Saúde
Blue puerpério pode aumentar durante o isolamento social
Casos mais brandos da depressão pós-parto merecem atenção
Por Flávia Albuquerque, da Agência Brasil
A chegada de um bebê na família é, na maioria das vezes, um momento de felicidade, mas algumas mães podem experimentar a depressão pós-parto, que substitui essa alegria por tristeza e melancolia profundas e interfere até mesmo nos cuidados com o bebê. Em alguns casos mais brandos, mas que merecem a mesma atenção, ocorre o que os médicos e psicólogos chamam de blue puerpério ou baby blues. No caso do primeiro, a depressão pós-parto, pelo menos 5% da população mundial são diagnosticados. Já o blue puerpério atinge 30% dessa população, e as estimativas são de que os casos aumentem durante a quarentena provocada pela pandemia de Covid-19.
A jornalista Silvia Amélia de Araújo, que teve seu primeiro filho poucos dias antes do início do isolamento social, é um exemplo. Moradora de Goiás, foi com o marido para Belo Horizonte poucos dias antes do nascimento do bebê, porque ambos queriam estar perto da família e dos amigos nesse momento tão importante. "Ele nasceu no dia 4 de março e daí a dez dias as visitas deixaram de ser possíveis. Não encontramos praticamente ninguém e voltamos para casa em uma situação tensa".
Silvia conta que teve uma gravidez tranquila, feliz e planejada. O parto foi como queria, mas em meio à pandemia, ela não conseguiu amamentar e isso desencadeou o baby blues no seu caso. "Várias pessoas acharam que pudesse ser depressão, mas a percepção dos profissionais que me atenderam é a de que foi um baby blues mais severo. O que os fez descartar a depressão foi o fato de que eu continuei cuidando do meu filho". Silvia disse estar melhorando a cada dia, mas ainda não se sente totalmente recuperada.
Segundo a jornalista, a frustração de não amamentar o filho foi ampliada pela impossibilidade de procurar ajuda devido ao isolamento e aos riscos de ir a um banco de leite, um hospital ou a uma consulta médica. "É possível que eu não enfrentasse tantas dificuldades com a amamentação se não estivéssemos nesse contexto. Não pude receber uma receita médica de um remédio que estimulasse a produção de leite, não pude ir ao banco de leite receber ajuda. Mas se eu pudesse ter orientação, talvez o resultado fosse diferente", afirmou.
Orientação
O psiquiatra do Departamento de Psicologia da Associação Paulista de Medicina (APM), Kalil Dualib, explicou que o blue puerperal é muito frequente nas mulheres que ficam grávidas pela primeira vez e está altamente associado à insegurança em relação ao desempenho no cuidado com o filho. No período da pandemia, junta-se a isso o temor de se contaminar com o novo coronavírus. "Por isso, imagino que esse número de blue puerperal está subindo muito, porque as mulheres agora têm outra insegurança, que é a transmissão do vírus. Esse quadro não precisa ser medicado, mas sim orientado. Quanto melhor a estrutura da mãe, com auxílio de familiares ou funcionários, melhor lidará com o problema".
A depressão pós-parto é muito mais grave, com um quadro no qual a pessoa perde a energia e o prazer em tudo. Kalil explicou que nessa situação corre-se um risco muito grande porque a mulher não vê sentido em nada, acha que seria uma mãe horrorosa e que seria melhor para o bebê ser cuidado por outra pessoa, havendo até a possibilidade de atentar contra a própria vida ou a da criança.
"Até agora não houve aumento da depressão pós-parto ligada à Covid-19, porque tem uma característica mais genética. Nesse caso é preciso ser detectado precocemente e medicado, colocar acompanhante 24 horas. É um quadro que exige muita atenção. Quem já teve depressão tem que tomar mais cuidado e ficar mais atento aos sinais. A parte hormonal também pode gerar um quadro depressivo", explicou.
O psiquiatra orienta as mulheres em tratamento para depressão a avisar seu médico imediatamente ao saberem que estão grávidas, porque nesses casos é preciso adequar a medicação e nunca interromper por conta própria. "A maior parte dos antidepressivos é muito segura. se necessário ser usado na gestação. Há dois ou três que não podem ser usados", disse. Ele lembrou que a gravidez é um fator protetor contra a depressão, devido aos hormônios desencadeados a partir do terceiro mês de gestação.
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