Avanço
Ainda tem muito chão
Apesar dos primeiros trechos liberados, conclusão da duplicação da BR-116 ainda deve demorar
Paulo Rossi -
São 63%. Ainda falta um tanto para a conclusão, mas os primeiros trechos da duplicação da BR-116, a obra mais importante da metade Sul gaúcha, começam a ser entregues. Nas duas últimas semanas, 28 quilômetros foram liberados em dois lotes: 4, entre Tapes, Arambaré e Camaquã, e 7, em São Lourenço do Sul. Na segunda-feira, em solenidade com a presença do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), outros 20 estarão disponíveis para tráfego: 19 do lote 9, entre Turuçu e Pelotas, e 1 do lote 6, em Cristal. A expectativa do Dnit é chegar ao fim do ano com 70 quilômetros liberados dos 234,9 quilômetros que compõem a rodovia.
Antiga reivindicação regional, por questões de segurança, logísticas e econômicas, a duplicação da BR-116 teve início em 2012. Pensada inicialmente para 2015, a conclusão dos trabalhos hoje está estimada para o fim de 2021 - e a data não agrada o movimento regional pela duplicação. O motivo para a demora é político e, principalmente, financeiro. Se demorou um tanto para começar, a obra teve a evolução prejudicada por surgir exatamente junto à crise brasileira que levou ao impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Os constantes atrasos nos repasses resultaram em paralisações e até mesmo abandonos por parte dos consórcios que realizavam os trabalhos. O produtor rural Valdino Ehlert trabalha, diariamente, em frente ao lote 3, um dos mais atrasados da obra. "Está sempre parado. Hoje é a primeira vez em meses que vejo um movimento", comentou na última quarta-feira, quando o Diário Popular esteve no local.
De acordo com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, a injeção de mais recursos faria a liberação se aproximar dos cem quilômetros. Apesar da expectativa, não há indicativo de novas verbas a serem disponibilizadas para a obra. E foi o próprio presidente Jair Bolsonaro quem tratou de frear a possibilidade. Em reunião junto ao governador Eduardo Leite (PSDB) e representantes da Zona Sul, em abril, Bolsonaro condicionou novos repasses à suplementação orçamentária e garantiu apenas 60 quilômetros com R$ 130 milhões do orçamento e de emendas - algo que já estava previsto desde o início do ano. Atualmente, a duplicação de BR-116 está orçada em R$ 1,6 bilhão.
Urgência
As condições atuais da estrada, principal forma de acesso a municípios como Pelotas, Rio Grande, Turuçu, São Lourenço do Sul, Cristal, Camaquã e Arambaré, trouxeram diversos prejuízos. O principal deles é humano. Entre 2007 e 2018, a BR-116 concentrou quase 10% - 1.273 - das mortes ocorridas em rodovias no Rio Grande do Sul.
Em 2019, cinco pessoas já perderam a vida no trecho Guaíba-Pelotas - todas nas proximidades do município de Cristal. No primeiro caso, em março, um carro e um caminhão colidiram frontalmente e um micro-ônibus saiu da pista ao tentar desviar do local. Uma pessoa morreu. Em maio, um ônibus, um carro e um caminhão se chocaram e outras duas pessoas faleceram. Mais recentemente, no dia 25 de julho, dois irmãos morreram após uma caminhonete invadir a pista contrária e bater em um caminhão.
A segurança é a celebração imediata do borracheiro Igor Dias, que trabalha logo em frente ao trecho liberado, em Camaquã,. "Diminui bastante o risco dos acidentes, por não precisarmos mais fazer aquelas ultrapassagens perigosas."
O outro ponto que demonstra a urgência da duplicação é o financeiro. De acordo com um estudo feito pelo Escritório de Desenvolvimento Regional da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), cada ano de atraso na entrega da obra equivale a R$ 700 milhões em perdas econômicas. A rodovia é a principal forma de escoamento de produtos da região para o restante do país. Além da solução das atuais dificuldades de uma estrada com apenas uma faixa em cada sentido, a duplicação deve reduzir o tempo de viagem. Estima-se que o trecho Pelotas-Porto Alegre, feito atualmente em uma média de 3h30min, seja reduzido para 2h30min.
Solenidade
Após finalizado o contorno de Pelotas, os primeiros trechos começaram a ser liberados em 2019. Desde o dia 1º, 15 quilômetros do lote 4 foram inaugurados entre Camaquã, Arambaré e Tapes. No lote 7, 13 quilômetros foram também abertos entre São Lourenço do Sul. Ainda 19 quilômetros duplicados estarão disponíveis para a população após a entrega oficial, marcada para segunda-feira, com a presença do presidente Jair Bolsonaro (PSL). O chefe do Executivo nacional deverá também fazer vistoria no lote 2, em Barra do Ribeiro, obra assumida pelo Exército Brasileiro no início de 2019.
Lotes 1 e 2
Os dois primeiros lotes da duplicação da BR-116 foram assumidos pelo Exército Brasileiro no início de 2019. Desde então, as tropas trabalham nos locais. O trecho abrange os municípios de Guaíba, Barra do Ribeiro, Mariana Pimentel e Sentinela do Sul.
Execução: 59,20%
Lote 3
Mais ao Norte do Estado, abrange os municípios de Sentinela do Sul e Tapes. Sob administração da Ivaí Engenharia de Obras S/A, é um dos trechos mais atrasados de toda a obra. Entrou 2019, inclusive, com os trabalhos paralisados, tendo-os reativados recentemente. Grande parte ainda se encontra com pedras e chão batido, enquanto outros poucos já estão asfaltados.
Execução: 63,01%
Lote 4
Abrange os municípios de Tapes, Arambaré e Camaquã e é executado pelo consórcio Trier-CTESA. Fora o contorno de Pelotas, é o lote mais avançado - estão nele os primeiros 15 quilômetros liberados da rodovia. Resta ainda, em determinados pontos, instalação de sinalização e acabamentos como guard rails.
Execução: 87,32%
Lote 5
É o mais atrasado dos nove lotes. Localizado nos municípios de Camaquã e Cristal, tinha poucos sinais de obra na quarta-feira (7), quando o Diário Popular esteve no local. Na maior parte do trecho, chão batido e muito a fazer. A execução é da Brasília Guaíba.
Execução: 48,45%
Lote 6
A situação é semelhante à do lote 5, mas os trabalhos estão um tanto mais adiantados. Ainda há extensos trechos de chão batido, mas o asfalto já se vê com maior frequência, como no quilômetro 435. Um quilômetro será liberado na segunda-feira (12). Feito pela Construtora Pelotense, abrange a cidade de Cristal.
Execução: 56,67%
Lote 7
Está nele o trecho de 13 quilômetros liberados na última quarta-feira (7), quando equipes trabalhavam nos ajustes finais da sinalização. Há pontos bastante atrasados, principalmente na entrada de São Lourenço do Sul. O lote é executado pela Sultepa Construções e Comércio LTDA.
Execução: 66,6%
Lote 8
Outro lote que entrou em 2019 paralisado - desde julho de 2017 -, mas que atualmente está em andamento, ainda que aparentemente brando. Existem pontos em que praticamente o trabalho não teve início, outros já com asfalto e ainda trechos bastante avançados. A execução é da SBS Engenharia e Construções S/A.
Execução: 79,20%
Lote 9
Outro com quilômetros prestes a ser liberado, recebia reparos finais na última quarta-feira. Alguns pontos pareciam completos, como o quilômetro 504, em Pelotas. A obra é executada pela MAC Engenharia e abrange o município de Pelotas.
Execução: 83,33%
Contorno de Pelotas
As obras do contorno da Princesa do Sul foram divididas em dois lotes: A e B. O primeiro já está completo e liberado para tráfego. Além dos 5 quilômetros pertencentes à BR-116, o trabalho abrange também a construção de um viaduto sobre a linha férrea na BR-392.
Execução: 100% no lote A e 83% no lote B
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