Debate
Audiência abordará o uso terapêutico da cannabis
Evento neste domingo (03) na Câmara de Vereadores discutirá benefícios medicinais da planta
Divulgação -
Pai de Yasmin, 11 anos, Norberto Koppes Cruz convivia diariamente com as dificuldades que o autismo causa na filha. Era normal, mais de uma vez por dia, Yasmin sofrer com surtos, quedas e lesões na cabeça por conta da epilepsia refratária. Os anticonvulsionantes, por sua vez, resultavam em efeitos colaterais indesejáveis. Há dois anos, ele testou um novo tratamento. Desde então, as convulsões têm se tornado cada vez mais esporádicas e a filha voltou a ser alegre. O caso tem um problema: a medicação é composta à base de cannabidiol, substância de uso proibido no Brasil. Debater a importância da liberação do uso medicinal da planta cannabis é o tema de audiência pública que ocorre neste domingo (3), às 15h, no plenário da Câmara de Vereadores de Pelotas, em proposta do vereador Ivan Duarte (PT).
O evento terá participação médica Eliane Nunes. PhD em Psiquiatria, Psicanálise e Medicina Canabinoide, ela dirige atualmente a Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis. O órgão é formado por médicos prescritores e pesquisadores da cannabis medicinal interessados na promoção, consolidação e expansão da pesquisa científica no assunto. Eliane é especialista em dependência química pela Universidade de São Paulo (USP) e estuda desde 2014 o uso terapêutico do cannabidiol.
É desde 2015 que a Anvisa autoriza a prescrição médica da cannabis. No último junho, o neurologista Eduardo Faveret, diretor do Centro de Epilepsia do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, afirmou à Agência Brasil que "não há dúvidas de que a demanda continuará crescendo cada vez mais." O problema é a aquisição do medicamento, que pode custar até R$ 13 mil mensais vindo dos Estados Unidos. A saída é conseguir, de forma ilegal, através do vizinho Uruguai. É isso que faz Norberto Koppes Cruz. "Certo ou errado, não entra em questão, o que importa é a saúde da minha filha", afirma.
À AB, Faveret explicou que as duas substâncias mais estudadas, atualmente, são o cannabidiol e o tetraidrocanabinol (THC). Ambas já possuem reconhecidos efeitos ansiolíticos, antidepressivos e anti-inflamatórios. "Mas há outras. Há um arsenal terapêutico de canabinoides e terpenos. E isso varia de planta para planta. Tem cannabis que é rica em canabidiol, outras em THC", disse, destacando avanços na neurologia e na oncologia.
O reconhecimento científico é comprovado com os benefícios na vida da menina Yasmin e também na de Rafael. Filho do representante comercial Sidnei Garcia, ele possui Síndrome de Williams e autismo severo, exatamente pela associação com a doença. A rotina da família de Rafael é intensa, com cuidados que começam logo cedo e não cessam à noite por conta da hiperatividade e a autoagressão. O uso de cannabidiol, comenta Garcia, tem auxiliado na questão da agressividade. "Acalma ele bastante e não causa os efeitos colaterais dos alopatas. Ele também consegue perceber o mundo ao redor. É mais qualidade de vida."
Para aproximar interessados no assunto do uso medicinal da planta, o pai de Rafael criou o Instituto Ânanda. Ela surgiu junto de estudos e pesquisas da UFPel e da UCPel relacionados ao cannabidiol e tem como objetivo dar foça à causa e prestar auxílio aos pais de crianças que poderiam ser beneficiados pelo tratamento. Entre os participantes está Norberto Koppes Cruz. Ele quer que cada vez mais pessoas possam ter acesso ao sentimento que tem ao ver a evolução de Yasmin. "A menina é outra criança. É alegre, deixou de ser apática e de ter as convulsões. Fala, canta, interage."
O uso de idosos também em debate
O uso de canabinoides na população idosa para fins medicinais foi tema de um debate na manhã dessa sexta-feira, promovido no Rio de Janeiro pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Com possíveis benefícios em tratamentos contra dor crônica, demência e outros problemas comuns em idosos, o uso terapêutico tem sua discussão atravessada por expectativas e preconceitos, avaliam os pesquisadores, que defendem uma abordagem científica do assunto. Médico do Centro de Demência de Alzheimer do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB-UFRJ), Ivan Abdalla apresentou estudos internacionais sobre canabinoides e demência que apontam a necessidade de aprofundar o tema antes de prescrever ou afastar de vez essa hipótese. (Por Vinícius Lisboa, da Agência Brasil)
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