Na manhã deste sábado (23), os guarda-vidas militares Leandro da Cruz Machado, 38, e Luís Orlando Moura dos Santos, 29, receberam Comenda do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio Grande do Sul das mãos do governador do Estado, Eduardo Leite, em cerimônia com a presença de outras autoridades civis e militares, familiares e amigos. O evento ocorreu na Estação Verão do Sesc do Laranjal, em Pelotas. Os dois soldados foram homenageados pelo salvamento de dois tripulantes de um barco a vela que naufragaram na Lagoa dos Patos, próximo no Saco do Laranjal, próximo à Barra do Canal São Gonçalo. A cerimônia foi promovida pelo 3º Batalhão de Bombeiro Militar.

O arriscado salvamento ocorreu no dia 11 deste mês, há quase três quilômetros da praia do Laranjal, em meio a uma tempestade com muita chuva, vento forte, granizo e raios. O evento foi relatado por um dos velejadores, o professor Fábio Amaro da Silveira Duval, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em carta aberta Comandante-Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul, Coronel César Eduardo Bonfanti, que também prestigiou a cerimônia de homenagens.

O relato de Duval foi encaminhado para o governador que de imediato aprovou a condecoração aos dois soldados. Ainda emocionado com a atuação heroica dos bombeiros, o professor adjetivou de "tarefa hercúlea" a ação dos profissionais que tirou ele o também professor Rodrigo Duque Estrada das águas da lagoa. "Velejo desde os seis anos e foi a primeira vez que passei por algo assim", comentou.

A carta de Duval, que emociona a quem lê, relata que a ação se deu em meio a uma tempestade tão forte que impossibilitava qualquer visão da costa. Na tarde daquela segunda-feira, dia 11, os velejadores foram surpreendidos por brusca mudança de vento e uma tempestade que provocou a quebra do convés do barco na altura da enora o que ocasionou a derrubada do mastro.

Imediatamente Duval, por telefone celular, entrou em contato com a mãe dele e pediu que ela acionasse um resgate via Corpo de Bombeiros. Porém logo a seguir o mesmo aparelho caiu na água impossibilitando qualquer outro contato com a terra. "Até aquele momento eu não estava muito preocupado porque imaginei que viesse alguém para nos ajudar."

Da guarita os dois salva-vidas viram que o barco encontrava-se com dificuldade e resolveram ir ao encontro dos velejadores. O soldado Cruz lembra que o trabalho do salva-vidas não inclui ajudar embarcações e sim proteger os banhistas, mas situação pedia uma ação. "Fomos até lá com a intenção de acalmar os velejadores enquanto esperássemos por ajuda, até porque nosso equipamento não é apropriado para esse tipo de salvamento", fala Cruz.

Na ida até o barco os salva-vidas, em caiaques, enfrentaram a primeira tempestade. Quando se aproximaram perceberam a situação de alto risco dos velejadores e resolveram fazer a travessia de volta rebocando o barco. "Não poderíamos ficar lá e nem deixar eles para trás, por isso resolvamos rebocar", lembra Cruz.

Os caiaques foram amarrados em fila indiana ao veleiro da classe Laser, que começava a afundar. A remo os bombeiros começaram a travessia de volta a costa. Porém uma segunda tempestade os apanhou e a orla desapareceu.

O soldado Cruz, policial integrante do 6º BPM, há quatro anos atua como salva-vidas, já Santos, bombeiro integrante do 3º BBM, ambos em Rio Grande, estreou como guarda-vidas nesta temporada. Com vento, chuva quase cegante, raios caindo para todos os lados, granizo e ondas contra o trabalho deles, os soldados confessam que não sabem de onde tiraram forças para lutar contra toda essa adversidade.

Quando perguntados como sabiam para que lado deveriam remar os soldados lembram que seguiram um longínquo ponto de luz de uma torre de telefonia. Na sua carta Duval lembra que quando chegaram à praia o pai do professor, extremamente agradecido, queria oferecer uma recompensa aos soldados. "Foi quando, com a postura dos verdadeiros heróis, do tipo daqueles que salvam vidas mesmo que às custas das próprias, o soldado Cruz e o Soldado Santos disseram: 'Nossa recompensa é apertar a mão de quem, em segurança, acabamos de salvar...'”, escreveu Duval.

Congratulações e agradecimentos

Na cerimônia deste sábado, o comandante-Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul, Coronel Bonfanti, parabenizou os soldados homenageados e agradeceu a Brigada Militar pela cedência de 342 servidores altamente qualificados para o trabalho nos balneários nesta temporada. Ainda lembrou que a interação dos bombeiros com as suas comunidades tem aumentado no sentido de estimular a prevenção. O que, segundo ele, refletiu na diminuição dos índices de acidentes que exigissem a ação dos salva-vidas.

Bonfanti também lembrou que a corporação aguarda novos equipamentos para a próxima temporada, entre eles 15 moto aquáticas novas, uma delas inclusive será utilizada no Laranjal. 

Presente no ato, o vice-governador e secretário de Segurança, Ranolfo Vieira Júnior, disse que é importante reconhecer e homenagear a dedicação que estes soldados demonstraram em salvar-vidas. "Nada mais nobre do que dedicar a sua vida a salvar a vida de outros, por isso merecem o nosso respeito e aplauso constante", disse a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, na sua fala. Ela ainda comentou que, inspirado por este caso, o Gabinete de Gestão Integrada Municipal (GGIM) vai criar uma medalha para também homenagear servidores como estes.

Por sua vez o governador, Eduardo Leite, contou que ao tomar contato com o relato do professor Duval compreendeu o tamanho da missão que foi feita por aqueles soldados. Lembrou ainda que a homenagem se estendia a todos que se envolvem na segurança pública, que é uma das razões de ser do estado.