Comportamento
Coação na hora de estacionar o veículo
Ação para vender tíquetes na avenida Bento Gonçalves traz medo a quem circula pela região
Carlos Queiroz -
Uma situação que tem se tornado corriqueira constrange e choca quem transita pela avenida Bento Gonçalves, principalmente entre as ruas Professor Doutor Araújo e Santos Dumont. Guardadores posicionados no canteiro central da avenida pedem dinheiro para cuidar carros em área do estacionamento rotativo, dissuadindo o público de pagar os parquímetros, ou tentar vender tíquetes da Área Azul. Por vezes, a abordagem intimidadora gera medo a quem precisa parar por ali.
O trecho tem lojas, farmácias, pizzaria, dois bancos e condomínio habitacional. O fluxo de pessoas é frequente em horário comercial, quando a ação mais acontece. Um comerciante, que preferiu não se identificar, confirma que a coação é voltada principalmente às mulheres sozinhas. No entanto, todos estão passíveis. Enquanto a reportagem conversava com ele, na última quinta-feira à tarde, um cliente entrou reclamando da abordagem. Ele estacionou e, ao abrir a porta do carro, um homem chegou impondo-se e oferecendo tíquete de estacionamento. “Toda vez que eu venho aqui é isso”, queixou-se.
E a ação é comum. Os homens costumam pedir a motoristas que devolvam os tíquetes ainda não expirados antes de partir. Dessa forma, o comércio continua. Relatos também apontam que eles postam-se junto ao parquímetro para dissuadir as pessoas a adquirirem os tíquetes que não os deles. “Eles dizem, deixa que aqui eu cuido”, relatou outra pessoa. Na tarde de quinta, mesmo com a chuva, pelo menos três homens praticavam a ação.
E não é só com quem precisa estacionar ali que a intimidação acontece. A Serttel, empresa responsável pelo estacionamento rotativo em Pelotas, confirma que suas funcionárias já foram ameaçadas ou xingadas diversas vezes ao passar pelo local. A saída passou a ser ir em duplas ou com equipes aos locais onde o ato ocorreu. “As reclamações (do público) também chegam semanalmente”, confirma um funcionário. Além do local citado, a Serttel e a Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) revelam já ter recebido denúncias de ações similares no entorno da praça Coronel Pedro Osório.
A empresa revela que há casos em que o motorista é persuadido a deixar sem tíquete e quando os fiscais colocam o aviso de irregularidade no painel do veículo, o guardador retira. Desta forma, o condutor sequer fica sabendo da notificação. O aviso dura por duas horas e a partir disso o veículo fica passível de multa. Além disso, o valor da notificação fica atrelado à placa do automóvel.
Como parar?
A Serttel estimula seus funcionários a não venderem tíquetes aos cuidadores de carros conhecidos. No entanto, eles podem retirar o papel no parquímetro. Além disso, há um projeto de inserir teclados nas máquinas; assim, o bilhete passaria a ser impresso com a placa do veículo. Mas, para isso, uma adaptação de edital seria necessária. A empresa ressalta que no entorno da praça Coronel Pedro Osório três ex-guardadores possuem permissão para vender tíquetes, uma espécie de posto móvel, mas eles contam com identificação.
O secretário de Transporte e Trânsito do município, Flávio Al Alam, lamenta as ações. Ele diz que abordagens impositivas fogem da alçada de seu departamento, tornando-se uma questão de segurança. Por isso pretende, junto à Secretaria de Segurança Pública (SSP) e à Brigada Militar, traçar ações preventivas, que já surtiram resultados em outros momentos. O titular da SSP, Aldo Bruno Ferreira, confirmou à reportagem o planejamento de ações contínuas no local. Porém, por achar que pode se tratar também de uma questão de assistência social, irá contatar esta pasta para tentar fazer também este tipo de abordagem. Eles estimulam que o público denuncie quando passar pela situação.
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