Manifesto
Cerca de 450 vozes por uma mesma causa
Caminhada pela rua Gonçalves Chaves reuniu estudantes, professores e integrantes de movimentos sociais; ao chegarem na 5ª CRE, comissão de alunos foi recebida pelo coordenador
Paulo Rossi -
Cerca de 450 pessoas - entre estudantes, professores e integrantes de movimentos sociais - levaram às ruas um mesmo grito, na tarde desta quinta-feira (19): Aluno na rua, Sartori a culpa é tua.
Depois de 50 minutos de caminhada, em apoio à greve na rede estadual de ensino, os jovens conquistaram o objetivo. Foram recebidos pelo titular da 5ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Antônio Carlos Brod, fizeram a entrega de cartas de reivindicações e saíram de lá com a afirmação de que as demandas, principalmente de melhorias na infraestrutura das instituições, serão encaminhadas ao governo, em Porto Alegre.
Em uma conversa de 25 minutos, os estudantes do Ensino Médio falaram nas ocupações - inclusive nas que estão por vir - e enfatizaram: os atos, pacíficos, não devem ser confundidos com vandalismo ou invasões. Pelo contrário, nos movimentos desencadeados desde o começo desta semana, em Pelotas, os alunos têm procurado preservar os ambientes e até mutirões de limpeza foram realizados, como no Instituto de Educação Assis Brasil (IEAB). Em tom de desabafo, como uma das porta-vozes do grupo que permaneceu em frente ao prédio da 5ª CRE, a adolescente Francine de Lima, 16, lançou a indagação: "Até quando vamos ter que botar a boca na rua para o aluno ser valorizado?"
E foi, justamente, para cobrar todas essas respostas, que os jovens se mobilizaram. Bandeiras de escolas e também do Rio Grande do Sul, faixas, cartazes, balões, apitos, tambores e um carro de som ajudaram a fazer ecoar, com e sem áudio, um mesmo recado: Educação não é despesa. É investimento com retorno garantido. Em uma das poucas vezes em que pararam ao longo do percurso - sempre acompanhado pela Brigada Militar (BM) e por agentes de trânsito -, a ressalva foi para que retirassem os narizes de palhaço. Tudo em respeito aos profissionais que, tão dignamente, se dedicam a provocar o riso.
Satisfação
O coordenador do 24º Núcleo do Cpers-Sindicato, Mauro Amaral, destacou a participação da comunidade escolar, que coloca a greve dos professores por tempo indeterminado em outro cenário. "Os alunos também estão indo às ruas para denunciar que as escolas estão sem manutenção, que as verbas estão atrasadas e falta material até para as provas e a limpeza, além da falta de funcionários", reitera e garante que o movimento segue em expansão. A estimativa é de que adesão da categoria já passou de 70%, na segunda-feira, para 75%; uma lógica invertida em relação a paralisações anteriores, em que a participação costuma encolher com o passar dos dias.
A posição da 5ª CRE
Ao se pronunciar, o coordenador Antônio Carlos Brod agradeceu a visita dos estudantes, destacou a necessidade de diálogo e assegurou: "Estamos todos do mesmo lado". Brod voltou a mencionar a importância de os 200 dias letivos e as 800 horas, previstos em lei, serem respeitados e enfatizou que a recuperação do conteúdo deve ser efetiva.
O coordenador também defendeu o fato de que as ocupações, além de pacíficas, não devem impedir o livre acesso de alunos e trabalhadores que desejarem entrar e sair das instituições. Por mais de uma vez, Antônio Carlos Brod admitiu a precariedade estrutural da maioria das instituições da rede estadual: "A gente sabe que tá tudo horrível, tudo capenga, mas estamos lutando para conseguir melhorar a situação, mas não é fácil", afirmou, sem desconsiderar a crise financeira de que o governador José Ivo Sartori (PMDB) tanto se queixa.
As muitas vozes na caminhada
- Assis Brasil
- Cassiano do Nascimento
- Santa Rita
- Antônio Leivas Leite
- Monsenhor Queiroz
- Félix da Cunha
- Escola Areal
- Pedro Osório
- Dom João Braga
- Nossa Senhora de Lourdes
- Castelo Branco (Capão do Leão)
Ocupações em alta
Até o começo da noite desta quinta-feira, pelo menos, cem escolas contavam com ocupações de alunos no Rio Grande do Sul; 18 na Zona Sul.
- Pelotas: Instituto de Educação Assis Brasil (IEAB), Colégio Dom João Braga, Escola de Ensino Fundamental Luís Carlos Corrêa da Silva, Cassiano do Nascimento, Monsenhor Queiroz e Félix da Cunha
- Rio Grande: Juvenal Miller, Bibiano de Almeida, Silva Gama, Lilia Neves, Marechal Mascarenhas de Moraes, Getúlio Vargas, Roberto Bastos Tellechea, Lemos Júnior e Augusto Duprat
- Canguçu: Escola Técnica Estadual de Canguçu (Etec)
- Herval: São João Batista
- São José do Norte: São José
(*) Na Escola Marechal Rondon, em Monte Bonito, na colônia de Pelotas, os estudantes do Ensino Médio, do turno da manhã, decidiram deflagrar greve. Uma reunião nos próximos dias deve indicar os rumos da mobilização.
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