Habitação
Amazonas e Roraima são finalmente entregues
Famílias de baixa renda que há anos aguardavam para ter sua casa receberam as chaves dos apartamentos no Sítio Floresta nesta quarta-feira
Jô Folha -
Sentadas lado a lado, na manhã desta quarta-feira (20), estavam Nelci e Julsara. Ambas na primeira fila de uma cerimônia cheia de discursos políticos. Quase todos tentando mostrar méritos de autoridades pela conclusão de uma obra que, diga-se, levou o triplo do tempo previsto. Mesmo assim, ambas não estavam entediadas. Pelo contrário: os olhos marejados transbordavam diferentes sentimentos pela realização do sonho de, finalmente, terem respeitado o direito à moradia. Elas e outras 558 famílias receberam as chaves dos residenciais Amazonas e Roraima, no Sítio Floresta.
Famílias conheceram os apartamentos onde vão, enfim, poder morar (Foto: Jô Folha)
Nelci Caldeira, 71 anos, carregava a certeza de que sua fé inabalável ajudou a conquistar o apartamento 102 do bloco 1 no Amazonas. Longe dos filhos adultos que trabalham em Santa Catarina, vive sozinha. E de favor, na casa de uma amiga. Em troca, paga as contas de água e luz. Há cinco anos, entrou na fila da Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária (SHRF) buscando ser contemplada no programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV). E até esta quarta chegar, foi a fé que a manteve acreditando. Mesmo diante da demora em ser sorteada. "Fiz novena por cinco anos pedindo a casa. E se recebi essa graça, quero retribuir de alguma forma. Vou fazer uma ceia para a família mais necessitada do meu bloco", diz.
Tanto no bloco 1 de Nelci quanto nos demais, os apartamentos dos residenciais Amazonas e Roraima na Zona Norte são destinados a famílias da faixa 1 do MCMV, com renda mensal máxima de R$ 1,8 mil. Todos possuem dois quartos, sala, cozinha, área de serviço e banheiro. Cada família pagará mensalmente parcelas mínimas de R$ 80,00, aumentando o valor de acordo com as possibilidades financeiras de cada morador. O custo total dos empreendimentos foi de R$ 35 milhões em recursos federais financiados pelo Banco do Brasil.
Durante a entrega das chaves, a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) ressaltou a importância dos empreendimentos para reduzir o déficit habitacional em Pelotas. "O Minha Casa, Minha Vida é um destes retornos dos impostos pagos pela população e que democratizam a habitação. A gente sabe que obra demora, há dificuldade. Mas agora, véspera de Natal, chegou esse presente", destacou. O secretário Ubirajara Leal, da SHRF, disse que o atraso de 31 meses - a entrega estava prevista para maio de 2015 - se deu devido a "contratempos e questões contratuais", contornados a tempo de garantir as mudanças ainda antes do Natal. "A partir de agora estas famílias de diferentes pontos da cidade poderão começar uma nova vida", ressaltou.
Por não estar habituada ao bairro nem conhecer ainda seus vizinhos, a faxineira Patrícia Ferreira, 37, não tinha a mesma pressa da maioria dos contemplados para passar as festas de final de ano na nova casa. Ela, os cinco filhos e o marido mudarão de ares somente em janeiro. "Foram dois anos de espera. Não custa ficar mais uns dias. Vou passar o Ano-novo perto dos meus amigos da rua São Jorge, nas Três Vendas", diz. Até lá, quer encontrar vagas para as crianças em escolas mais perto da moradia recém-recebida.
Clima foi de muita felicidade na entrega dos apartamentos nesta quarta (Foto: Jô Folha)
Foi por pouco
Enquanto Nelci pensava no jantar da noite de Natal, ao lado dela uma avó não cansava de mostrar ao neto de apenas quatro meses a chave com o número 504 do bloco 13. "É nosso, meu filho. É nosso!", repetia Julsara Domingues, 44, para Lorenzo. Atrás dela, Manoela Goulart, 25, mãe do pequeno, chorava. Era o fim de dez anos de espera por uma casa.
Última a ser sorteada no ano passado entre os contemplados com os apartamentos, ela conta que somente agora, que viu a obra concluída e tem a chave em mãos sente-se segura. "Foi muito sofrimento. E mesmo depois de ser sorteada, a entrega ia sendo adiada, o tempo passava e a angústia só aumentava", conta, enquanto anda pelo pátio do condomínio. A partir de agora, tudo o que espera é ter tranquilidade, já que não corre mais o risco de ter que se mudar a cada pedido de proprietário para ter o imóvel alugado de volta. "É o nosso canto para unir a família, ver meu neto crescer em paz. Parece que estou sonhando", desabafa.
Infraestrutura e serviços ainda são desafio
Distantes dez quilômetros do Centro da cidade, os residenciais Amazonas e Roraima se somam a outros empreendimentos de habitação popular que se instalam em locais ainda sem infraestrutura e oferta de serviços públicos consolidadas. Embora a alegria pela realização do sonho da casa própria se sobreponha a preocupações como criação de mais vagas em escolas ou ampliação do atendimento médico no Sítio Floresta para os cerca de dois mil novos moradores, a prefeitura afirma já estar trabalhando nisso.
Segundo a SHRF, dentro da Matriz de Responsabilidades aprovada para a construção dos empreendimentos está a instalação de uma escola na região. Conforme Ubirajara Leal, já existe um projeto com a Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag) e área cedida para a unidade educacional. A reportagem tentou contato com o secretário Paulo Morales para saber o prazo desta obra, mas não foi atendida.
Já o serviço de saúde deve ser reforçado diante da maior demanda sobre a Unidade Básica de Saúde (UBS) do Sítio Floresta. Hoje, duas equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) atendem os 5,2 mil moradores do bairro. Segundo funcionários da UBS, com a entrega dos apartamentos do Amazonas e do Roraima, será difícil dar conta de prestar um serviço adequado sem acréscimo de profissionais e ampliação do prédio atual.
Conforme a secretária de Saúde, Ana Costa, o problema deve ser resolvido ainda no primeiro semestre de 2018, com a transformação da UBS do Cohab Lindoia em Unidade Básica de Atendimento Imediato (Ubai) e destinação de mais uma equipe de apoio para atender a região. "Vamos agir em todos estes desafios, especialmente com grupos atuando na prevenção, podendo inclusive ir até as pessoas usando espaços comunitários para que as ESFs ajam", projeta.
Atualmente, com as férias de um médico cubano que só retorna em janeiro, a UBS Sítio Floresta conta com dois clínicos, sendo que um atende apenas pela manhã.
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