Vida

Artista pelotense supera adversidades

Aos 32 e sem movimentos do corpo, ele pinta com o pincel na boca; obras da exposição Arte e superação ficam à disposição do público até 8 de março no Corredor-Arte do HE/UFPel

Carlos Queiroz -

Cada traço exibido nas telas é feito de forma inspiradora. Por trás de cada quadro concluído, há a concentração de um artista que nunca deu ouvidos aos “nãos” que levou por criar suas obras de forma diferente. João Filipe da Silva Rodrigues, 32, encontrou na consequência da paralisia cerebral uma forma de exaltar a arte. Sem os movimentos do corpo, é entre os dentes que o pincel é encaixado. E com os movimentos dos lábios nascem as paisagens históricas que ganham o valor da superação. Seu trabalho evolui junto ao auxílio da mãe que faz jus à função. Ela, Irene Mesquita, 56, passa o pincel na tinta, troca se necessário, fica ao lado o tempo que for. “Que cor é agora?”, pergunta. O apoio e incentivo, junto ao talento nato, já espalham seus desenhos por exposições e eventos em Pelotas e região há mais de sete anos.

O ócio do passado foi substituído com muita força de vontade em 2010. Enquanto assistia uma novela na tevê, no fim da tarde, Filipe viu que o personagem responsável por interpretar um artista era um macaco. “Se o macaco pinta eu também posso”, falou em tom de humor.

E foi assim, com uma brincadeira, que aos 25 anos o teste com uma simples têmpera e uma cartolina tornou-se o pontapé inicial para a profissão. Daí, iniciou a busca incessante por um professor que aceitasse lhe orientar. Tarefa difícil, mas não impossível.

Foi na Dekorart, com a professora Eneida Martins, que a vontade se mostrou maior que a paralisia. Hoje, o momento é de relembrar toda a ajuda que a comunidade e algumas empresas privadas ofereceram para incentivar a carreira do artista que nunca para. Na cadeira de rodas que conseguiu através de doações, ele se desloca do bairro Areal ao Sest/Senat. Irene conduz e oferece a ajuda nas duas vezes por semana destinadas às atividades - fora a dedicação nas atividades cotidianas.

Se não está pintando, no restante do tempo o artista gosta de assistir programas de jornalismo local que passam na televisão. São através deles que surgem as oportunidades de eventos para expor suas obras. Todo mês é possível arrecadar um dinheiro a fim de manter a compra do material utilizado - com mais ênfase nos pincéis que quebram com facilidade por conta da saliva. Dessa forma, ele mantém uma vida simples, contando sempre com a ajuda da população. Afinal, a compra dos quadros é essencial para que o artista tenha a oportunidade de continuar seu trabalho.

Às mãos estendidas, gratidão
Quando a concentração está voltada ao quadro, não há nada que lhe tire o foco. Filipe fica cerca de três horas com a atenção nas telas e, com isso, já produziu mais de cem delas. “Eu me desligo do mundo”, conta. Irene diz que fica 24 horas ao seu lado, mas é tudo feito “no tempo dele”. Mas seus resultados são intensamente ligados ao tamanho de sua gratidão pelas mãos que lhe foram estendidas ao longo dos anos. O nome da coordenadora Fabiane e do diretor Roger, que o acompanham atualmente no Sest/Senat, é mencionado diversas vezes durante a entrevista. No entanto, à mãe dedica uma forma simples e carinhosa de agradecer e descrevê-la: “A mãe? A mãe é dez”.

Arte e superação
Este é o nome do evento em que as obras do artista estão expostas até o dia 8 de março, no Corredor Arte do Hospital-Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel). Ela pode ser visitada das 7h às 22h nos dias de semana. Todas as telas estão à venda. Encomendas podem ser feitas através dos números (53) 8142-1161 e (53) 3228-3673. O Corredor Arte fica na rua Professor Araújo, 538.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Academias ao ar livre vão sair do papel, garante prefeitura Anterior

Academias ao ar livre vão sair do papel, garante prefeitura

Escritor, psiquiatra e professor se apresenta no Theatro Guarany Próximo

Escritor, psiquiatra e professor se apresenta no Theatro Guarany

Deixe seu comentário