadora e um paciente em fila de espera para doação. Em 2018, a Adote completa 20 anos. Neste mês também, completa um ano de morte do seu fundador, Francisco Neto de Assis.

“É também uma maneira de incentivar as famílias a conversarem sobre o assunto. Hoje quem dá o sinal positivo pela doação são os familiares”, comenta uma das organizadoras, a enfermeira Francine Lacerda. Hoje, o fórum acontece à tarde no auditório da Santa Casa, onde continua amanhã durante todo o dia.

A continuidade
Há três anos e oito meses, João Campello morava em Porto Alegre. Precisou se mudar com toda a família em função do tratamento de pulmão. “Eu descobri a doença em 2009 e entrei na fila de espera em 2014, no dia 31 de janeiro. No dia 31 de março de 2015 fui informado que poderia fazer o transplante”, conta por telefone.

Hoje, vive em Rio Grande e preside uma associação de pré e pós transplantados da cidade. Quando descobriu a doença, sua esposa estava grávida e durante a infância do filho a interação era limitada - João dependia do tratamento com oxigênio para continuar vivo. O pior: o tratamento concede uma sobrevida de até cinco anos. “Na semana que eu fiz o transplante ainda tinha 2% do tempo. Era a última semana de vida”, lembra, aliviado.

Depois de cinco anos sem estudar, prestou prova no Enem e hoje é bolsista do Prouni para cursar Fisioterapia. Já no quarto ano de faculdade, não se vê separado de outros seres humanos em situação parecida com a sua. “Quero trabalhar com transplantados. Quero devolver aos outros o que já fizeram por mim”, acredita João, que também trabalha em diversos projetos sociais voltados ao assunto.

A espera
A vida de Leandro mudou bastante no último ano. Então com 27 anos, Goulart trabalhava em um posto de gasolina. Após exames de rotina, viu sua esposa, que é enfermeira, chorar ao ver o resultado antecipado na tela do celular. Naquele sábado, resolveram ir ao médico, apesar da vontade de comparecer ao trabalho. No mesmo dia foi internado e começaram as hemodiálises. Leandro estava com insuficiência renal.

As sessões de quatro horas ocupavam três dias da semana. Ouvia música, assistia TV. Começaram as amizades com outros pacientes, com enfermeiros, médicos. “Eu tenho uma dívida com aquelas pessoas que é eterna e ela segue crescendo. As enfermeiras, os abraços. Sempre me ajudaram a pensar que eu precisava ficar com a cabeça tranquila para enfrentar a doença”, relata. Desde janeiro está na fila de espera. Caso seja encontrado um órgão compatível, ele tem quatro horas para estar num hospital em Porto Alegre para o procedimento.

“Eu procuro levar a vida normal. Jogo bola, faço academia, exercícios físicos. Fico com a minha família, saímos pra comer alguma coisa. Não fico pensando nisso. Eles têm meu telefone, de familiares”, reflete. As sessões viraram momentos de estudo, o que permitiu Leandro ser aprovado no mais recente concurso da Guarda Municipal e realizar um antigo sonho da época do quartel.

O dia pode ser hoje, no ano que vem ou ainda no outro. Mas agora, o que interessa é um gesto, que pode significar a continuidade dos dias e da vida em outras pessoas.

 

Programação do Fórum

Quinta-feira - 22/11
13h30 - Credenciamento
14h - Abertura
14h30 - Panorama das Doações do RS - Dr. Ricardo Klein Ruhling
15h10 - Morte Encefálica - Dr. Fernando Bonow
16h10 - Comunicação de más notícias - Enfermeiro Dagoberto Rocha
16h50 - A trajetória do modelo catarinense de Coordenação de Transplantes - Dr. Joel de Andrade
17h30 - ADOTE 20 anos - histórias e resultados para caminhar para o futuro - Enfermeiro Rafael Paim

Sexta-feira - 23/11
8h30 - Atuação do enfermeiro na captação de órgãos e tecidos - Enfermeira Larissa Matheus
9h10 - VILI e ADOTE: Conscientizando a sociedade de forma lúdica no procfesso de doação e transplante - Enfermeira Andreia Ribeiro de Almeida
10h20 - Doação de córneas - Enfermeira Daiane Nickel e Dra. Juliana Meroni
11h10 - Situação da doação e TX no Brasil - Dr. Valter Duro Garcia
14h - Apresentação de trabalhos
14h30 - Manutenção do potencial doador - Dr. Luciano Teixeira
15h10 - Mesa redonda com paciente em fila de espera, família doadora e transplantado
16h10 - Entrevista familiar - Enfermeira Daiana Kochhann
17h - Encerramento e entrega de certificados

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