Clima tenso

Após novos atos de discriminação, UFPel clama por tolerância

Banheiro do campus Anglo foi pichado com mensagens racistas e homofóbicas na quarta-feira

Divulgação -

Clima tenso, durante a e após períodos eleitorais, é algo corriqueiro. Faz parte da democracia o debate entre opiniões conflitantes. Não pode, porém, ocorrer ameaças, agressões, desrespeito. E tem havido, no país todo e também em Pelotas. Principalmente relacionado à Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que já registrou pelo menos quatro casos emblemáticos.

O primeiro, que teve início ainda durante o pleito, foi o envio de e-mails a um professor da universidade. No conteúdo, estavam ameaças relacionadas ao posicionamento do docente e afirmações de que o então candidato Jair Bolsonaro (PSL) estava ciente de tal. Com a eleição do capitão da reserva, novas mensagens foram enviadas e nelas alegações de "a verba para pesquisa enche-linguiça acabou." Ao Diário Popular, o professor registrou tristeza com o ocorrido. "Levo muito a sério as atividades que realizo. Tenho reconhecimento nacional e internacional com meu trabalho. Esse tipo de ameaça, que pode vir de qualquer um, traz insegurança para o desenvolvimento de minhas atividades pessoais e profissionais."

Pós
Logo após o domingo, nova denúncia foi registrada. Um grupo teria sido formado para entrar em aplicativos de relacionamento voltados ao público LGBT. Cadastrados, eles estariam marcando encontros com homossexuais com o objetivo de espancá-los. Um membro do aplicativo fez o alerta para um estudante da UFPel, que imediatamente divulgou no grupo da instituição em uma rede social. O grupo teria se organizado para realizar as agressões durante as madrugadas na região do Porto de Pelotas.

Na terça-feira, um vídeo que um homem fez em frente ao campus Direito da universidade foi postado em rede social. Filmando a si mesmo, ele repudiava uma faixa antifascista colocada na entrada do prédio e requiria uma manifestação anticomunista junto a ela. Na publicação, pedia posicionamento da reitoria, além da revelação de quem estaria por trás da colocação do objeto no local.

Por fim, na quarta-feira, foram registradas duas pichações em banheiro do primeiro andar do campus Anglo - uma homofóbica, a outra racista. A Polícia Federal foi chamada ao local e recolheu imagens de câmeras de segurança e impressões digitais para dar início às investigações.

Nota
Em nota, o reitor da UFPel, Pedro Hallal, destacou que a universidade é um local plural e democrático. "Uma onda de intolerância, acirrada pelo antagonismo entre as duas propostas que participaram do segundo turno da eleição, somado a discursos que incitavam o ódio, levou a episódios de violência. Passado o período eleitoral, a administração da UFPel vem a público pedir sensibilidade da nossa comunidade para que sejam evitados confrontos que fujam dos respeitosos e desejados debates sadios, garantidos constitucionalmente pelo conceito de liberdade de expressão", manifestou-se.

No texto, Hallal ainda assumiu a responsabilidade da gestão em coibir práticas que passem dos limites do que considera "debate sadio." Para tal, pediu que estudantes e servidores vítimas de qualquer tipo de discriminação contatem a ouvidoria da instituição. Todos os casos serão enviados para a Polícia Federal.

 

Confira abaixo a nota do reitor da UFPel, Pedro Hallal, após as pichações registradas no campus Anglo:

Ontem, postei uma mensagem clamando por tolerância na Universidade Federal de Pelotas. Milhares de pessoas reagiram ao texto, de forma positiva. O objetivo era passar uma mensagem de democracia, amor, tolerância e paz no ambiente universitário. Apesar do conteúdo pacificador, o texto deixava explícito que racismo e homofobia não seriam aceitos na UFPel.

Menos de 24 horas depois, um dos banheiros do Campus Anglo apareceu com as pichações expostas nessa postagem. Em primeiro lugar, é necessário separar didaticamente o debate ideológico do crime. Racismo e homofobia são crimes previstos na legislação brasileira. Por isso, o banheiro foi isolado, a Polícia Federal foi acionada, e a UFPel fará tudo que estiver ao seu alcance para punir os responsáveis por tais violências. Coleta de digitais e análise das câmeras de segurança já foram inciadas.

Tendo em vista que um alusão ao presidente eleito foi feita numa das pichações, enviei o material diretamente para a equipe de transição do governo federal, solicitando posicionamento sobre o tema.

Dito isso, é importante saber um pouco mais das políticas da UFPel em relação às pautas de igualdade racial e de gênero, para que não restem dúvidas de que uma Universidade sustentada pelos impostos de milhões de brasileiros e brasileiras, deve servir aos interesses de todos, e não apenas de alguns.

1. A UFPel foi a segunda Universidade federal brasileira a implantar uma politica de cotas em todos os seus programas de pós-graduação. Essa politica é necessária para garantir que, no futuro, não só o número de estudantes da UFPel reproduza a distribuição racial da população pelotense e brasileira, mas também o número de professores e técnicos-administrativos negros também o faça.

2. A UFPel realizou recentemente o seu primeiro edital para refugiados, no caso senegaleses, deixando bastante explícita sua posição de que está de portas abertas para a diversidade, e que tem compromisso em proteger as populações mais vulneráveis que habitam o nosso país.

3. A UFPel, para 2019, duplicou o número de vagas no edital especial para estudantes indígenas e quilombolas, reforçando mais uma vez que a UFPel, sustentada pelo povo brasileiro, não é lugar exclusivo para uma elite econômica.

4. A UFPel implementou uma política de acesso via PAVE, na qual 90% das vagas serão para estudantes que cursaram o ensino médio em escolas públicas, reproduzindo com exatidão a distribuição dos estudantes de ensino médio da cidade e do país.

5. A UFPel foi uma das universidades pioneiras no Brasil na criação e consolidação de uma comissão para aferir as auto declarações étnico-raciais, garantindo que as vagas para negros na Universidade sejam ocupadas exclusivamente por pessoas pretas ou pardas, conforme determinado pela legislação vigente.

6. A UFPel possui uma instância administrativa, o Núcleo de Gênero e Diversidade, responsável por trabalhar as pautas de gênero sob os pontos de vista: (a) educativo, por meio da oferta de disciplina abordando a temática de gênero no banco universal; (b) informativo, liderando campanhas contra a discriminação, a homofobia e o assédio; (c) comunicativo, organizando eventos para debate das pautas mais relevantes no campo de gênero e diversidade; (d) do acolhimento aos estudantes e servidores vítimas de qualquer tipo de preconceito na UFPel.

7. Fora do âmbito administrativo, a UFPel possui projetos de ensino, pesquisa e extensão no campo de gênero e diversidade, referências para a comunidade acadêmica local, regional e nacional.

8. A UFPel dialoga constantemente com os movimentos sociais ligados às pautas raciais e de gênero, seja com coletivos vinculados à própria Universidade, seja com grupos externos à UFPel.

9. A UFPel recentemente concedeu, em parceria com a UCPel, o título de Doutor Honoris Causa ao Prof. Boaventura de Sousa Santos, um dos maiores pesquisadores e ativistas do campo da igualdade racial e de gênero no mundo, e um incansável defensor da tolerância e da democracia.

10. A administração da UFPel, que sempre será tolerante em relação às divergências de cunho ideológico e político no ambiente da Universidade, não admitirá crimes, violências e ameaças no ambiente universitário.

A Universidade é lugar para o debate de ideias, a liberdade de expressão e a democracia. Racismo e homofobia não serão aceitos na UFPel.

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