Projeção
Aulas devem iniciar sem todos vacinados
Agendamento das doses infantis indica datas disponíveis somente para depois do início do ano letivo
Jô Folha -
Desde que foi ampliada a vacina para crianças de cinco a 11 anos de idade em Pelotas, no dia 27 de janeiro, a corrida ao site da prefeitura para o agendamento é grande. As perspectivas para a imunização imediata, no entanto, são poucas. Pais que procuram pelo serviço têm relatado a necessidade de várias tentativas até a marcação da data e horário.
Mesmo assim, os dias disponíveis apontados pelo sistema têm sido após o início do ano letivo, previsto para o dia 14 deste mês na rede privada e 23 na rede pública. A preocupação com uma possível insegurança sanitária na volta às aulas chegou até o Conselho Tutelar, que encaminhou requerimento ao Ministério Público pedindo providências.
No início da noite desta quinta-feira (3), a prefeitura divulgou que novos agendamentos poderão ser realizados a partir do dia 9 devido à chegada de novas doses dos imunizantes. A insatisfação pode ser notada nas próprias redes sociais da prefeitura. Em uma das publicações, até esta quinta (3) havia mais de 800 comentários sobre a dificuldade de agendamento. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), até o momento Pelotas recebeu 5,1 mil doses infantis e estava no aguardo de mais imunizantes.
“Toda nossa família teve Covid em janeiro, menos a Rafaela [seis anos] e a nossa principal preocupação é com o retorno das aulas. Estamos pensando em ir em outra cidade para tentar imunizá-la. Nunca se sabe. O vírus é um ponto de interrogação”, diz o pai, Márcio Santos. Ângela Roloff Flores, 43, afirma ter tentado em todos os seis locais agendar a vacina para o pequeno Gabriel, de oito anos. Consegui apenas para o final de março.
Já a técnica em enfermagem Rafaela Fuentes dos Santos, 40, que atua na testagem no Pronto-Socorro pediátrico, demonstra preocupação com o contágio entre os mais jovens. Conforme o painel Covid-19 da prefeitura, apenas nesta quinta foram 36 contaminações de crianças com idades entre sete meses e 11 anos.
“Eu consegui agendar para o dia 18 de março para a minha filha Luiza, depois de ficar uma semana tentando, pois abrem as opções, mas quando aparecem os horários estão todos lotados”, reclama. Mesmo temendo a propagação do vírus, e a filha tendo rinite, ela terá que levar a pequena para a aula, já que não tem com quem deixá-la.
Sem passaporte
Conforme as autoridades de saúde, pelo fato da vacina contra Covid-19 não estar entre as de aplicação obrigatória, as escolas das redes estadual, municipal e privada não podem exigir passaporte vacinal. As aulas na rede estadual iniciam no dia 21 de fevereiro e, segundo a responsável pela 5ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Alice Szezepanski, as escolas seguem todos os protocolos.
“Não há orientação sobre exigência da carteira de vacinação. É importante saber que não podemos negar acesso dos alunos à escola, em especial se a situação que poderia ser impeditiva não depender dele ou de seus responsáveis. Os pais deverão ser sempre orientados a vacinar seus filhos, inclusive por respeito aos seus filhos e aos outros alunos. Importante saber que esperamos que eles percebam a vacinação como um dever, por lei e por amor, porque não podem negligenciar a saúde de seus filhos”, observa.
A coordenadora ressalta que é possível existir futuramente orientação sobre agenda de apresentação da carteira de vacinação para efetivação da matrícula. “Por enquanto contamos com a consciência dos pais e responsáveis e com a agilidade nas agências de Saúde.”
De acordo com a secretária de Educação e Desporto de Pelotas, Adriane Silveira, a Smed está reunida com as equipes diretivas para definir os protocolos e cuidados para o retorno das aulas, mas a expectativa é a melhor possível, uma vez que o município já iniciou o processo de imunização das crianças a partir dos cinco anos de idade, além de já ter completado o esquema vacinal, com reforços, para a faixa etária dos professores e servidores municipais.
O Sindicato do Ensino Privado do Estado (Sinepe/RS) diz ser favorável à vacinação e entende que, neste momento, o papel das instituições de ensino é conscientizar as famílias para a importância da vacina. “Ainda que os efeitos da Covid-19 não sejam tão agressivos na faixa-etária infantil, quanto maior for o número de pessoas vacinadas, mais rapidamente conseguiremos bloquear a circulação do vírus na população”, avalia o presidente do sindicato, Bruno Eizerik.
Providências
O Conselho Tutelar encaminou na terça-feira à 3ª Promotoria de Justiça Especializada de Pelotas requerimento assinado por quatro integrantes pedindo que medidas sejam tomadas para agilizar a vacinação para que crianças retornem à sala de aula com ciclo vacinal completo. O documento alega desde questões técnicas no sistema de agendamento até o que classifica como má gestão no processo. Os conselheiros criticam a exigência da Declaração de Responsável Legal, não exigida em outras vacinas, e que poderia desmotivar a procura do imunizante.
“Grande parte da zona rural tem difícil acesso à internet e precisam entrar no site, baixar o documento de autorização para preencher e enviar via site. São processos que desestimulam pais e responsáveis”, diz o conselheiro Ronaldo Quadrado. Segundo a assessoria de imprensa do MP, a Promotoria da Infância irá analisar o documento.
O que diz a prefeitura
No começo da noite desta quinta, a prefeitura informou que, com a chegada de novas doses do imunizante pediátrico, foi aberto um novo agendamento para a vacinação das crianças entre cinco e 11 anos e, também, para as que têm comorbidades, deficiência ou as imunossuprimidas. As aplicações podem ser agendadas para o período das 13h30min da quarta-feira (9) até as 15h do dia 21, no site. O quantitativo por dia passou de 220 para 300, aumentando de 10 para 15 crianças atendidas a cada meia hora.
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