Alternativa
Camelôs de volta às ruas
Comerciantes abraçam espaço público como alternativa ao fechamento do Pop Center; há projeto para o retorno, mas ainda sem data
Carlos Queiroz -
De volta ao passado: dezenas de bancas com ou sem toldos, dividindo o espaço público e disputando os olhares da clientela. A diferença é que há sete anos os comerciantes possuem um local fixo de trabalho, o Pop Center. Desde março, as portas estão fechadas. Das mais de 500 bancas do shopping popular, cerca de cem foram montadas nas calçadas das ruas Lobo da Costa e Professor Araújo, enquanto o restante está em busca de outras formas para manter o negócio. A gerência do local e o Poder Público não têm estimativa de quando o espaço será reaberto e ambos trabalham com a ideia de um retorno gradual.
Após o fechamento do Pop Center, os permissionários passaram a se organizar nas calçadas do entorno. Para manter o sustento de casa, a saída dos comerciantes é a disputa pela rua. Agora, cada um tem o próprio ponto fixo, com o tamanho semelhante ao interior do local. Depois de dois meses parado, o Carioca, 32 anos, montou uma pequena estrutura com os eletrônicos que vende, produto que trabalha desde que mudou para o RS, em 2008. “A gente tem família em casa, não temos como ficar sem trabalhar”, salienta. O filho, de cinco anos, sofre com um câncer cerebral e precisa semanalmente viajar a Porto Alegre, por conta do tratamento. Ele e a esposa se dividem nos cuidados dentro do hospital, ainda mais rigoroso por conta da pandemia da Covid-19. “Nossa família é a nossa base”, completou.
No início do mês, a entrada para o interior do Pop foi vedada e muitos permissionários não tiveram acesso aos produtos e mercadorias. “Boa parte das minhas coisas está lá dentro, pegando poeira e estragando”, salientou Carioca.
Expostas a sol e chuva, as mercadorias demoram mais a serem vendidas. Outro permissionário que trabalha com eletrônicos estima que o movimentou caiu pela metade. “Estamos matando um leão por dia. É ganhar de dia pra conseguir comer de noite. Ninguém tem dinheiro guardado em casa”, frisou. Ele conta que grande parte dos comerciantes não estão dividindo as calçadas da Lobo da Costa e Professor Araújo. Alguns anunciam os produtos online, enquanto outros estão parados. Ele estimativa que 40% dos negócios não devem reabrir quando a situação normalizar. Isso porque muitos não têm conseguido manter as vendas ativas e, com a reabertura, o aluguel voltará a ser cobrado.
O comerciante, que prefere não se identificar, trabalha há 15 anos como camelô e, depois de passar por tantas mudanças de local e espaços, acredita que esse pode ser um momento de mudança. Um dos principais pedidos dos permissionários é que o valor de aluguel pago mensalmente diminua. “Nós pagamos caro pra manter as bancas. Pro cliente usar o estacionamento e um banheiro, ele paga caro também. Isso precisa mudar”, explica.
Gerência prevê retorno escalonado; prefeitura não tem data à vista
A gerência do Pop Center apresentou um plano de retomada gradual do serviço ao Poder Público Municipal. A ideia é retomar o trabalho com a capacidade reduzida para 50% das bancas e “atendendo todos os protocolos de segurança sanitária até então exigidos à semelhanças dos shoppings da capital do Estado”, explicou a administradora, que também é responsável pelo Shopping Popular de Porto Alegre, reaberto na última semana.
O secretário de Gestão da Cidade e Mobilidade Urbana, Jacques Reydans, alega que a decisão de reabertura, total ou parcial, é complexa. “Depende de muitos fatores, da bandeira da cidade e das estatísticas do município em relação à Covid-19”, afirmou. Quando as portas forem reabertas, a previsão é que os aluguéis dos meses ainda fechado não serão cobrados. Caso o trabalho seja de forma escalonada, o pagamento será correspondente aos dias de uso. Se concretizado o plano enviado pela gerência, as bancas serão divididas em grupos, três dias para cada, com funcionamento de segunda a sábado.
Em Pelotas, 506 bancas estão alocadas no interior do local. A estimativa da gerência é que cerca de cem tendas foram montadas nas ruas, o restante dos trabalhadores está buscando outros meios para manter os negócios. Apesar do espaço ter fechado ainda em março, até o último dia 8 os permissionários podiam acessar as mercadorias e materiais - na data, a gerência do local determinou o fechamento total, alegando seguir o decreto municipal. O titular da SGCMU informou que está em discussão a possibilidade de organização de um dia para que as portas sejam reabertas e os trabalhadores tenham acesso às mercadorias.
Ainda, a Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) analisa a possibilidade de uso da via principal das ruas em questão, a fim de melhor acomodar os permissionários e liberar o trânsito de pedestres nas calçadas. Assim, o trânsito de carros não será permitido.
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