O camarão já apareceu na Lagoa dos Patos, sendo a grande esperança dos pescadores artesanais das colônias de São José do Norte, Rio Grande, Pelotas e São Lourenço do Sul para garantir renda suficiente para o ano inteiro. Se depender das condições climáticas, vai ter crustáceo para os mais de três mil credenciados para a pesca na região. Mesmo com tanta ansiedade para a abertura da safra, que ocorre oficialmente nesta quarta-feira (1º), os trabalhadores preferem aguardar pelas bênçãos de Nossa Senhora dos Navegantes e de Iemanjá, no dia 2 deste mês, para depois jogar as redes na água.

Quem está na lida há anos prefere não estimar um volume para a safra, pois no ano passado, com água salgada e tempo favorável, a projeção foi alta e a safra acabou sendo frustrante para cerca de 70% dos pescadores na Colônia Z-3. Na terça (31), trabalhadores que preparavam equipamentos diziam ter expectativa de bastante camarão, mas possivelmente com preço baixo pago aos pescadores.

"Estão querendo pagar entre R$ 6 e R$ 7 pelo quilo, o que não dá nem para o litro do óleo diesel", lamenta Adriano Souza, 33. A opinião é compartilhada entre os colegas Leodino Júnior, 40, José Guimarães, 54 e José Vilson Ponte, 44. "A falta de alternativas é por não termos um espaço adequado para o armazenamento do pescado. Com isso, somos obrigados a vender pelo preço que oferecem", explica Guimarães. A queixa vai além e, para os trabalhadores da pesca, quem paga é o consumidor. "Chega a passar por três ou quatro atravessadores até o preço final de R$ 30 pelo quilo", sustentam. Para o grupo, a fábrica de gelo que já existiu na Colônia faz muita falta.

Igor de Oliveira Costa, 43, fazia os últimos arremates na rede de avião, muitas vezes danificada pelo lixo jogado na Lagoa e pelos siris. Ele também reclama da desvalorização na hora de comercializar o crustáceo. "Acho que não vai chegar a R$ 10, pouco para quem tem gastos como o combustível da embarcação." O que pode potencializar o problema, segundo o pescador, é o assoreamento no canal da Divineia, que impede a entrada e saída das embarcações para o transbordo do pescado. Na semana passada a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) informou que a obra começaria em dez dias, data que está sendo muito aguardada pelos trabalhadores.

Festa para comemorar

A abertura da safra do camarão será celebrada em Pelotas e São José do Norte. Na Colônia de Pescadores Z-2, a terceira edição começa às 9h, na praia do Barranco. A programação conta com palestras, apresentações artísticas e distribuição de 150 kits de almoço, com senhas retiradas antecipadamente. Em Pelotas, a presidente da Associação dos Feirantes Pescadores Artesanais de Pelotas (Afpa-Pel), Adriana Chagas, diz que está tudo pronto para a terceira edição do evento, que conta ainda com a organização da Colônia de Pescadores Z-3 e apoio da Emater. A programação terá a entrega de licenças de pesca pelo Sindicato de Pescadores da Colônia Z-3.

"Este é o período mais importante do ano para nós, pois a safra do camarão traz renda rápida para todos aqueles que dependem da pesca", diz Adriana. Ela diz esperar que a população visite a comunidade pesqueira e aprecie a gastronomia local.

Como chegar

Para quem está no centro de Pelotas e deseja adquirir pescado diretamente das peixarias da Z-3, vai precisar percorrer cerca de 20 quilômetros, sendo que 78% é de vias asfaltadas. Mais perto da Colonia, dois trechos são de obras recentes, como o asfaltamento da avenida Pernambuco até a entrada do Totó, que compreende 1,1 quilômetro, incluindo sinalização vertical e horizontal. Melhoria feita através de emenda parlamentar do deputado federal Daniel Trzeciak (PSDB). Ainda pela mata do Totó, o condutor terá pela frente 4,5 quilômetros de chão batido, atualmente bem irregular e com as famosas costeletas que provocam trepidação nos veículos. Já na entrada da Z-3 a via melhora novamente, com 460 metros de pavimentação com blocos, obra feita em 2021 com verba parlamentar destinada pelo deputado federal Dionilso Marcon (PT).

Fiscalização

O presidente do Sindicato de Pescadores da Z-2, em São José do Norte, Irandir Rodrigues, lembra que os pescadores devem sempre carregar a inscrição no Registro Geral da Pesca (RGP) e a Licença Ambiental de Pesca emitida pelo Ibama. "Tivemos uma reunião com os representantes do Instituto para saber quais as normas exigidas, onde tratamos sobre a documentação que já deve estar chegando aos pescadores." Rodrigues está otimista e diz que, se o vento permanecer sudoeste, garante que o camarão se espalhará pela Lagoa. "Vai ter um bom punhado para cada pescador", projeta.

O que pode e o que não pode na captura do camarão:

- É proibido usar redes de arrasto de qualquer natureza: plancha, pauzinho, trolha, caracol, coca ou qualquer outra denominação.
- Não pode ter embarcações pesqueiras com tamanho superior a 12 metros de comprimento total.
- O comprimento da tralha (manga e boca) das redes não poderá ser superior a 15 metros.
- A captura, o transporte e a comercialização de camarão rosa só pode ocorrer se o comprimento total do crustáceo for superior a nove centímetros.