Crise na saúde
Arrendamento da Santa Casa de Rio Grande é oficializado
Contrato com Instituto Viva Mais será válido por 20 anos
Jô Folha -
A Santa Casa do Rio Grande - com um déficit de aproximadamente R$ 2 milhões por mês - passará a ser administrada pelo Instituto de Medicina Preventiva Viva Mais, uma Organização Social de Espírito Santo que já responde pela gestão de 11 hospitais no Brasil. O arrendamento, firmado por 20 anos, foi oficializado na manhã desta quarta-feira (21), em coletiva à imprensa. Ao se manifestar por cerca de uma hora e meia, o empresário, médico e político mineiro Ruy Muniz assegurou que a instituição "tem jeito" e adiantou que um capital de giro que poderá atingir os R$ 8 milhões por mês ajudaria a garantir o reequilíbrio financeiro da Santa Casa.
Até o dia 15 de dezembro, o Instituto Viva Mais deve assumir os contratos com o Governo do Estado e com os bancos, que engolem em torno de R$ 1,5 milhão que deveriam cair no caixa do hospital, mas todos os meses ficam retidos com financiamentos e dívidas. Para isso, a nova gestão irá revisar todos os contratos e serviços que hoje são oferecidos à comunidade de 22 municípios da região.
O objetivo está definido: renegociar pendências, reduzir custos e ampliar a prestação de serviços. Estratégias que poderiam ser concretizadas, ao considerar que existiriam recursos para barganhar melhores preços e realizar investimentos no hospital. "Temos que sair da condição de reféns e ser protagonistas", enfatizou. Ao afirmar que estão em posição de alerta e de combate, reiterou: "Não é mágica. Será um processo gradual e consistente de gestão". E defendeu ser viável faturar de R$ 7 milhões a R$ 10 milhões por mês com o hospital.
Saiba mais
- Salários: Ruy Muniz garantiu que o pagamento será prioridade. A expectativa é de que duas folhas sejam pagas em um intervalo de 30 dias, para dar início ao processo de zerar o que ficou para trás: atualmente três salários. É uma das grandes demandas dos trabalhadores, que precisam receber em dia para ter motivação para dedicar-se às atividades. A estimativa é de que um prazo de três a seis meses todos os profissionais estejam com o dinheiro a que têm direito no bolso. A folha de pagamento hoje, só dos funcionários, alcança os R$ 3 milhões.
- Funcionários: O replanejamento a ser desencadeado no hospital não deve provocar enxugamento das equipes. Pelo contrário: a expectativa é de que a reativação de alas que hoje atuam abaixo da capacidade possa gerar contratações. Profissionais, como técnicos em Enfermagem, enfermeiros, médicos e farmacêuticos integram a lista de reforços futuros.
É o que a comunidade também aguarda: mais pessoal para agilizar os serviços. "O atendimento é bom, mas acho que tem pouca gente. Às vezes, tá um caos aí dentro. A gente leva uma vida esperando", lamenta a diarista Maura Barbosa, 62.
- Parceria com a Associação de Caridade da Santa Casa: As tratativas entre o Instituto de Medicina Preventiva Viva Mais e a Associação de Caridade Santa Casa do Rio Grande começaram em março deste ano. O fato de um grupo de fora assumir a gestão do hospital não leva à extinção da Associação. Pelo contrato, a entidade passará a receber um aluguel de R$ 500 mil por mês - que permitirão negociar com credores - e permanecerá como responsável pela gestão do cemitério, da funerária e do pensionato, que deverá aumentar o número de idosos acolhidos de 60 para cem pessoas.
Confira alguns números
A Santa Casa do Rio Grande é o maior complexo hospitalar da Metade Sul.
- Cerca de 500 leitos
- 1.495 funcionários; afora o corpo clínico
- Referência a 22 municípios da região. Área de abrangência promete crescer e chegar a 30 cidades
- Cardiologia, oncologia e psiquiatria são algumas das principais especialidades
- Atualmente, até 87% dos serviços são prestados pelo SUS. Com a nova gestão, a estimativa é de que o sistema público responda por, pelo menos, 60% dos atendimentos.
Pronunciamento na defensiva
O mineiro Ruy Muniz, de 58 anos, é médico obstetra, empresário - do ramo da saúde e da educação - e também político. Já foi vereador, deputado estadual e prefeito de Montes Claros. Ontem, antes mesmo de aberta a coletiva, Muniz adotou a tática de se antecipar às perguntas que, por certo, viriam e tratou de se pronunciar sobre a prisão ocorrida em 18 de abril de 2016; um dia depois de a esposa, a deputada Raquel Muniz (PSD) votar a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e enaltecer a atuação do marido como chefe do Executivo de Montes Claros.
Por mais de uma vez - também quando se referiu ao fato de ter ficado sem vice na chapa, a 13 dias do pleito para tentar a reeleição, em 2016 -, Ruy Muniz garantiu ter sido vítima de armações que buscavam prejudicá-lo politicamente. E para argumentar o porquê a comunidade deveria confiar nas suas intenções, mencionou projetos desenvolvidos enquanto prefeito, falou na recuperação de hospitais e destacou as 174 escolas administradas pelo grupo - parte delas criadas e outras adquiridas em dificuldades - que resultam no pagamento de mensalidade de 115 mil alunos no país.
"Eu sou um sonhador. Eu sonho em ser presidente do Brasil e não é maluquice. E se eu fosse presidente do Brasil, eu daria conta". reforçou. E garantiu que fará gestão com transparência na Santa Casa de Rio Grande. "Não sou mágico. Não tenho varinha de condão. Eu tenho capacidade de trabalho, inteligência, articulação e sou sério pra caramba", sustentou. "Vai dar resultado, gente. Eu não venho para ser derrotado. Eu venho para ser vitorioso e somar com vocês".
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