Mobilização

Caso de bullying em Pelotas motiva campanha com adesão nacional

Grupo de mães e profissionais se uniram para combater a prática e acolher familiares que estão passando pelo mesmo com as crianças e adolescentes

Foto: Volmer Perez - DP - Nathália Trentin assistiu o filho Henrique, de sete anos, se tornar uma criança ansiosa e introspectiva

Um caso de bullying praticado contra uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), em Pelotas, motivou a criação de uma campanha online de mobilização para o combate dos atos de violência nas escolas. Iniciada recentemente no Estado, com um grupo de 23 mães de estudantes atípicos e três terapeutas, a ação de conscientização social e também de acolhimento, atualmente já conta com a participação de familiares de todo o país. Os diversos relatos expõem os impactos à saúde mental e a qualidade de vida de quem sofreu a agressão.

Nathália Trentin assistiu o filho Henrique, de sete anos, se tornar uma criança ansiosa e introspectiva, características que o menino começou a apresentar após ter sofrido um episódio de bullying no pátio da escola no final do ano passado. Com intimidação e ofensas verbais, um grupo de alunos dois anos mais velhos, cercara a vítima e desferiram também agressões físicas como empurrões. "Colocaram o dedo na cara, inclusive disseram para ele não respirar. O Henrique sempre foi uma criança muito feliz e a partir desse dia ele mudou", conta a advogada.

Além da mudança de comportamento, ao chegar próximo de qualquer pessoa nova, a primeira coisa que o Henrique fazia era contar o ocorrido. O que demonstrava o impacto na vida dele e motivou Nathália a buscar auxílio para prevenir que o mesmo não aconteça com outras crianças. "E eu não posso deixar que ele passe por isso tudo de novo na escola". Foi então que a advogada buscou o médico do menino, o neurologista Carlos Gadia, e sua esposa, Grazi Gadia, que se dedica a trabalhos sociais em prol de pessoas com TEA. "A gente não quer ser ativista, a gente quer ser só mãe porque isso já dá um trabalho enorme, mas precisamos lutar porque os direitos deles não são respeitados".

A campanha

Com a ajuda dos dois profissionais, a campanha foi iniciada nas redes sociais, com a adesão de algumas mães. O propósito tem sido mobilizar os familiares a ensinarem as crianças da importância do respeito ao próximo e do papel que as escolas têm que cumprir de combate ao bullying, assim como de punir os praticantes das infrações. "Nós temos um viés pedagógico de educar as famílias, a conversarem com seus filhos dentro de casa a aprenderem a viver com a diferença, são pessoas diferentes que nós podemos ajudá-los e não julgarmos", diz Grazi.

A publicitária destaca ainda que apesar do propósito de alcançar o máximo possível de pessoas, eles foram surpreendidos com o crescimento rápido da participação da sociedade."A campanha está tocando em trechos bem complicados que aconteceram e acontecem de bullying justamente para impactar", diz. Os relatos são publicados nob Instagram e descrevem os momentos de angústia e sofrimento dos pais diante das agressões que os filhos passaram. Residentes nos Estados Unidos, Grazi e Gadia coordenam o projeto social EyeContact - Lives Shaped by Autism, há 15 anos, e na experiência tratando com a família dos autistas, Grazi conta que as mães também são profundamente impactadas pelas questões dos filhos. "As mães ficam muito ansiosas depois do diagnóstico".

Atualmente há um grupo com as 23 mães embaixadoras e os profissionais de saúde administradores da campanha, assim como um grupo de acolhimento a todos os familiares que queiram ajudar na ação ou buscar amparo diante dos casos de bullying com crianças e adolescentes. Para participar basta seguir o perfil no Instagram: @porumaescolasembullying e solicitar a inserção no direct.

Fundador do Dan Marino Center, um centro especializado no neurodesenvolvimento e no acompanhamento de autistas, o médico gaúcho Carlos Gadia trabalha com crianças com TEA há mais de 25 anos na Flórida. Conforme o especialista, sofrer bullying é uma situação que afeta qualquer indivíduo, mas de forma mais acentuada em neuroatípicos pela forma como eles interpretam o mundo. "As crianças e adolescentes no espectro autista têm menos mecanismos para lidar com esse tipo de situação".

Gadia explica também que na ânsia de se integrarem a grupos e fazerem amizade, crianças como Henrique não percebem segundas intenções em brincadeiras e sutilezas de comunicação que poderiam os colocar em alerta. "Eles tendem a ser muito literais e isso abre para essas pessoas serem vítimas de bullying". Quando vítimas de agressão física, psicológica ou intimidação os neurotípicos têm uma grande dificuldade de superar o acontecimento e retornar às atividades normais que podem envolver o episódio. "Para as crianças dentro do espectro, as coisas são muito definitivas, se hoje foi um dia ruim, agora vai ser sempre assim e isso leva a uma fobia das salas de aulas", destaca.

Conforme a Lei nº 14.811, de 2024, a prática de bullying e cyberbullying é tipificada como crime no Código Penal Brasileiro.


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