Premiação

Arquitetos de Pelotas concorrem em prêmio estadual

O resultado será conhecido na próxima terça-feira (26)

Paulo Rossi -

Três arquitetos pelotenses estão concorrendo em diferentes categorias do Prêmio Arquiteto e Urbanista do Ano, promovido pelo Sindicato dos Arquitetos no Estado do Rio Grande do Sul (Saergs). Pela trajetória de contribuição social, Cassius Baumgarten está concorrendo à categoria Homenagem Athis: Assistência Técnica à Habitação de Interesse Social. Na categoria de Jovem Arquiteto, Matheus Amador disputa o prêmio com outros dois profissionais e Rogério Gutierrez concorre na categoria de Setor Público. A votação foi feita por arquitetos e urbanistas do Rio Grande do Sul, e o resultado será divulgado na próxima terça-feira (26). A cerimônia de entrega de prêmios está marcada para o dia 13 de dezembro.

Conforme o arquiteto Cassius Baumgarten, seu trabalho é norteado pelo cumprimento do direito à moradia adequada a partir da promoção de assistência técnica a pessoas de baixa renda, previsto na lei federal 11.888, de 2008. O profissional desenvolveu, ainda na graduação, um projeto para construção de casas sustentáveis e de baixo custo utilizando paletes. Segundo ele, a participação na disciplina de Habitação e Interesse Social teve grande influência. Na oportunidade, após visitar a periferia de Pelotas, Baumgarten conta que a situação vivenciada pelas famílias o sensibilizou. Desde 2013, três casas já foram construídas, utilizando evoluções do projeto original, e uma está em desenvolvimento, a casa Prisma 2. A moradia é construída a partir de um sistema modular único. Em seguida, a separação dos cômodos é feita utilizando placas de concretícias, de tetra-pack, que une papelão e alumínio, ou de outros materiais, obtidos por meio de doações de empresas, assim como os outros insumos da obra.

Os futuros moradores da residência em construção serão os membros de uma família, composta pelos pais e por dois filhos, que moravam em condições insalubres, em um terreno localizado no bairro Areal. Todo o processo é feito com a participação dos futuros moradores. "É uma construção em conjunto, para que se tenha um aprendizado", afirma, ressaltando que a intenção é promover a assistência técnica juntamente com um serviço social. A renda da família era obtida a partir da venda de material reciclável, coletado nas ruas do município. Antes, um cômodo, construído com pedaços de madeira e telhas era o espaço onde os membros dormiam e conviviam. Com a perda provisória da guarda dos filhos, um dos requisitos era o de construção de uma moradia considerada adequada. Baumgarten lembra de um diálogo que teve com o pai das crianças, que revelou não saber como iria cumprir com a determinação. "Como é que eu vou construir uma casa ganhando R$ 20,00?", cita o arquiteto, lembrando o questionamento feito pelo catador, que havia iniciado a construção de um cômodo no fundo do terreno, que seria igualmente precário.

O caso foi levado ao conhecimento de Baumgarten a partir da assistente social Josana Pires. Ela, que atua na Secretaria de Assistência Social (SAS), conta que um dos problemas presentes entre as crianças era o de evasão escolar, cuja causa era o bullying sofrido em relação a um suposto mau cheiro que apresentavam. Como na antiga residência não havia banheiro, as condições de higiene também eram precárias. "Assim identificamos que o principal problema era a moradia", conta. Ela lembra que, muito além de uma residência, a moradia pode ser o ponto inicial para resolver outras questões que vão desde evasão escolar ate a violência. "Onde o jovem fica quando não está na escola? Em casa? E se não há casa?", questiona.

O custo estimado para a construção da casa é de R$ 7 mil para, em média, 32 m². Os trabalhos são desenvolvidos aos sábados, o que aumenta o tempo de construção, estimado em 30 horas de trabalho corrido. A residência contará com dois quartos, um banheiro e um ambiente integrando sala e cozinha. Esta divisão é feita em conjunto com os moradores, que participam inteiramente do processo, podendo adequá-la às necessidades. No caso da casa Prisma 2, por exemplo, há espaços para a passagem do carrinho utilizado para a recolha do material e para a alocação do conteúdo. A ideia, segundo Cássio, é que, posteriormente, o trabalho possa ser desenvolvido pelos próprios moradores, como a ampliação utilizando outros módulos, contando com a assistência técnica de profissionais. "É um sistema fácil que eles podem aprender", afirma. Além da construção da casa é promovido um trabalho educacional com os adultos, de forma que sejam capacitados a trabalharem melhor a organização do material reciclado. "Também estamos verificando o encaminhamento para uma cooperativa", conta Josana.

Reconhecimento

"Ele é o arquiteto que põe o pé no barro", conta Josana, referindo-se a Baumgarten. Para ela, a indicação é merecida, valorizando o trabalho desenvolvido pelo arquiteto. Ele revela que só soube da indicação por meio de outra pessoa, que afirmou ter votado nele e que o prêmio seria uma forma de reconhecimento, além de poder ser utilizado como inspiração entre outros profissionais, para que desenvolvam trabalhos voltados a quem precisa. "A indicação me motiva para que eu continue com esse trabalho", afirma.

Indicado na categoria que premia profissionais do setor público, o professor aposentado Rogério Gutiérrez atuou por 40 anos como docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Por mais de 20 anos também fez parte do escritório modelo, um trabalho desenvolvido com alunos voltado para a assistência em elaboração de projetos para pessoas de baixa renda. "Era a extensão universitária em um grau extremo", afirma Gutiérrez. Para ele, a experiência ajudou a contribuir com a formação profissional dos estudantes, que vivenciavam realidades em que não estavam acostumados. Sobre a indicação, o arquiteto afirmou estar lisonjeado. "É uma maneira dos mais novos lembrarem."

A trajetória profissional do indicado na categoria de Jovem Arquiteto se iniciou ainda na graduação, trabalhando em um escritório de arquitetura de Pelotas. Formado em 2017, Matheus Amador não sabia que havia sido indicado, até o contato da reportagem. Com 27 anos, o profissional é cofundador de uma empresa que atua na área de arquitetura e computação gráfica, com atuação em cidades gaúchas e de outros estados. "A indicação mostra que estamos no caminho certo", afirma.

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