Alerta

Adolescentes têm amplo acesso à compra de cigarros

Pesquisa do Inca mostra que o comércio ignora a lei e vende o produto aos jovens brasileiros

Divulgação -

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgou pesquisa em que constata que, apesar de a legislação brasileira proibir a venda de cigarros a menores, a ampla maioria dos adolescentes tem acesso ao produto, em um claro desrespeito à lei, o que contribui para o aumento na iniciação de jovens no tabagismo.

Divulgada durante a solenidade comemorativa ao Dia Nacional de Combate ao Câncer, em conjunto com o Ministério da Saúde, o estudo Descumprimento da legislação que proíbe a venda de cigarros para menores de idade no Brasil: uma verdade inconveniente, concluiu que os adolescentes brasileiros conseguem comprar cigarros com facilidade tanto no comércio varejista formal quanto no informal ambulante, em desrespeito à lei e ao Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbem a venda para menores de 18 anos.

Publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia, o estudo indica que 86,1% dos fumantes entre 13 e 17 anos que tentaram comprar cigarros em alguma ocasião nos 30 dias anteriores à pesquisa não foram impedidos. Segundo o levantamento, a proporção de êxito na compra chegou a 82,3% entre adolescentes de 13 a 15 anos e 89,9%, entre os de 16 e 17 anos.

Grave constatação
O trabalho do Inca e do Ministério da Saúde toma por base dados de 2015 da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada a cada três anos com estudantes de escolas públicas e privadas em todos os estados brasileiros.

Para a coautora do trabalho, médica do Inca Tânia Cavalcante, essa constatação “é muito grave, pois o descumprimento da lei que proíbe a venda de cigarros a menores pode ter contribuído para a reversão da tendência histórica de queda na iniciação ao fumo no Brasil”. Ela ressalta o fato de que dados da PeNSE mostram um aumento na proporção de fumantes entre 13 e 17 anos, de 5,1% em 2012, para 5,6% em 2015.

Combinação explosiva
Já para o pesquisador do Inca André Szklo, autor principal do estudo, a “combinação explosiva e perfeita” para que a iniciação ao fumo volte a crescer entre adolescentes consiste nos seguintes fatores: o amplo acesso à compra, inclusive de cigarros a varejo (unitários); o baixo preço dos cigarros legais, decorrente do congelamento dos preços mínimos (apenas R$ 5,00 por maço com 20 cigarros), além das alíquotas de impostos.

Os ainda menores preços dos cigarros ilegais contrabandeados do Paraguai, a exposição dos maços perto a doces e balas nos pontos de venda e o ainda permitido uso de aditivos mentolados e adocicados - que mascaram o gosto ruim do tabaco nas primeiras tragadas da iniciação - contribuem ainda mais com a citada combinação explosiva.

O trabalho também mostra que os adolescentes não enfrentaram grande resistência para comprar cigarros no comércio legal. Entre os estudantes de 13 a 17 anos que compraram cigarros regularmente nos 30 dias anteriores à pesquisa, 81,1% adquiriram os produtos em lojas ou botequins, e não no comércio ambulante (camelôs).

Recomendações
O estudo recomenda os poderes federais, estaduais e municipais a adotarem ações educativas e de fiscalização, inclusive por meio de ações conjuntas com organizações representativas do comércio varejista e com os sindicatos que representam o setor jornaleiro e outros estabelecimentos comerciais.

Conclama, ainda, órgãos como o Ministério Público, a promoverem um termo de ajuste de conduta junto às companhias de tabaco que abastecem a ampla rede de varejistas em todo o território nacional para que essas assumam parte da responsabilidade de fazer cumprir a lei que proíbe a venda de cigarros a menores.

Programa
Gerenciado pelo Instituto Nacional do Câncer, o Programa Saber Saúde de Prevenção do Tabagismo e de Outros Fatores de Risco de Doenças Crônicas forma profissionais da educação e da saúde para trabalharem nas escolas conteúdos relacionados à promoção da saúde com crianças, adolescentes e jovens. Os especialistas do instituto fornecem aos profissionais informações de base científica e material de apoio, que inclui dois livros, duas revistas, adesivos, cartazes, vídeos e um jogo.

Segundo informações do Inca, o público-alvo do programa é formado por alunos do primeiro e segundo segmento do Ensino Fundamental. Os temas abordados incluem tabagismo, uso do álcool, alimentação inadequada, exposição excessiva à radiação solar, inatividade física e sexo sem proteção.

Saiba mais
- A violação à lei está permitindo que os adolescentes se iniciem na dependência à nicotina

- A idade média de iniciação ao consumo regular de cigarros no Brasil é de 16 anos, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Ministério Público Federal receberá denúncia da crise na saúde Anterior

Ministério Público Federal receberá denúncia da crise na saúde

Aluno da UFPel ganha prêmio nacional Próximo

Aluno da UFPel ganha prêmio nacional

Deixe seu comentário