Pandemia
Brasil tem 760 mil infectados, aponta estudo da UFPel
Para cada caso confirmado, há outros sete não computados; mais de 25 mil pessoas foram testadas em 90 cidades do país
O número de infectados pelo novo coronavírus no Brasil é cerca de sete vez maior que o identificado pelas autoridades. É o que revela o primeiro inquérito populacional da pesquisa Epicovid19, realizada pelo Centro de Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O levantamento ocorreu entre os dias 14 e 21 de maio e entrevistou e testou 25.025 mil em 90 cidades do país, incluindo 21 capitais.
Nesses 90 municípios, 760 mil pessoas já estiveram ou estão contaminadas, ou seja, possuem anticorpos para a doença. Esse número representa cerca de 1,4% da população somada dessas cidades. Nessas localidades moram mais de 25% da população brasileira, totalizando 54,2 milhões de pessoas. Importante salientar que os dados são um retrato do início do mês de maio, então, agora, o número de contaminados pode ser ainda maior.
Quando comparados os números oficiais com os da pesquisa é possível observar uma grande subestimativa. No dia 13 de maio, véspera do início da pesquisa, essas 90 cidades somadas contabilizavam 104.782 casos confirmados e 7.640 mortes. Por isso, é possível apontar que para cada caso confirmado de coronavírus nessas cidades, existam outros sete casos reais na população.
O reitor da UFPel e coordenador geral da pesquisa, Pedro Hallal, classifica os dados da primeira etapa da pesquisa como preocupantes. “Essas pessoas que têm e não sabem, involuntariamente elas estão transmitindo para outras pessoas e isso faz com que a epidemia siga crescendo”, disse. Outro ponto destacado por Hallal é que, pelos resultados do estudo, a contagem de casos de Covid-19 no Brasil não deve ser mais tratada em milhares, mas sim em milhões.
Por regiões
A diferença dos números em cada região brasileira é marcante. Dos 15 municípios que apresentam maior prevalência da doença, 11 são da região Norte, dois no Nordeste e dois do Sudeste. No Sul, apenas Florianópolis apresentou prevalência superior a 0,5%. No Centro-Oeste, o estudo não encontrou nenhum caso positivo nas nove cidades pesquisadas, entretanto já existem casos e óbitos notificados. Segundo os pesquisadores, “esse resultado confirma o que já vinha sendo sugerido pelas estatísticas oficiais, de que a Região Norte tem o cenário epidemiológico mais preocupante do Brasil”.
Distanciamento Social
O Epicovid-19 também avaliou se o distanciamento social vem sendo cumprido pela população brasileira. Nos estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Santa Catarina, mais de 65% dos entrevistados responderam que ficam em casa todo o tempo ou só saem para atividades essenciais. Em Alagoas, Maranhão e Roraima a taxa não chegou a 50%.
O andamento do estudo
O objetivo inicial era entrevistar 250 pessoas em 133 cidades, porém somente em 90 mais de 200 conseguiram ser testadas, totalizando as 25.025 mil. A representatividade do estudo foi maior nas regiões Sul e Norte. E as que menos participaram foram Nordeste e Centro-Oeste. Segundo a UFPel, os principais motivos que que impossibilitaram completar as 200 entrevistas em 43 das 133 cidades foram as medidas de lockdown, que restringiram a circulação dos pesquisadores, fake news sobre os objetivos da pesquisa, e dificuldades na coordenação e comunicação entre autoridades federais, estaduais e municipais.
Por estado, nesta etapa, Acre, Amapá, Amazonas e Sergipe completaram todas as entrevistas. Já no Mato Grosso (26%), Paraíba (27%), Pernambuco (39%) e Rio Grande do Norte (50%), menos da metade dos testes previstos foram aplicados. Serão realizadas pelo menos mais três inquéritos da Epicovid nacional. O próximo deve começar no dia 5 de junho. Os pesquisadores tentarão novamente testar 33.250 pessoas em 133 cidades de todos os estados.
Pesquisa no RS
Hoje são aguardados os resultados do quarto, e a princípio último, inquérito populacional no Rio Grande do Sul. Os pesquisadores estiveram nas ruas de nove cidades do estado entre os dias 23 e 25 de maio, com a expectativa de testar mais 4,5 mil gaúchos. Com a finalização do estudo, também liderado pela UFPel, 18 mil pessoas terão sido entrevistadas e quatro perguntas respondidas: o percentual de infectados no Estado, a velocidade com que o vírus tem se espalhado, a porcentagem de assintomáticos e a letalidade da Covid-19. A terceira etapa do estudo apontava cerca de 25 mil infectados no RS.
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