Estilo Saúde

Caminho da tranquilidade

É bom ficar atento aos sintomas da ansiedade para que ela não mude sua rotina

Paulo Rossi -

As provas de um concurso, uma grande compra, o acúmulo de tarefas no trabalho e em casa ou uma mudança de cidade, entre outras, são situações que fogem do cotidiano normal das pessoas e, por vezes, geram uma forte carga emocional relacionada a sentimentos como expectativa e insegurança. Sensações expressas pela ansiedade. Em doses moderadas ela é normal, e assim que as coisas se normalizam ela também desaparece. O problema é quando ela começa a atrapalhar a vida cotidiana, agravando ou desencadeando outras patologias.

Para falar sobre o assunto o caderno Estilo Saúde entrevistou a psiquiatra pelo Departamento de Saúde Mental da UFPel, Lisiane Delazzeri, especialista em Psicoterapia de Orientação Analítica pelo Centro de Estudos Luís Guedes (Hospital de Clínicas de Porto Alegre - UFRGS). “A ansiedade faz parte da vida de qualquer um de nós. Ela passa a ser vista como doença quando os sintomas são recorrentes. Aí começa a ficar difícil para a pessoa sair de casa, dirigir, ir para a escola, ir ao trabalho ou até mesmo permanecer no trabalho. Tem parâmetros que a gente tem de seguir para firmar um diagnóstico. Não é porque a pessoa teve um episódio de ansiedade que ela tem uma doença.”

Diário Popular/Estilo Saúde - O que é ansiedade? Como podemos identificar que estamos sofrendo de quadros de ansiedade? A ansiedade é desencadeada por quais motivos? Os sintomas são os mesmos para diferentes pessoas?

Lisiane Delazzeri - A ansiedade é uma emoção normal, uma reação comum aos estresses do dia a dia. É desencadeada por uma excitação do Sistema Nervoso Central (SNC) frente a uma situação de perigo ou relacionada a algo desconhecido. Como exemplos posso citar uma prova escolar, vestibular, entrevista de emprego, possibilidades de concretizar algo desejado, perdas afetivas, que são suficientes para desencadear situações de ansiedade.

Os sintomas são caracterizados por sudorese, taquicardia (batimento do coração acelerado), náuseas, tremores, tensão muscular, dor de cabeça, sensação de falta de ar, vontade de ir ao banheiro várias vezes (urinar ou evacuar), acompanhados de apreensão, medo, bem como uma certa aceleração do pensamento que leva a uma confusão mental, ou seja, uma dificuldade para pensar (o famoso “deu um branco”). Esses sintomas costumam variar de pessoa para pessoa, e também na sua intensidade, não sendo igual para todas as pessoas. Mas podem estar presentes em todas as idades.

DP/ES - Como diferenciar ansiedade de diferentes doenças, como depressão e síndrome do pânico?

LD - A ansiedade passa a ser vista como doença quando o funcionamento diário da pessoa fica comprometido, apresentando ataques de ansiedade ou medo com muita frequência, prejudicando o trabalho ou o estudo, e até mesmo interferindo no convívio pessoal, por um longo período de tempo (seis meses ou mais). Quanto ao transtorno do pânico, ele faz parte dos transtornos ansiosos, bem como a fobia social e o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Já a depressão difere dos transtornos de ansiedade por apresentar alterações no humor, como tristeza, choro fácil ou falta de energia para as atividades diárias. Mas ela também pode cursar com sintomas ansiosos.

DP/ES - Na atualidade a dose pesada de informação, a maioria negativa, que recebemos pode nos tornar mais ansiosos?

LD - Informações negativas, o excesso de informações ou de tarefas do cotidiano podem gerar mais ansiedade, mas não em todas as pessoas. Geralmente acometem aquelas que tendem a valorizar muito as preocupações, que sofrem por antecipação, tentando controlar o futuro ou os acontecimentos. E não necessariamente essa ansiedade será patológica.

DP/ES - Pessoas que não desgrudam de aparelhos como celular/tablet/computador ficam ou estão mais ansiosas?

LD - Estão mais ansiosas, em busca da informação instantânea, e quando não a obtêm, a ansiedade e a sensação de frustração aumentam, gerando insatisfação e irritabilidade.

DP/ES - Existe algum estudo que designe quem é mais ansioso: mulher ou homem, jovem ou adulto?

LD - Sim, os transtornos de ansiedade configuram entre as doenças psiquiátricas mais comuns, afetando 15% da população aproximadamente. Dentre eles, o transtorno do pânico acomete 3% da população, e é mais comum nas mulheres do que nos homens, especialmente entre a segunda e terceira década da vida. Já o transtorno obsessivo- compulsivo atinge 1% da população.

DP/ES - É verdade que a religião ajuda a acalmar? Pessoas que oram estão menos propensas a ter crises de ansiedade?

LD - A oração ou a meditação são atitudes que levam a pessoa à introspecção, a uma reflexão mais profunda, e que ajudam quem pratica a distanciar os pensamentos negativos e as preocupações do cotidiano, levando à redução da ansiedade.

DP/ES - Medicamentos são indicados em que casos?

LD - Os medicamentos são indicados nos casos de doença estabelecida (transtorno de ansiedade generalizado, TOC, fobia social, entre outras) e se necessário associados à terapia cognitivo-comportamental. Antidepressivos proporcionam ótima resposta. Já os ansiolíticos reduzem a ansiedade, mas devem ser usados com cautela para evitar a dependência. Por isso é sempre fundamental o acompanhamento psiquiátrico.

Considerado por ele mesmo como “uma pessoa ansiosa”, o formando em Ciência da Computação Guilherme Povala, 22, encontrou o seu jeito de lidar com os momentos em que ela aparece com mais força. Um deles está ligado às práticas respiratórias que ele tem aprendido com o Método DeRose, que ele conheceu há cerca de um ano.

Guilherme Povala conta que não faz muito tempo que percebeu a ansiedade tomando as rédeas. Um dos motivos que o fizeram pensar mais sobre o assunto foi quando se deu conta que, por exemplo, não conseguia esperar chegar ao apartamento onde mora para abrir as caixas com encomendas, vindas pelo correio. Um problema que por algum tempo foi só dele, mas quando ele interferiu na correspondência do irmão, viu que estava passando dos limites.

“Uma vez aconteceu isto com o livro do meu irmão. Chegou e já fui abrir para saber se estava tudo certo. Foi aí que percebi que tinha de lidar com isto de outra forma.” O acadêmico conta que nunca procurou ajuda especializada, mas desde então tem tentado se controlar. “As ações que vou tomando tento sempre pensar antes de fazer. Por exemplo, chegou a caixinha do correio, vou esperar chegar até o apartamento, colocar em cima da mesa e depois abrir ou quando é uma coisa que não é só minha (quando compra algo com a namorada, por exemplo), espero até ela chegar em casa para abrirmos juntos”, conta.

Novo olhar
Mas a mudança comportamental também é atribuída às práticas do Método DeRose, que tem dentro da sua estrutura o ensinamento das ferramentas técnicas da filosofia milenar do yôga. Além das posturas corporais, as técnicas respiratórias, a filosofia e meditação auxiliam o praticante a se manter calmo e relaxado, lembra Povala, que foi apresentado ao DeRose casualmente. “Fui fazer uma aula para acompanhar a minha namorada. Descobri ao acaso e hoje faz parte da minha vida.”

O estilo de vida incentivado pelo DeRose, que ajuda administrar o estresse imposto pelo cotidiano, foi ao encontro do que Guilherme Povala precisava. “O método é uma atividade muito introspectiva, tu acabas te conhecendo melhor, aprendendo a lidar contigo mesmo, conseguindo controlar melhor as tuas emoções.”

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