Há 100 anos, no dia 1º de junho de 1918, época em que a Faculdade de Direito em Pelotas ainda dava os primeiros passos, foi fundado o Grêmio Acadêmico Jurídico. Posteriormente batizado de Centro Acadêmico Ferreira Vianna (CAFV) - em homenagem ao jurista abolicionista pelotense, um dos redatores da Lei Áurea em 1888 -, a unidade estudantil foi uma das protagonistas na luta pela consolidação da Faculdade de Direito e acompanhou muitos dos maiores acontecimentos políticos da cidade e do país. Nos dias 6, 7 e 8 de junho, a partir das 19h, o CAFV realiza o evento de comemoração. Na iminência do centenário, com muitos documentos históricos que incluem uma carta enviada a Getúlio Vargas e outra recebida de Che Guevara, uma palavra parece ser a chave desta história: luta.

Foi com ajuda da luta estudantil, por exemplo, que em 1929, 17 anos depois da fundação, a Faculdade de Direito teve inaugurado o prédio atual, hoje um ícone arquitetônico da cidade, na rua 3 de Maio. Também com o apoio do então Grêmio Acadêmico Jurídico Ferreira Vianna (alcunha definida em 1930), a Faculdade de Direito de Pelotas foi reconhecida pelo governo federal em 1936. O reconhecimento, aliás, está presente no acervo já catalogado pelo CAFV: uma carta de agradecimento foi enviada ao presidente da época, Getúlio Vargas.

Em 2006, o Centro, em conjunto com os estudantes de História, separou o acervo histórico em pastas anuais. Atualmente, parceria com o curso de Museologia catalogou todos os documentos com o período de 1919 a 1940. Além da carta de Getúlio Vargas, foi encontrada, no meio de uma pilha de folhas, uma carta enviada por estudantes de Direito da Inglaterra, no ano de 1943, convocando todos os países aliados na Segunda Guerra à luta contra o nazismo e o fascismo. Em 1961, o revolucionário argentino Che Guevara aproveitou uma viagem ao Uruguai para deixar uma carta ao CAFV. Cópia está estampada na sede do Centro, mas o documento original foi perdido com o passar dos anos.

Grande parte desta documentação deve ser exposta no evento de comemoração do centenário do Centro Acadêmico, organizado pela gestão atual, Gestão em Movimento. Também como parte das celebrações, vídeos com depoimentos de ex-estudantes que frequentaram o CAFV serão exibidos. Inclusive, a gestão atual está à procura de pessoas que tenham histórias para contar ou documentos e panfletos do Centro que possam ser compartilhados.

Integrante da gestão atual, a estudante do quinto ano Marina Mozzillo de Moura, 22, explica que o evento tem como um dos objetivos resgatar o sentimento de luta nas pessoas. "As pessoas frequentaram o Centro Acadêmico por algum motivo. Queremos, além de construir essa memória, resgatar o sentimento que elas tinham na juventude."

Hoje com 78 anos de idade, o advogado e político pelotense Carlos Alberto Chiarelli, ex-senador e ministro no governo Fernando Collor, fez parte do Centro Acadêmico Ferreira Vianna durante os cinco anos de graduação na Faculdade de Direito, entre 1958 e 1963. Para Chiarelli, o CAFV foi a "maior disciplina" que teve no período. "O debate político era muito intenso. Foi ali que tive a maior construção política e jurídica na graduação. Lembro que trouxemos os dois principais candidatos a presidente em 1960, Jânio Quadros e Henrique Teixeira Lott, para debates aqui na Faculdade", recorda.

Com debates políticos, história de lutas e reivindicações, o CAFV é o primeiro centro acadêmico a atingir o centenário em Pelotas. Fundado em 1918, a história de luta se confunde com a da Faculdade de Direito, fundada em 1912 na cidade. As comemorações do centenário serão no prédio da própria Faculdade, nos dias 6, 7 e 8 de junho, a partir das 19h, com depoimentos de ex-alunos e exibição de cópias dos documentos históricos. Quem fez parte dos 100 anos do Centro e tem histórias para contar pode entrar em contato pelo e-mail [email protected].

No dia a dia dos pelotenses
Dentre as muitas lutas durante estes 100 anos de história, o Centro Acadêmico Ferreira Vianna também marcou a cultura pelotense. Como forma de angariar verbas para o Centro, em 1971 foi criada a Boite Balança, festa realizada no porão do prédio da Faculdade. Posteriormente o nome foi alterado para Boate Sanata, para enfim ser batizada como Boate do Direito, alcunha ainda presente entre muitos pelotenses que recordam das noites no porão do prédio. Com a boate extinta há muitos anos, o CAFV ainda organiza uma edição por ano, como forma de relembrar os tempos áureos. A edição de 2018 ainda está em fase de organização e não tem uma data definida. "Pode ser que haja uma festa em alusão ao centenário", deixa no ar a integrante do CAFV, Marina Mozzillo de Moura.