Oportunidade
Anjos e Querubins dá início a preparatório para Enem e Encceja
Aulas gratuitas integram movimento Por mais formaturas, como incentivo para a gurizada dar seguimento aos estudos e chegar ao Ensino Superior
Paulo Rossi -
A sala de aula é pequena, as classes são usadas e o quadro ainda não está na parede. O desejo de investir nos estudos e poder chegar à universidade, entretanto, ajuda a dar forma ao movimento Por mais formaturas, desencadeado pela Organização Não Governamental (ONG) Anjos e Querubins, em Pelotas. Até agora, oito jovens se inscreveram ao preparatório gratuito para as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja).
A fase é de captação, tanto para incentivar que outros adolescentes se juntem ao grupo quanto para ampliar a equipe de professores voluntários em ministrar as atividades. As aulas de Português, de Redação e de Inglês já estão garantidas e ganharam inclusive dia e hora certos na agenda. O desafio é conseguir um apoiador para compartilhar os conhecimentos de Matemática com a gurizada. Tudo com objetivo bem definido: fazer crescer a lista de jovens que passaram - ou ainda têm vínculo - com a ONG e chegaram ao Ensino Superior. E já são dez, em cursos variados: Pedagogia, Psicologia, Direito, Engenharia Civil, Meteorologia e Educação Física. “A molecada sabe que é através do estudo que terão oportunidade de construir um futuro melhor”, destaca o presidente da ONG, Ben Hur Flores. E afirma com o peso de quem vive, dentro de casa, duas alegrias: o filho Ben Hur Júnior, 24, é um dos acadêmicos; está no terceiro semestre de Meteorologia. “E eu tô indo pra faculdade. Vou ser historiador”, orgulha-se. E se investe de garra para dar início ao bacharelado em História. Em 2010, Ben Hur conquistou vaga no curso de Teatro da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), mas problemas financeiros acabaram por fazê-lo adiar o sonho, logo nos primeiros meses. Uma década depois, entusiasmado pelos filhos Júnior, Tamires, 22, e a caçula Emanuele, 12, o fundador da Anjos e Querubins retoma o projeto de qualificação.
Foco voltado à educação
O crescimento será coletivo. A troca de experiências também. Foi convicta neste aprendizado que surge da relação professor-aluno que Lucimara dos Santos abriu espaço na agenda - que inclui rotina em três escolas da rede estadual - para dar aulas de Gramática e de Redação aos jovens do loteamento Getúilio Vargas e do Pestano. “Aprendemos a cada dia e crescemos juntos. Sempre apostei em projetos que pudessem tirar as crianças da rua”, sintetiza a professora.
Para Jaci Santos, 24, o preparatório ao Enem é uma oportunidade para ser agarrada. Com força. A graduação que tentará cursar ainda não está definida. Música, Pedagogia e Educação Física despontam entre os interesses. E enquanto coloca na balança uma mistura entre aptidão, vocação e análise de mercado, a jovem alimenta uma certeza: estará nas aulas, mesmo aos finais de semana, e acompanhada do filho Josepher, de três anos de idade, se necessário. “Ele adora vir pra cá. Já tá acostumado.” Por certo, o pequeno segue os passos da mãe que, em 2013, ingressou para a ONG e hoje é uma das oficineiras de dança.
Lázaro Permel, 19, também aproveita a oportunidade. Fará as provas do Enem para poder concluir o Ensino Médio e ficar pronto para seguir investindo nos estudos. “Ainda não tenho certeza, mas também penso em fazer Música”, enfatiza o integrante do grupo SbCrew. São resultados de sementes adubadas e valorizadas em atividades da Anjos e Querubins, que têm feito eco a versos das composições de rap que nascem ali: dos sonhos, dos dramas e dos episódios de preconceito que ferem quem vive em zonas periféricas.
Pioneira na ONG e na família
A história é de obstinação. Andréa da Conceição Medeiros era ainda criança quando passou a frequentar a ONG Anjos e Querubins. Logo virou monitora-aprendiz, contribuía nas aulas de apoio e transformou-se em oficineira de teatro. As indagações sobre o que fazer para melhorar o mundo não cessavam. E logo, claro, ganharam reverberação também como estudante de Pedagogia.
Hoje, aos 28 anos, a cria do BGV - como brincam na comunidade - segue determinada em apontar rumos à gurizada. E mais: é referência entre familiares, amigos e integrantes da ONG. Para estudar e ter renda no bolso, Andréa atuou por seis anos como gari. Atualmente, vibra com a carteira assinada como professora de Educação Infantil, cursa pós-graduação em Psicopedagogia e já sonha com mestrado e doutorado. “Me sinto feliz em poder mostrar pra eles que todos podemos”, destaca.
E ao relembrar de lições recebidas na Anjos e Querubins e de exemplos repassados pelos pais Juselena e André Ricardo, a orientadora pedagógica da ONG divide-se entre dois movimentos: agradecer a bagagem do passado e projetar um futuro em que possa ajudar a construir tempos de mais fraternidade e justiça. “Não consigo me enxergar em outra coisa. Acredito que como professora, principalmente dos pequenos, posso defender direitos e mostrar como ajudar o próximo.” As mesmas inquietações que já mexiam com Déa, na infância.
Ajude o movimento Por mais formaturas
►Com doação de material escolar
Ministrando aulas de Matemática para os jovens que farão as provas do Enem e do Encceja
Por enquanto, a equipe conta com as voluntárias Lucimara dos Santos, em Gramática e Redação, e Márcia Vargas, em Inglês
►Faça contato pelos telefones (53) 99182-7813 e 98452-3731 (WhatsApp)
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