Desperdício
Ao invés de cultura e arte, destruição
Um ano após mobilização, Ginásio do Navegantes segue sem data para ser recuperado
Jô Folha -
Dinheiro público: meio milhão de reais foi investido na estrutura (Foto: Jô Folha - DP)
O espaço deveria ser sinônimo de arte, cultura e inclusão. Mas não é o que se vê. O Centro de Convivência, conhecido como Ginásio do Navegantes, virou referência como ponto de uso de drogas e de prostituição. O Diário Popular retornou ao local e, um ano depois da última reportagem, o cenário só se agrava. Sujeira por todos os lados, rastro de urina e fezes, marcas de fogo e furto de material. Aos poucos até tijolos são levados e o prédio, erguido e colocado em funcionamento após investimento de R$ 500 mil, deteriora-se a cada dia. O sonho da comunidade em ver as atividades retomadas segue longe.
A equipe de Memória e Patrimônio da Secretaria de Cultura (Secult) garante que a recuperação do local será um dos principais alvos em 2020. A fase ainda é de organização de material, para que a prefeitura possa negociar com o Conselho Municipal do Plano Diretor (Conplad) a liberação de verba complementar e, então, publicar o edital de licitação das obras. A estimativa é de que cerca de R$ 300 mil sejam necessários; o dobro do recurso que a direção do Conplad já havia anunciado que poderia destinar ao Ginásio, quando lideranças do Navegantes passaram a se articular para barrar o processo de degradação.
“Para acessarmos o recurso, precisamos de um projeto executivo, de projetos complementares (como elétrico e hidrossanitário), de atualização da planilha orçamentária, de adequações ao PPCI pela legislação atual e de um Termo de Referência”, afirma a arquiteta Marta da Rosa, ao lembrar que o ponto de partida do trabalho foi uma planta baixa entregue à Secult, no começo do ano passado.
De lá para cá, em meio à pressão para dar início ao restauro do Theatro Sete de Abril e para concluir o projeto que levará à restauração do Museu da Baronesa, a equipe passou a fazer contato com a Coordenadoria Regional de Obras e com representantes do governo do Estado, em Porto Alegre, em busca de documentação da época da construção do Centro de Convivência, aberto em 2010, através do Programa de Prevenção à Violência (PPV). “Sabemos que embora seja um ginásio, que é um equipamento esportivo, está dentro de um contexto que envolve atividades culturais, serviços socioassistenciais, que tem ligação com políticas de saúde, de educação, assistenciais e culturais”, reforça a arquiteta.
Nenhum prazo concreto, entretanto, foi apresentado. E sabe-se que o período eleitoral pode restringir a abertura de licitações. O desafio, portanto, é correr contra o tempo.
Apesar do investimento, local vive em abandono (Foto: Jô Folha - DP)
Ações para pôr fim à depredação
Acúmulo de baganas. Um par de tênis e jaqueta. Copos descartáveis, em meio a lixo de todos os tipos. Uma estrutura de cama de mola e um homem dormindo sobre um tapete. Os recados vêm de frases nas paredes: Quem conspirou vai pagar e O f... é que roubaram até os tijolos. Nos banheiros, já não há mais pias nem vasos sanitários.
Quem acompanha a deterioração do ginásio, lamenta e - em alguns casos - prefere não ser identificado. “Tá virando uma esculhambação isso aí. O pessoal usa maconha e pedra a mil aí dentro”, conta um dos moradores. Integrantes da vizinhança reforçam o coro e torcem pela retomada: “A gente que é do Fátima também poderia estar usando este local, mas tá cada vez pior”, destaca Rodrigo Ferraz, 39, enquanto observa o filho Joaquim, de três anos de idade, divertir-se na pracinha ao lado do ginásio.
O presidente da Associação de Moradores do Navegantes, Adão Pereira, é mais uma das vozes que se levanta em defesa da reativação do local e projeta atividades, como aulas de música e oficinas de dança. “Aquele local ali é nosso. Todos podem desfrutar”, enfatiza, ao lembrar que não só o Poder Público, mas a própria comunidade deve olhar com mais carinho ao ginásio.
O presidente da Associação de Hip-Hop, DJ Vagner Borges, também acompanha com preocupação a destruição do local. E aguarda, com ansiedade, não só pelas obras, mas pela gestão compartilhada do Centro de Convivência. O DJ está à frente da formação do Grupo Gestor, que já ganhou estatuto, e deverá contar com nomes de moradores, de entidades e também da prefeitura. Tudo para que o espaço funcione nos moldes do que foi implementado no Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU) Dunas e as decisões - inclusive de formas de uso e prioridades - possam ocorrer coletivamente. “Estamos aguardando novidades sobre a obra. Não queremos ver o ginásio ocioso”, reitera.
Confira mais imagens do local:
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