Protestos

Caminhoneiros completam segundo dia de mobilização

Segundo a Polícia Rodoviária Federal na região há cinco pontos de mobilização

Paulo Rossi -

Atualizada às 18h51min para acréscimento de informações

Por: Cintia Piegas e Roberto Giovanaz
[email protected]
*Com informações da Agência Brasil

No final da manhã desta terça-feira (22), alguns postos de gasolina de Pelotas já apresentavam a falta de combustível nas bombas, o que aumentou até o final do dia. O efeito é uma consequência direta da paralisação dos caminhoneiros das rodovias de todo o país. Eles protestam contra o constante aumento de preços dos combustíveis no país em descompasso com os valores recebidos pelos fretes. Na tarde de ontem, já havia registro de falta de combustível em postos no centro e nos bairros de Pelotas. Em reunião da cúpula da Petrobras com o governo federal, ficou decidido um recuo nos preços em quatro centavos - a medida não agradou os caminhoneiros ouvidos pela reportagem. Há pontos de paralisação em sete municípios da região.

Um anúncio no final da tarde de ontem sinalizou uma possível redução na Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre os combustíveis. O tributo pode reduzir o valor final tanto da gasolina como do diesel. “Em acordo com o ministro da Fazenda, acertamos que a Cide será zerada com o objetivo de reduzir o preço da gasolina e do diesel", escreveu Eunício Oliveira, presidente do Senado, nas redes sociais. A medida, articulada entre o Congresso e o Ministério da Fazenda, surpreendeu em função da declaração do governo no mesmo dia afirmando que a possibilidade de diminuir tributos estava praticamente descartada pelo governo.

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Na BR-392, em Pelotas, há cerca de 200 caminhões parados. (Foto: Paulo Rossi - DP)

Filas começavam a se formar para garantir o tanque cheio em diversos estabelecimentos da cidade. Em alguns, cones já estavam na frente das bombas de abastecimento sinalizando que não havia mais combustível. De acordo com o presidente do Sindipetro de Pelotas, Henrique Moreira, que representa os postos de gasolina, com a parada muitos estabelecimentos já começam a apresentar a falta do produto. "Alguns já estão com o estoque no fim, porque é reposto diariamente ou uma média de três vezes por semana, e como começou a aumentar a procura e não chega novos caminhões, já está faltando em alguns locais", informou no final da tarde. Moreira ainda reforçou que não há indicativo ou previsão para voltar a normalidade.

O gerente Luiz Shaun, Posto do Bubi, diz que não há previsão de chegada de mais combustível e os caminhões estariam parados nas rodovias. O estabelecimento já enfrentava falta de combustível no final da manhã de ontem. Já no Posto do Guga, no Laranjal, as bombas de álcool e gasolina já estavam secas, restando apenas diesel, e no Posto Corrientes, havia falta de gasolina comum.

Estoque e emergência
O taxista Luciano Lopes encheu galões e reuniu cerca de 200 litros de gasolina na carroceria da camionete. "A gente precisa garantir, né?" comentou. O combustível será utilizado em dois veículos para trabalhar até o próximo final de semana. "Os dois funcionam 24h, então precisa de bastante combustível pra não parar", disse, enquanto carregava galões. O casal de aposentados Derni Laneira e Lucia Bastos, moradores do Barro Duro, abasteceram alguns litros para ir até o centro e depois guardariam o veículo. "Quando voltar pra casa, pra sair de carro só numa emergência", relatou Lucia.

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Postos registraram grande movimentação nesta terça-feira e alguns já estão sem combustível. (Foto: Paulo Rossi - DP)

"Estamos falidos", dizem caminhoneiros
Nas rodovias da zona sul há pontos de paralisação dos caminhoneiros em Pelotas, Rio Grande, Canguçu, Turuçu, Cristal, Jaguarão e Santa Vitória do Palmar segundo informações repassadas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Ecosul. Os motoristas estão localizados nas áreas internas de postos de combustíveis, onde motoristas de caminhões voluntariamente estão parando. Os veículos de passeio tem passagem liberada em todos os pontos. Os locais são monitorados pela PRF e pela Ecosul. Há paralisação em 21 estados brasileiros, segundo a PRF.

"Estamos falidos", é a primeira frase de Clauton Maurício, caminhoneiro parado na BR-392. Ele diz que a situação é insustentável. O movimento era pacífico e, segundo os caminhoneiros, a adesão ao movimento era voluntária. Cerca de 200 caminhões estão estacionados no trecho duplicado que ainda não está liberado para trânsito, além de pátios de postos de combustível. "As pessoas agora vão sentir a importância dos caminhoneiros para o Brasil", disse Paulo Funari, também estacionado no local. Perguntados sobre a medida de reduzir em quatro centavos o preço do litro de combustível, eles endurecem: "Estão achando que a gente é bobo?", protestou um mais exaltado.

Governo não deve mudar política de preços
Os ministros da Fazenda, Eduardo Guardia, e de Minas Energia, Moreira Franco, se reuniram ontem com o presidente da Petrobras, Pedro Parente, para uma conversa técnica sobre o preço dos combustíveis. Na saída, Parente disse que se quer foi cogitada uma mudança na política internacional de preços dos combustíveis. Para hoje, a estatal anunciou a redução nos valores do diesel em 1,69% e na gasolina, em 1,93%, nas refinarias. Com isso, o valor da gasolina cai de R$2,0867 para R$2,0433, enquanto o diesel cai de R$2,3716 para R$2,3351.

"Na abertura da reunião, foi logo esclarecido que de maneira nenhuma o objetivo seria o governo pedir qualquer mudança na política de preços da Petrobras", disse, informando que os reajustes estão relacionados aos preços internacionais e ao câmbio. "A redução de hoje é simples de entender: houve uma redução importante de câmbio. É a prova de que essa política tanto funciona na direção de subir os preços quanto de cair os preços", complementou. Parente evitou falar sobre eventuais medidas que o governo possa adotar para reduzir os preços dos combustíveis, como mudanças na tributação.

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Há registro de falta de combustível em diversos bairros de Pelotas (Foto: Paulo Rossi - DP)

Produtos apodrecem na carroceria
O Sindicato da Indústrias de Laticínios do RS (Sindilat) emitiu uma nota sobre cargas de produtos perecíveis que já estariam comprometendo atividades das fábricas ontem. "Sem a liberação dos veículos, os laticínios gaúchos ficam impossibilitados de realizar a captação de 12,6 milhões de litros de cru em 65 mil propriedades rurais do Rio Grande do Sul", diz a nota. Caso os caminhões não obedeçam o prazo de entrega, os produtos deverão ser descartados.

O sindicato informou que, durante a tarde de ontem, ingressaria na justiça para ter o liberdade de trânsito nas rodovias do RS. Outra entidade que se manifestou foi a Associação Brasileira de Proteína Animal, alertando sobre cargas de animais vivos, de insumos e alimentos, além de produtos para consumo e exportação, o que pode até, como informa a nota, dificultar o acesso ao produto em gôndolas para consumidores brasileiros.

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